Muse @ Meo Arena: a crónica
Já lá vão duas semanas desde o concerto dos Muse - eu sei, eu sei, a crónica já era devida, mas o tempo anda fugidio...
Os bilhetes estavam comprados desde Setembro, não tanto pelas canções novas - que já por aqui dissemos que não achamos espectaculares - mas sobretudo pelo concerto em si, pelo espectáculo, pelo palco em 360º, pela perfeita harmonia entre música e luzes e projecção vídeo a que os moços já nos habituaram.
Vamos deixar de lado o som manhoso dos microfones - no início, não se ouviam as vozes e com o decorrer da coisa, ficou assim-assim. E as pessoas que insistem em falar sobre tudo e mais alguma coisa durante o espectáculo, como se estivessem no café da esquina. E os barris de cerveja ambulantes que têm uma função mas que incomodam. E aqueles que de repente acham que estão num estádio de futebol e começam a entoar cânticos.
Vamos concentrar-nos no que realmente importa.
Os Muse são provavelmente A banda de estádio dos últimos anos. Já vi alguns concertos ao vivo, outros em gravação, e eles continuam a evoluir, a surpreender, a transformar o momento em verdadeiras experiências sensoriais.
A mestria de Matt na guitarra, de Chris no baixo e de Dom na bateria, é um dado adquirido.
A temática não é novidade mas é actual: a política, a guerra, o capitalismo, o rumo negro dos dias de hoje, as eternas teorias da conspiração - que se calhar não o são assim tanto. A destruição em massa, os cavaleiros do Apocalipse, as marionetas que se libertam das suas amarras, o renascer das cinzas, a esperança por um futuro melhor.
Num cenário destes, as canções ganham outra vida enquanto capítulos de uma história atribulada de amor em tempos de guerra - «love over hate», sempre.
O alinhamento é quase perfeito - as usual.
Os temas «azeiteiros» como "Madness" e "Mercy" são pedaços menos bons de uma história real, em que os estranhos como "Psycho", "Dead Inside" e "The Globalist" que se vão entranhando.
Mas são os antigos que me põem a cantar a plenos pulmões, como "Plug In Baby", "Apocalypse Please" e "Knights Of Cydonia". É "Hysteria" que ainda hoje me causa arrepios e "Time Is Running Out" que continua a deixar-me sem voz.
O espectáculo, esse, é visualmente brilhante. Os drones a pairar sobre as nossas cabeças, o jogo de luzes que acompanha os acordes, o efeito das sombras reflectidas nas telas, as pausas, a história contada nas projecções ao som dos instrumentais intensos.
Tudo prende a nossa atenção do primeiro ao último segundo e é uma luta conseguir acompanhar tudo o que se passa em cima do palco. E fora dele.
Tudo se conjuga para o entusiasmo colectivo.
O tal «uau factor» de que tanto se fala e que teima em não dizer «presente» em muitos eventos do género.
Para mim, é o que torna o concerto numa experiência.
Difícil de descrever, de explicar.
Como se nada fizesse justiça ao que se vê, ao que se vive.
Os concertos dos Muse têm-no.
E é preciso estar lá para sentir.
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