Super Bock Super Rock 2016: crónica de um festival citadino

Desta vez, foi tempo de rumar ao Super Bock Super Rock (SBSR).
Ainda um pouco desconfiada com a localização, a verdade é que as dúvidas dissiparam-se poucos minutos depois de ter entrado.


Depois do Parque Tejo e do Meco, o SBSR regressou a Lisboa, mais concretamente ao Parque das Nações. E se no ano passado estive relutante em aparecer, este ano, o cartaz apelou aos meus ouvidos e não faltei.

E ainda bem.

Massive Attack, Palco Super Bock Super Rock
Créditos: concertina
O festival é muito mais clean, mais civilizado, tem menos gente (logo menos filas), livre circulação, comida de melhor qualidade, casas de banho em melhores condições, estacionamento e acesso a transportes públicos - o que evita esperas intermináveis por um táxi... Tem diversas zonas de descanso – como souberam bem as escadinhas da meo arena entre concertos e não só! – e Sommersby! (o que para quem não aprecia cerveja, é uma noticia maravilhosa :) )


Ah, e a ideia do copo reutilizável e coleccionável é brilhante e claro, muito mais ecológica.



E os concertos?



Houve de tudo um pouco, bom e menos bom, e houve muitas escolhas conscientes. Confesso que, muitas das vezes, não foi fácil optar, mas posso afirmar que não me arrependo.



Dia 1


Foi na companhia de Benjamim que se deu início ao evento deste ano. 
Com as canções de “Auto-Rádio” a conquistarem a audiência, e uma energia muito simpática para o fim de tarde quente, até AP Braga – que eu conhecia como o tio de uma das minhas melhores amigas – passou pelo palco para nos dar um ar de sua graça.
Acredito que se não tivesse sido algo traído pelo som – problema que se foi verificando ao longo da noite nos vários palcos mas que foi corrigido – teria sido um concerto muito bom. Assim, foi só bom.


Enquanto uns se balançavam ao som dos The Villagers, e outros dançavam ao ritmo dos peixe:avião, a opção foi marcar lugar para o concerto dos The National.

The Temper Trap era a banda em palco e do que pudemos ver, não se saíram nada mal. 


Não duvido que Kurt Vile tenha dado um concerto daqueles mesmo fixe para quem gosta, e Samuel Úria também – mas a noite era dos velhos amigos The National. Apesar de já não ser a primeira vez, de não haver (ainda) muito material novo, a verdade é que o (nosso) amor pela banda americana mantém-se e os coros afinadinhos também.



O alinhamento foi o esperado, com os músicos mais uma vez exímios em palco e Matt Berninger um bocadinho mais controlado – ou seria menos inebriado?


[Diz que à mesma hora, Jamie XX rebentava com o palco EDP. Ainda bem para ele.]


Longe de ter sido um mau concerto, diria antes que foi competente. Talvez esteja a faltar alguma frescura, que é como quem diz, temas novos. 


Como o dia seguinte era dia de trabalho, não houve tempo para os Disclosure, que pela mensagem nas redes sociais, também se divertiram à brava.


Dia 2



Talvez o dia das maiores emoções, os artistas que queria mesmo ver.

A começar com Petite Noir, um gigante em palco, com o seu ritmo meio afro meio indie, quase inclassificável entre a pop, a electrónica e o r&b.
Logo a seguir, KWABS, dono de uma voz arrebatadora e capaz de nos deixar com as emoções à flor da pele, no que foi um momento pop incrível e maravilhoso.


Antes do jantar, tempo para uma breve passagem por Bloc Party, e desde essa altura, o sentimento é de «mixed feelings», como se o tempo deles já tivesse passado. O grupo que veio revolucionar a música indie nos anos 2000 e que criou obras-primas ficará para sempre nos nossos corações. Mas a verdade é que depois do desmembramento nunca mais foi a mesma coisa. E para mim nunca mais voltaram a criar nada de mesmo muito bom. Ainda assim, claro que esteve tudo ao rubro, os clássicos são (e serão) sempre clássicos.



Ao som de Rhye fomos jantar, para depois visitar Iggy Pop. E foi mesmo só uma visita, daquelas de médico. Digam o que disserem, eu não o consigo ouvir. Aquela voz não se encaixa, o aspecto físico também não ajuda, foi muito difícil olhar para a figura do senhor... Ouvi dizer que foi um grande concerto de rock, da velha guarda, mesmo, mas não para mim.


Infelizmente, as alternativas também não eram do meu agrado, de um lado Capitão Fausto - cujo hype eu continuo sem compreender - e Mac de Marco que também não nos motivou.


