Ao Vivo: Vaarwell no CCB
16 de Março de 2017, 21 horas, Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém.
Sala bem mais que composta para o concerto de apresentação do disco de estreia dos Vaarwell, "Homebound 456".
Pouco depois da hora marcada, os cinco elementos do grupo sobem ao palco, ainda algo tímidos, talvez denunciando o nervosismo perante a vasta plateia.
Ouvem-se os primeiros acordes de "Untitled" que me cativou de imediato, e inconscientemente, bato o pé ao ritmo da melodia.
É assim ao longo do alinhamento.
Sinto o corpo reagir de forma natural ao que estava a ouvir, desde a linha de guitarra incrível que sobressai em "Floater", à força e intensidade de "I Never Leave, I Never Go" - que dias depois se tornaria incontornável na minha playlist -, a melancolia de "Waiting Game" ou a electrónica introspectiva de "Homebound 456".
Por esta altura, já é uma certeza que a delicada voz de Margarida é elemento maior e constante, seja num registo mais doce ou mais aguerrido, mais palpável ou celestial. Envolve-nos, transporta-nos para o seu universo calmo, sereno, e ao mesmo tempo irrequieto, acompanhando de forma irrepreensível as variações de ritmo instrumentais tanto dos próprios temas como do alinhamento.
"Branches", recordação do EP "Love and Forgiveness" é sem dúvida um dos (meus) pontos altos. Recebida com entusiasmo pela plateia, confesso que é das que mais me enche as medidas, logo aos primeiros acordes. Incríveis, o ritmo, a voz de Margarida, uma harmonia perfeita.
A bateria enérgica de "Hope", também do EP, abre caminho a uma sedutora "American Dream", mas foi "123" que me deixa com os ouvidos em sentido. É talvez a mais «roqueira» do alinhamento, e a explosão instrumental nos minutos finais é qualquer coisa... O «sample» de Eric Satie em "Sheets", quase despercebido, arranca-me um sorriso, e "You", qual canção de embalar, que nos conforta em noites frias, encerra brilhantemente o alinhamento.
Horas antes, o pouco que ouvi do disco fez-me aparecer sem expectativas mas com a palavra «digital» a ressoar. Ao ouvi-los ao vivo, surpreenderam-me, as músicas ganharam outra vida, eles soaram (mais) orgânicos, distinguiram-se as guitarras, as linhas de baixo, as teclas, a bateria, (re)descobriram-se acordes e melodias que nos prendem. O som - esse eterno problema - estava muito bom, a sala mostrou-se acolhedora quanto baste, e o jogo de luzes sóbrio acompanhou na perfeição cada nota.
Naquela sala do CCB, tudo mudou.
Quebrei preconceitos e ideias pré-concebidas.
Para mim, é essa a grande magia dos concertos.
Alinhamento completo: untitled / floater / i never leave / waiting game / naturlight / homebound 456 / branches / hope / american dream / 123 / how long / sheets / you
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