HER, até à eternidade
Quase três anos me separam da descoberta dos franceses HER, duo composto por Simon Carpentier e Victor Solf.
Foi no M, da Mónica Mendes, na altura um programa da Antena 3 - hoje tão mais que isso. "Quite Like" foi o tema que passou naquele domingo e nunca mais me largou, tal a sensualidade, o ritmo, a elegância.
Outras canções foram vendo a luz do dia, sempre em versão single e o álbum tardou em chegar. Mas ele aí está, e é excepcional.
Luminoso, orgânico, quente, com o universo da electrónica a envolver-se com o de outros estilos (como a soul, o jazz e o hip-hop) que se cruzam e se complementam.
Luminoso, orgânico, quente, com o universo da electrónica a envolver-se com o de outros estilos (como a soul, o jazz e o hip-hop) que se cruzam e se complementam.
O disco arranca com a fenomenal "We Choose", a primeira canção que os HER escreveram para este projecto, a última a sair antes do lançamento, passados apenas uns meses após o falecimento de Simon Carpentier.
«we choose the way we'll be remembered»
"Five Minutes" e "Icarus" (escrita para Simon), os dois temas seguintes, ficarão de certeza na memória. Aliás, esta sequência inicial é perfeita para nos envolver no ambiente do disco, por serem canções intensas, fortes, e com uma carga emotiva transcendente.
A emoção é algo que está presente em todo o álbum, e poderia tê-los guiado por um caminho depressivo. Mas não, muito pelo contrário.
"HER" transborda de energia positiva, é optimista, alegre, sensual qb e recheado de esperança, como se através das suas canções, os HER se quisessem agarrar à vida.
Como na delicada "Blossom Roses" ou em "On & On", tema onde o hip-hop e o rap - estilos tão marcados na música francesa - se fundem com a electrónica. O ritmo contagiante de "Neighborhood" conduz-nos a "Trying, momento emocionante do disco. Quase um interlúdio, mas o que se ouve é a voz livre de Simon, à capella no que seria a sua ultima gravação em estúdio...
Entra "Quite Like", que para mim, é o ponto mais alto deste disco. Continua a arrepiar de cada vez que a ouço, é tão, mas tão sedutora... Em "Wanna Be You" sente-se a cumplicidade de Simon e Victor e "Swim", inspirada naquele momento insólito da historia dos EUA em 2016 aparece como um hino à esperança, à perseverança e é talvez o tema mais influenciado pela electro-soul made in usa.
«swim against the tide / walk against the flow»
A influência do jazz chega com "Good Night", iniciando com um solo de saxofone. Cativa-nos com mudanças de ritmo e de estilo, e na parte final, os instrumentos encontram-se e é simplesmente maravilhoso - don't lose hope... a frase que ficaria a ecoar nas nossas mentes se o disco terminasse.
Em jeito de «finale», Solf recupera "For Him", uma versão reduzida de "Hypnotise Me", tema de um projeto anterior (The Popopopops) como forma de homenagear Carpentier.
Mas não se fica por aqui.
A edição de "HER" conta ainda com dois temas extra, que, embora não saiba se foram escritos antes ou depois do desaparecimento de Simon Carpentier, ganham um significado extraordinário.
"Shuggie" e "Together", à semelhança de todas as outras, fazem-nos bater o pé inconscientemente e ao mesmo tempo, reflectir sobre a vida, sobre o tempo - afinal ele nunca é suficiente - e sobre a perseverança... Que nunca desistamos; dê por onde der, temos de continuar o nosso caminho.
«We gotta keep moving on // We can't be grieving // Better healing now // We've got to be living»
Victor Solf assim o fez, garantindo ao duo um lugar indiscutível no panorama da música electrónica francesa.
"HER", o disco, é uma incrível homenagem a Simon Carpentier. Mas é também, e sobretudo, uma celebração da vida.
E inequivocamente um dos (meus) discos do ano.
E inequivocamente um dos (meus) discos do ano.
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