Era por isso tempo então de marcar lugar para Massive Attack. Os muito aguardados Massive Attack.

E que brutalidade de concerto.

Tao actual que dói, tão real que mexe, tão intenso e marcante que vai ser difícil esquece-lo. Sim, foi a primeira vez que os vi ao vivo e portanto as expectativas estavam altas. Não muito, que andava desconfiada em relação à parceria com os escoceses Young Fathers. Mas eles surpreenderam-me pela forma como interagiram e interpretaram os temas. Houve tempo para músicas novas - as maravilhosas "Ritual Spirit" e "Take It There", com Ezequiel - e o regresso ao passado no encore com "Safe From Harm" e "Unfinished Sympathy" - que foi claramente um sonho tornado realidade.


[Não fosse o cansaço a falar mais alto e ainda teria ido dar uma espreitadela a Lion Babe e a Moullinex.]



Dia 3


O dia do hip-hop, da cultura urbana, à qual não podemos - nem devemos - fugir. Opiniões à parte, o hip-hop e o rap têm hoje o impacto musical e social que o rock terá tido nas últimas décadas. Foi crescendo, melhorando, e conquistando cada vez mais públicos. Até eu, que não ouço nada disto no dia-a-dia, reconheço a qualidade e sobretudo o espectáculo.
Mas vamos lá aos concertos.


A noite era sem dúvida de Kendrick Lamar mas antes disso, os The Parrots, espanhóis da cena indie, abriram as hostilidades com um concerto enérgico e louco.

Kelela foi mais emotiva e bela. Arrepiou quem por lá esteve com a sua voz doce e forte e deixou-nos com vontade de a ver novamente.


Sem grande motivação para Fidlar e Mike El Nite, pausa para jantar. E logo depois, paragem no palco SBSR para um cheirinho de Orelha Negra, até à hora de Capicua, uma das muitas curiosidades do dia.

Foi uma poetisa em palco. O desenhador é um toque visual perfeito, dando outra visão às canções fortes e tão actuais de Capicua. O público respondeu à altura aos apelos e imagino que o final do concerto tenha sido estrondosa.

Mas a Purple Experience aguardava por mim. a homenagem de Moullinex a Prince, revisitando os seus temas maiores, com a ajuda de uma série de convidados. Pontos altos? "Purple Rain" com a colaboração dos Best Youth - a química entre Catarina e Ed é simplesmente mágica e perfeita para o tema. Samuel Úria foi impressionante com o seu falsete e Selma Uamusse rebentou com a escala. Pelo contrário, Marta Ren quase que assassinou uma das minhas músicas preferidas, "When Doves Cry".


A fechar a noite, Kendrick Lamar, o novo príncipe do hip-hop.


[antes, ainda fiz uma escapadinha ao palco edp para a "psicopatria" dos GNR, que não me encheram as medidas.]


Dos lugares cimeiros do balcão, a visão era brutal: Meo Arena à pinha e ao rubro durante duas horas. Um ambiente incrível como há muito não se via, nem imagino como se devem ter sentido os verdadeiros apreciadores. Kendrick e a sua crew mostraram-se imparáveis em palco, sempre a puxar pelo público e a mandar a casa abaixo com os seus temas irreverentes.



Não fosse o calor que se sentia no recinto - que se passou com o ar condicionado, gente da organização? - e a coisa teria sido muito mais animada.

Não sendo fã, não vale a pena entrar em grandes devaneios - o que vos posso dizer é que foi um concerto daqueles mesmo bons, como se fosse em nome próprio.

Som no ponto, artistas envolvidos, público ao rubro, aos gritos e aos saltos - uma bela imagem lá do alto das bancadas.
Uma completa loucura, mas em bom.
Ouvir toda a gente a gritar por Kendrick Lamar foi arrepiante até para mim. As palmas incessantes, e não fosse uns quantos terem achado que aquilo era um estádio de futebol e que o que interessava era a ode ao Éder, a cena teria sido perfeita.


Queimaram-se os últimos cartuchos no palco carlsberg, nada de muito interessante para os nossos ouvidos, por isso foi tempo de fechar a loja.



Contas feitas, as expectativas foram não só cumpridas como superadas.

Foi uma experiência social bem mais animadora que a do Nos Alive, que se reflectiu também a nível musical. O passe foi muito bem gasto e aproveitado, desde o espaço aos palcos, as refeições, aos concertos.
Sem dúvida que o concerto dos Massive Attack ficará por muitos e muitos anos como o meu momento maior de toda a edição SBSR 2016.


Se conto voltar? Provavelmente.
Veremos que outras memórias e momentos nos trará a próxima edição! :)

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