Uma Trilogia Feminina de fim de verão. Capitulo 1 - Belladona of Sadness de Alexandra Savior
Sim, vou falar nos próximos tempos de 3 álbuns no feminino (até porque, apesar de os The Preatures serem uma banda o maior realce vai para a voz de Izzy Manfreddi, e mais que não fosse porque o álbum se chama Girlhood…), a tal trilogia do titulo. Todos muito diferentes entre si, mas com alguns pontos em comum, sendo o mais importante deles todos o “girl power” que eles tem.
O critério de escolha de prioridades é mesmo so a data de lançamento dos albuns e a escolha destas três meninas deve se mesmo só ao seu “escusas de vir chatear que não me apetece aturar te” (que soa muito melhor em inglês), e que é mais do que outra coisa qualquer uma forma de estar que eu aprecio.
Introduções feitas vamos então começar pelo inicio. Capitulo 1 - Alexandra Savior e a sua Belladona of Sadness
Ouvi a pela primeira vez por acaso, no meio de uma playlist de coisas novas que não me chamaram a atenção. Chegou a vez dela, e confesso que “Mirage” me tirou da dormência e me fez prestar atenção (o que, ultimamente é raro diga se desde já, suponho que por excesso de musica que me soa igual?).
“Mirage” é para mim, uma das musicas mais perfeitas do ano, sendo, claramente uma das melhores do álbum. Com um toque de Filme Noir e com um cheirinho a Arctic Monkeys (que me lembra sempre The Only Ones Who Know, nada a fazer…), pontuados com o ar blasé (de que não me vou cansar de falar de cada vez que falar em Alexandra Savior) e com um modo muito “I don’t give a fuck”, de que, eu confesso sempre fui muito fã. Guitarras certinhas e muito certeiras, bateria com uma uma cadencia própria, orquestrações densas e um refrão que evolui e me faz perder um batimento cardíaco de cada vez que acaba, como se ficássemos na beira da ravina a ver se caímos ou se nos safamos, qual cena de filme.
Vamos então às apresentações, Alexandra Savior, americana, dona de uma voz extraordinariamente marcante e com um toque retro (sem nunca ser tão teatral como Lana del Rey, graças a deus!!!!), levou me logo a passear aos anos 60 e às cantoras francesas da época. A miúda tem qualquer coisa de Françoise Hardy, fazer o que?
O album chegou depois disto, algures no inicio do ano, mas não sem que, antes disso se ficasse a saber que tinha o dedo de Alex Turner dos Arctic Monkeys (sim, as minhas suspeitas iniciais estavam certas…), daí que todas as palavras assim tão bem escritas que lá podemos encontrar tenham uma muito boa justificação. A melhor de todas, até podia dizer.
Resumidamente podemos dizer que Belladona of Sadness é um álbum que podia ser usado como banda sonora para um qualquer filme de Tarantino (o que, no meu caso é fazer um grande elogio), ou de um qualquer filme noir dos anos 30. E isto não é diminui-lo de qualquer forma possível.
A menina Savior apresenta-se-nos como uma personagem extremamente cool, daquelas que parece mesmo que é só assim e não faz nenhum esforço para isso. A miúda tem aquela magia que ou se tem ou não se tem e não se fabrica. E tem o tal “girl power” capaz de me fazer ouvir o álbum do principio ao fim sem me aborrecer. O que é raro.
Mas, do álbum, não posso destacar só “Mirage”, obvio.
“Bones”, com a cadencia da sua melodia, que se coaduna em pleno com a forma de Savior cantar, e que nos leva ao tal sitio onde ela parece que não quer mesmo saber de nada, apesar de isto ser uma canção de amor. Daquelas que não é lamechas, mas que é daquelas que é típica de quem sente tudo e mais alguma coisa, mas que não se queixa por isso. Nem chora. Nem aceita. Só resmunga um bocadinho. O refrão e o solo marcam a letra, pontuada de verdades, que mais do que qualquer outra coisa, nos lembra que estamos em 2017 e não nos anos 60, sem que haja quaisquer elementos pastiche, e que, acima de tudo não nos deixa esquecer que este é o álbum da Alexandra Savior e de mais ninguém.
Outra das minhas preferidas é “Shades”, que tem um ritmo diferentes anteriores, e onde a voz de Alexandra se torna mais aguda, em contraste com os graves da melodia, mais doce em contraste com o ritmo mais pujante, mas que não sai do registo base de Belladona of Sadness de forma a não se perder a sua coerência.
Tenho que falar na singeleza de “Girlie”, o ultimo single a sair, mais lenta e muito mais cinematográfica. Aqui Savior canta uma estória, de uma forma muito intimista e sedutora, sem nunca deixar de ser profundamente reivindicativa. Não há como não viajar até ao Chateau Marmont e aos anos 30 e a todo o glamour de Old Hollywood, ainda que a letra seja muito dura e muito actual, como se quer.
Se Beladonna of Sadness não tivesse “Mirage”, provavelmente tinha me prendido na mesma, assim que eu ouvisse “Vanishing Point”, que para mim tem todas as características capazes de definir o álbum: densa, melódica, chic e sexy, ou seja uma musica enfeitiçante por si só, com uma orquestração do caraças.
Belladona of Sadness é um album rock, com tudo o que isso tem direito: guitarras, baterias marcantes e a tal presença/voz de Alexandra Savior: misteriosa e blasé. É, ao mesmo tempo, um álbum tranquilo melodicamente muito arranjadinho e marcadamente pensado.
No entanto, há que ressalvar que, apesar das audíveis ajudas de Alex Turner e das semelhanças com “Humbug” dos Arctic Monkeys que a critica aponta ao álbum, para mim, Belladona of Sadness é uma espécie de “Zona de Conforto” musical, ou seja, é um álbum que se ouve porque é bom (obvio) mas não porque nos traz elementos novos, no sentido de que a tal ajuda de Alex Turner e a produção de James Ford o tornaram, provavelmente um pouco menos de Alexandra Savior, ou pelo menos, menos do que devia ter sido. O que, nesse sentido, e mesmo só nesse, foi uma pena.
"...I sing songs about whatever the fuck I want..." em "Mirage".
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