O exílio visto pelos Hurts

Foi num quarto de hotel em Londres que me deu para finalmente ouvir o segundo álbum dos Hurts. "Exile", como já referimos [aqui], é mais pesado, mais negro, mais genuíno, se calhar. Mas a pop continua lá. Os sintetizadores. E a voz melódica de Theo Hutchcraft também.

"Exile", tema título, marca o passo, a sonoridade e o sentimento do novo álbum. Como se o primeiro tivesse falado de histórias de encantar, de ilusões, de romance. Neste, percebe-se desde logo que há sentimentos "a sério". Há amor mas há também desilusões, mentiras, inseguranças, frustrações.

"Miracle" é um tema super catchy, um hino de redenção. Que nos transporta para os Hurts do primeiro álbum, nos quais fiquei viciada. um tema estádio, daqueles que nos vão por a cantar a plenos pulmões, até porque "i've been looking for a miracle" é algo que já terá passado pela cabeça de todos nós em algum momento da nossa vida.



"Sandman" foi das canções que mais destaque teve na rádio da BBC mas quando a ouvi pela primeira vez, não me encheu as medidas. O melhor momento? o coro juvenil feminino meio creepy.




"Blind" é meio sentimental, mas é também mais um tema estádio. Aliás, a ouvi-lo, imagino logo no crescendo luzes a acender, palmas a acompanhar o ritmo e toda a gente a cantar energicamente o refrão: "cut out my eyes and leave me blind".

Ao contrário de "The Road", que pede um ambiente mais intimista. É a minha canção favorita. Não sei se por ter sido a primeira que ouvi, se por tê-la escutado num dia cinzento e frio numa rua super movimentada de Londres. Há qualquer coisa de apaixonante naquele tom meio a sussurrar de Theo, aquela batida que acalma o passo acelerado, e aquele refrão tão arrebatador - when i close my eyes i see you // when i close my eyes you're here // in the dead of the light i feel you when i open my eyes you disappear. E, claro, o final instrumental, violento, como se nos quisesse forçar a arrancar qualquer coisa de dentro de nós...




Logo a seguir, o choque: "Cupid" e "Mercy" levam-nos de volta aos anos 80, com o seu som electro-pop (que por mais que tente não consigo encaixar), que quase nos desvia do sentimento de "Exile". Quase, porque há "The Crow". A balada deste álbum. Fantástica. Genuína. Humana.

"Somebody To Die For" é mais teatral, como se fosse o momento pós-separação em que procuramos algo que nos faça levantar, "The Rope" aparece como a tábua de salvação, e "Help", muito graças aos coros do minuto final, é o episódio em que tudo se encaixa, em que sentimos que estamos finalmente em paz.




Últimas palavras? Os Hurts estão mais maduros, mas não necessariamente melhores. Demasiado influenciados pelos últimos anos, talvez, o que se reflecte em canções tão diferentes. Como os momentos que compõem uma vida. Momentos de liberdade, de medo, de alegria, de decadência, de punição. E é isto "Exile". 

So we'll say goodbye girl // and watch as the world burns

(Hurts, em "Exile")

nota: na edição de luxo, há ainda lugar para mais um tema eletro-pop, "Heaven", que não é assim nada de especial, e "Guilt", que nos revelam uns Hurts quase em versão acústica simpática, voz, piano, e emoção.

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