"Please Don't Be Dead", o álbum de Fantastic Negrito

Hoje é dia de falar em Please Don’t Be Dead, o último álbum de Fantastic Negrito, que apesar de ter saído há uns tempos é, para mim, incontornável, o que faz com que, mesmo que se tivessem passado anos teria que ter destaque por estas bandas.

O que esperar de Fantastic Negrito, para quem nunca ouviu falar nele?

Simples, um americano cheio de estilo, que faz um som que anda entre os Blues e o R&B, com um bocadinho de Hip Hop e que diz coisas tão maravilhosas quanto esta: “…some people have said my music is “too bluesy for rock, too rocking for blues, too soulful for this country, too funky for that country”. I don’t believe in genres; I believe in music, I don’t believe in countries, I believe in people…”
E, este Please Don’t Be Dead é o terceiro álbum do musico, portanto, já não se fala aqui de um golpe de sorte, mas fala-se de trabalho e de consistência. Digo eu.



Dono de letras muito duras, acutilantes e muito cheias de significado, Negrito ainda as canta com paixão, defendendo os seus ideais e as suas convicções politicas. Fala-se aqui nas mudanças sociais e económicas, na gentrificação e em discriminação social, ou seja, todos os temas que nos apoquentam e que fazem tanto parte do nosso dia a dia.

Please Don’t Be Dead começa com “Plastic Hamburguers” e com uma entrada genial feita com uma guitarra que toca meio em jeito rock clássico (que remete a Jimi Hendrix, mesmo se não quisermos). Negrito faz-nos começar a viagem com palavras de ordem e com muito poder. Um poder que nos vai guiando ao longo do álbum: todos os sentidos e todas as formas. Para que não restem nenhumas dúvidas sobre o que aqui se vai passar.
A bateria tem também um lugar de destaque e vai sendo ela que vai arrumando as guitarras e o baixo de forma a que Negrito seja, de facto, mais do que Fantástico. A crítica social e política do álbum aparece aqui também, mas sobre isso, nem precisamos de falar outra vez.




Fantastic Negrito traz um som novo, moderno e fresco aos blues. E estamos perante um álbum muito moderno, cheio de camadas que vão do R&B ao hip hop, como eu disse ali em cima. Um belo exemplo disso é “Transgender Biscuits”, onde encontramos samplers deliciosos e muitas referências old-school.




Outro dos melhores momentos é, sem dúvida nenhuma, “A Letter To Fear”, uma das minhas canções preferidas do álbum, quer pela letra quer pela abordagem melódica que Negrito nos traz. “A Letter To Fear” tem uma das letras mais intimistas, e ao mesmo tempo, universal do álbum, sempre com um tom poderoso e intenso.

A viagem musical continua e passa por vários momentos, uns mais clássicos (como em “Bad Guy Necessity”), outros mais referenciais (como em “A Boy Named Andrew”, ou mesmo com a referência tão evidente a “House of the Rising Sun dos Monkees em “A Cold November Street”) e outros ainda mais intimistas (como em “The Suit That Don’t Come Of” e todas as referências a muito do que nos atormenta a todos, a imagem, o que pensam de nos, o que os outros vêem e pensam, ou seja, as inseguranças típicas do ser humano).




Ainda assim, as duas músicas de que não poderia nunca deixar de falar são “The Duffler” e “Bullshit Anthem”, ora pois.

“The Duffler” foi a música que me trouxe a este Please Don’t Be Dead, e sempre lhe vi um cheirinho qualquer a Prince, ainda que numa outra dimensão mais pesada mas sempre actual, e que me fez pensar: “Calma, que isto deve ser mesmo bom…”, um blues com um cheirinho a revolução, e muito autêntico, com qualquer coisa que ronda o hip hop sem nunca lhe tocar, uma espécie de híbrido com tudo de bom que podemos ir encontrar a esses dois universos.

E o que dizer de “Bullshit Anthem”, que não passe pelo facto de o próprio nome da música ser assim mesmo muito bom?




“Bullshit Anthem” é um funk maravilhoso e colante, o que por si só seria mais do que suficiente para se falar nela. Mas é um dos melhores momentos ao álbum, quer ao nível melódico, quer ao nível das palavras de ordem que a marcam, sendo, provavelmente também, a melhor forma de acabar o álbum.

Fantastic Negrito é um bom exemplo do que eu mais gosto na música: é um músico versátil e sem medo de fazer o novo e bem feito, de tocar na ferida, de se expor, em resumo de ser ele mesmo e de fazer coisas muito boas.

“… take that bullshit, and turn it to some good shit…” - Bullshit Anthem.

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