Concertinices (e Chavinices) sobre a edição de 2016 do Nos Alive

Nos dias 8,9 e 10 de julho entrámos em modo «Nos Alive».
E, hoje em dia, já toda a gente sabe o que isso significa.
O que para uns será um sacrifício, para outros é apenas um mal necessário. As filas, as enchentes, o elevado número de estrangeiros, os patrocinadores com actividades que só interessam a quem não quer saber da música, o lixo, a oferta gastronómica, a ausência de espaços de descanso. Portanto, não me vou perder em parágrafos sobre a organização em si - a relva sintética dá um toque simpático ao recinto mas é sol de pouca dura. o manto de copos de plástico que se vai criando, dá cabo de qualquer efeito «green» - quando o que interessa é a música.

E nesse aspecto, com o fim da 10ª edição, e alguns dias passados, o balanço é positivo.


É verdade que dizemos sempre «para o ano, se calhar não voltamos» mas o cartaz troca-nos quase sempre as voltas. Porquê? Na maioria dos casos, é a única forma de vermos as bandas e os artistas de que gostamos. Este ano, não foi excepção.

(infelizmente, este ano não deu para tirar férias, logo, algumas coisas que até acompanhamos ficaram pelo caminho, que isto de gerir horário de trabalho com horários festivaleiros não é fácil...)

Dia 1:

Sem grandes nomes apelativos para a gerência, foi sobretudo um dia de reconhecimento. Com um único destaque: o concerto dos Wolf Alice. Na sua estreia em terras lusas, portaram-se muito bem, e o público respondeu da melhor forma. Com apenas um disco na bagagem, "Lisbon" e "Giant Peach" foram os momentos mais marcantes e intensos de um concerto cheio de garra. 

(Antes passamos por John Grant, que já era nosso amigo desde o Primavera Sound de 2013, mas como andávamos à procura de qualquer coisa boa para comer, desistimos e seguimos caminho, tentando ainda passar por Robert Plant, sem sucesso...)

Dia 2:

O dia dos «cromos repetidos» foi também o dia que nos convenceu a comprar o passe. infelizmente, não chegámos a tempo de Jagwar Ma no palco Heineken, pelo que só posso imaginar que tenha sido memorável.

O mesmo não posso dizer do concerto dos Foals no palco Nos. Não foi mau, porque os Foals não dão maus concertos, mas o fim de tarde não é a sua hora mais indicada, fiquei com a sensação que foi «meio a despachar que já se faz tarde», e o alinhamento não foi brilhante - mais uma vez, onde raio anda a "Bad Habit"? E o que lhes deu para não fecharem com Two Steps Twice?

(Chavinices à parte, é com muita pena que senti a falta do SBSR de 2014 e daquele concerto épico dos "meus" Foals. Mas é impressão minha ou Yannis vem sempre meio contrariado? Uma coisa eu tenho que dizer, para mim, aqueles momentos de união da banda, virados uns para os outros, como se aquilo fosse a única coisa que interessa tocam me sempre. E sim, apesar da "pobreza" do resto, foi de dançar como se ninguém estivesse a olhar. O que, no Alive, convenhamos, é difícil.)

A hora de jantar fez-se ao som de Carlão, já a contar os minutos para a hora do culto com Father John Misty. Foi sem dúvida o concerto da noite e muito provavelmente um dos melhores do festival. Íntimo e explosivo, sedutor e provocador, Tillman encarna a personagem com a atitude certa para cada uma das canções, e leva os seus seguidores ao rubro - e porque não ao céu?

(Father John Misty. Sim, foi o meu concerto preferido do Nos Alive 2016. Por tudo e mais alguma coisa. Mas especialmente porque Tillman sabe fazer as coisas mesmo muito bem. E resta-me dizer que eu também lhe dedico o meu mais sentido "I Love You, Honeybear". Podia falar mais sobre isso, mas não há palavras que cheguem. Mesmo com o léxico que nos assiste.)

Em Radiohead não terá sido tanto assim, pelo menos na primeira meia hora. Bem sei que a digressão é para promover o novo disco, mas lançar cinco de seguida logo de início não me pareceu boa ideia, sobretudo quando as canções soam demasiado experimentais. Foi aborrecido.
Só me animei quando ouvi os acordes de "My Iron Lung". A partir daí, o alinhamento foi mais ou menos à medida. Não faltaram os clássicos - que bom que foi ouvir "Exit Music (For A Film)", "Reckoner", "Everything In Its Right Place" e "Karma Police"... Nem as canções que arrepiam e que nos levam de volta aos anos 90 e 2000 - palavras para quê? o encore com "Paranoid Android", "2+2=5" e "There There" foi fabuloso.
E se em 2012, estavam todos à espera de "Creep", e se sentiram defraudados, as preces terão sido ouvidas e a banda redimiu-se. Em 2016, aconteceu: o maior momento de comunhão entre palco e plateia, que terá feito muito boa gente sair do recinto de peito cheio.

Para nós, a noite ainda não tinha terminado. Esperavam-nos os Two Door Cinema Club e os Hot Chip.
Os primeiros, irrepreensíveis numa tenda a rebentar e intransitável, fruto da concentração massiva pós-Radiohead. Os segundos, que não vimos porque se tornou impossível acompanhar o concerto decentemente.

« e não, não vou falar sobre a espera de duas horas e meia por um táxi que nos levasse a casa ... » 

(No meu mais perfeito cor de rosa a mim resta-me perguntar: mas quando é que resolvem esse problema, senhores do Alive? É que já era hora de pedirem aos senhores taxistas de Lisboa que trabalhem nestas alturas, não?!?!?!)

Dia 3:

Como sempre, pontaria afinada para o que interessa: chegámos mesmo a tempo de balançar ao som de "The Funeral" dos Band of Horses.
Porque o que queríamos mesmo mesmo mesmo era ver Arcade Fire.
E que concerto magnífico - sim, eu sei, o som não estava brilhante e muitos dirão que o do Rock in Rio é que foi - mas o alinhamento foi perfeito. Logo a abrir com "Ready To Start", não havia como não abanar o esqueleto desde o primeiro minuto. Seguiram-se "The Suburbs", "Reflektor", "Afterlife", "Keep The Car Running", "No Cars Go", e uma sequência final arrebatadora: "Power Out", "Rebellion (Lies)", "Here Comes The Night Time" e "Wake Up".
Eles foram fantásticos, e eu senti-me a rebentar de felicidade.

«E poderíamos ter ficado por ali, e a noite já estaria ganha. Mas ainda demos um pulinho ao palco Heineken para o fenómeno Grimes, que nos pôs a dançar mais um bocadinho e conquistou quem por lá esteve

Cabe me a mim, acabar de falar nesta "aventura" que a cada ano que passa se torna o NOS Alive. E vou dizer exactamente a mesma coisa que disse na altura a quem me acompanhou.

A música, que devia ser o que leva as pessoas aos festivais, é a única arte capaz de nos fazer mudar a vida inteira em três minutos e qualquer coisa (ou menos ainda!), e que, a mim me faz mais acreditar em magia. O Alive deste ano teve momentos desses, de magia, patrocinados por esta gente toda de que a Concertina falou ali em cima.

O meu? Ainda teve mais uns pozinhos de perlimpimpim deixados pelas pessoas que ajudaram a fazer a (minha) história deste festival. Momentos que não vão dar mais para esquecer.

É disso também se faz um festival. Porque das coisas más não se faz nada!
Pelo menos aqui neste departamento! ;)

Sem comentários:

Imagens de temas por merrymoonmary. Com tecnologia do Blogger.