Que bonita é a vida no campo, ou o rescaldo de um segundo dia (fantástico) no Vodafone Paredes de Coura
Eram 7 e qualquer coisinha de ontem quando entrei no recinto do festival. E não, ainda não tinha começado uma das actuações que eu mais queria ver, a de Seasick Steve.
Seasick Steve, o mágico das guitarras, o senhor com ar de "avô" que pôs mais de 20000 pessoas a bater palmas e a dar um vislumbre do que se seguiria noite dentro: uma comunhão perfeita entre público e bandas.
Seasick Steve que, também ele, estava apaixonado por Coura, pelo rio, pelo ambiente, mas especialmente pelas portuguesas. Depois de actuar em 18 festivais, Coura era, para ele, "o" spot.
(É facto que antes ainda ouvi um bocadinho dos Panamá, que me deixaram muito bem impressionada, mas deles não vou falar porque foi só um bocadinho.)
Depois do maravilhoso momento com o velhote Steve, tentei ver Thurston Moore, o fundador dos Sonic Youth. A verdade é que nada daquilo me convenceu, e ao fim de 3 musicas, fui à minha vida.
Seguiu-se o jovem Mac DeMarco, e o que dizer?
Que o som clean, que não é a minha praia, juntamente com a interacção de Mac (e do seu chapéu) com um público conhecedor das músicas, participativo ao máximo e uma garrafa de Jameson, proporcionaram muitos momentos de gargalhadas. Ainda acho que ele devia ter começado o concerto já com a garrafa a meio, porque só no fim demonstrou que o ar "junkie" é o que melhor lhe assenta, a ele e ao seu som.
O público esse entrava para o palco como quem entra em casa, e Mac acolhia-os, berrando com os seguranças para deixar entrar toda a gente, e a famosa garrafa rodava como num jantar de amigos.
Depois foi a vez dos "The Ooh Sees", já a meio, é certo, mas que talvez pelas gargalhadas que ainda perduravam do concerto anterior, talvez pela expectativas do que se seguiria, não me conseguiram prender.
11 da noite.
Palco Vodafone. Luzes, sintetizadores, acção: e chegaram os CHVRCHES.
E como explicar o que aconteceu?
Lauren Mayberry, como uma injecção de poder, leva Coura ao delírio. A pequena Lauren, com uma voz pequenina e quase infantil enche todo o recinto, levando-nos ao que de bom a electrónica pode ter. Faz toda a gente querer dançar até não haver mais forças. Os sintetizadores e as guitarras giram à volta dela, mesmo quando não é ela que canta. Uma espécie de "girl power" subtil, que nos guia durante 45 minutos.
Se foi pouco? Foi. Mas deixou me de barriga cheia, e à espera que eles voltem.
Eles que sabiam que tinham difícil tarefa de ser "a banda antes dos Franz Ferdinand".
Mas que, a bem dizer da verdade, nunca se deixaram intimidar.
E o que dizer do que se passou ali na margem do rio Taboão pouco depois da meia-noite?
Qualquer coisa que eu possa dizer é pouco, deixem-me já avisar. Não só porque, assumidamente, os Franz Ferdinand são muito bons, mas, sobretudo porque sempre fizeram parte da banda sonora da minha vida.
E sim, eu já os tinha visto, e mais do que uma vez, mas nunca em Coura. E isso, quer se queira quer não, muda tudo.
Alex Kapranos, o excêntrico e irrequieto, sedutor e carismático frontman da banda, passou ontem a ser o seduzido. Pela energia do público, pelo espaço lotado, pela harmonia das vozes, por todo um ambiente que só existe aqui.
Foi um concerto memorável, que nos levou a todos os clássicos, fazendo-nos regressar a "Right Thoughts, Right Words, Right Action" (o álbum), mostrando-nos que a banda sabe o que está a fazer (e digo eu, sabe tão, mas tão bem).
E claro que houve show na bateria, com os 4 elementos da banda a demonstrar, outra vez, que uma banda funciona como uma unidade (ou então, não funciona).
E claro, mesmo depois de "Goodbye Lovers and Friends", que, como eu já disse, é uma belíssima música para acabar concertos, nada poderia terminar sem "This Fire". E foi em "This Fire" que Kapranos conseguiu por todas as 30 mil pessoas do recinto (que estavam sentadas), a saltar, e a bater palmas e a cantar e a fazer tudo o que se deve fazer num concerto de rock.
Como se Coura fosse de facto contaminada pelo fogo, aquele que naquele momento toda a gente sentia dentro de si.
Depois disso vim embora.
Porque nada mais fazia sentido.
Ficaram por ver os White Haus, que também fariam sentido, mas depois do espetáculo dado pelos Franz Ferdinand achei por bem acabar a noite.
E agora, enquanto escrevo isto, sentada aqui no terraço, ouve-se o sound check dos Linda Martini, que junto com os (meus preferidos) Black Lips e com os Cut Copy, logo nos vão dar música.
Mas, a realidade é que eu acho que nada se vai comparar ao que ontem se viveu lá em baixo, ali naquele recanto cheio de magia, ao pé do rio Taboão.
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