O regresso a Coura e o regresso a "Casa" com os LCD Soundsystem.


Pois é, foi tempo de regressar ao Vodafone Paredes de Coura, ainda que só de passagem, num flash rápido de quem precisava de ir 'apanhar ar' ou no caso viver a musica ali na margem do Tabuão.
(Verdade seja dita que, para mim, foi mais tempo de ir (re)ver os LCD Soundsystem do que de ir ao festival, ainda que, tenha tido uma sensação meio esquisita... entrei no recinto e vi exactamente as mesmas pessoas de ha dois anos, como se tivesse entrado num daqueles túneis espacio-temporais dos filmes de ficção cientifica... Podia ser diferente? Podia, mas ai de certeza que não era eu, já se sabe.)

Mas, à frente, que eu estou aqui para falar de musica. Ou tentar qualquer coisa parecida a isso.


Pois que tentei, tentei muito passar pelos Sleamford Mods (que me pareceram muito mais apetecíveis aqui do que no NOS Alive do ano passado, com direito a pezinho de dança e tudo!). 
Desisti. 
Tentei os Algiers (que também não estavam a ser nada maus).
O caminho foi o mesmo, o da desistência. 
Confesso que só não tentei Shura. 
Não tentei porque estava por demais em pulgas. 
Nada me fazia sentido. Nada me estava a tocar. Porque o meu coração ja não estava a aguentar. Porque eu sabia que o mundo ia mudar a seguir. Que mundo? O meu, pelo menos.

Meia noite e vinte, certinhas, ali ao lado do rio, no escurinho daquele anfiteatro, começam a aparecer no palco Pat Mahoney, Nancy Wang, o resto da malta toda, e ele, o principe encantado mais improvável do mundo, o atormentado e genial James Murphy, aquele que eu achei que nunca mais ia ouvir a tocar (também) para mim.

(Confesso que tenho, desde há muitos anos, uma bonita historia de amor com os LCD Soundsystem, e que, a própria historia da banda se interliga com a minha de formas um tanto ou quanto estranhas. A minha vida tem, com a musica deles, momentos da mais perfeita simbiose, e todas  (sem excepção mesmo!) as suas musicas contam uma coisa qualquer do que eu sou e do que faz parte de mim, Isto faz com que a espera tenha sido desesperante, os anos de ausência tão sentidos como os de alguém que nos faz falta á pele, e o saber que isso ia mudar tenha, de facto, mudado tudo.)

James Murphy chegou, com aquele seu ar de urso panda, despenteado, e tão decidido a mudar tudo como sempre. E isto assim já era do caraças. E ter-se a ousadia de transformar aquele sitio e aquelas duas horas numa qualquer cidade, numa danceteria com direito á bola de cristal e tudo, luzinhas, palavras fortes? E começar isto tudo ao som de "Us vs. Them"? Como se, em vez de terem passado 5 ou 6 anos so tivessem passado 2 ou 3 meses?

Claro que não se esperava menos, mas aquela set-list foi praticamente perfeita. 
E depois do aviso de Mr. Murphy em que éramos nós contra o mundo, continuou a dar tudo, "Daft Punk is playing in My House", "I can Change" "Get Innocuous!" e chega o meu primeiro grande momento lagriminha no canto do olho. "You Wanted a Hit".

(Sim sim sim, sabemos que, num mundo com regras a coisa até faria crer que os LCD Soundsystem não fossem um Hit. Num mundo de robots, de pessoas que não pensam por si, ou daquelas que nem sabiam o que iam ver e que passam o tempo todo a falar e a mandar cotoveladas em concertos. (Fauna muito pouco atractiva que parece que continua a multiplicar-se nos festivais...)Mas contra todas as improbabilidades, contra karmas e coisas que tal não são só um. Thank God.)

Segue a festa. Segue o som, a batida, a bateria de Mahoney sempre ali a marcar o ritmo dos meus pés, os cowbells de Murphy a não parar, Nancy Wang sempre dentro daquela bolha magica e a dar o ar de quem manda... Como era antes. Como vai ser sempre. Há "Tribulations", "Movement", "Yeah" e "Someone Great". 
Isto tudo até chegar "Losing My Edge". 
Onde James Murphy mostra outra vez porque é que eu gosto tanto dele, barafusta, reclama, avisa, e tudo a que tem direito, explica a historia das coisas, e avisa..."Losing My Edge" devia ser aquela musica que toda a gente devia ler, menos menos uma vez na vida. Digo eu.

Chegaria, minutos mais tarde, uma das mais belas canções de desamor do mundo "New York I Love You, But You're Bringing me Down". Com direito a um background novo, a toda a gente de telefone e lâmpadas no ar a cantar como se fosse a única forma de aliviar a dor da voz de James.  (Podia dizer tantas coisas sobre isto... Mas não dá tempo, não ha espaço, nem caracteres que ajudem. Fica sempre o "You're Still The One Pool I Would Happily Drown". Ponto.)

Aqui, ainda pensei que não ia ter direito a "Dance Yrself Clean", porque já estava a ser tudo tão perfeito, que parecia que isto ja era um abuso. Mas veio. Veio ali mesmo antes de "All My Friends", tornando esta a set-list perfeita de que eu falei ali em cima.

(Acho que não podemos contar como fazendo parte disto tudo a musica que ajudou à desmontagem do estaminé, patrocinada pela Sinead O'conor, mas ainda assim do Prince, que ajudou as lagrimas que não tinham caído a acabar o seu caminho. Sim, isto tudo acabou com "Nothing Compares to You".)


Conclusão disto tudo: foi o cenário mais do que perfeito para o regresso dos LCD Soundsystem (depois daqueles 45 minutos meio decadentes patrocinados pelo NOS Alive que não sabe fazer cartazes e acha que as pessoas que vão ver os Pearl Jam ficariam para os ver na ultima vez, ainda que fosse mesmo pela ultima vez...). O cenário mais do que perfeito para o meu próprio regresso. (sabe quem me conhece que eu defendo que a melhor sessão de terapia possível é um belo concerto. E só posso comparar o que ali aconteceu, a intensidade do que aconteceu, ao que eu senti a ver os Arctic Monkeys no SBSR de 2013. Sim Concertina, foi mesmo assim tão grave.)

Sim, aquilo que eu queria mesmo ver, aquilo que me fez ir a Coura, o que me fez mesmo sentido, foi este reencontro altamente improvável com James Murphy e a sua tribo de (excelentes) fazedores de musica. Com James Murphy e a sua orquestra electronica de sentimentos reais. Como se fosse um reencontro com toda uma vida que eu achei que já não voltasse mais...  Encontrei mais do que isso, por mais esquisito que isto pareça, coisas que ainda nem dá para descrever, por mais que ja tenha passado quase uma semana. Coisas que só quem la esteve poderia ter sentido. E a quem pudessem fazer qualquer sentido, de facto.

Perguntei, logo que acabou o concerto, uma coisa, que ainda me atormenta: depois disto, o que será capaz de me arrancar a mesma coisa da alma? 

"... You Wanted it real
But Can You Tell Me What's real?
There's Lights and Sounds and stories
Music's just a part..."

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