Saudades e melancolia de Domingo à parte, resta relembrar o que ontem se passou no Parque.
Confesso que, do cartaz de todo o festival, ontem era aquele dia em que eu achei melhor deixar as expectativas todas em casa. Nada me sugeria coisa nenhuma, nada me chamava muito e nada me entusiasmava por ai alem. Isto, no meu caso nunca é bom, mas ainda bem que, nestas coisas, podemos ser sempre surpreendidos, e que, nestas coisas da musica em particular, há sempre um "mas" e um "e se" que, de facto fazem todo o sentido.
Assim, chegamos ao Parque quase a hora de jantar, a tempo de ver Chairlift, que não sendo espectaculares, me fizeram dançar (continuo viciada em Ch-Ch-Ching, nada a fazer...) e que tornaram o fim de tarde naquela animação do costume, que só quem já foi ao Parque sabe como funciona.
No palco ao lado já se preparava o regresso dos Battles a Portugal, e eu que estava sem grande vontade de os ir (re)ver, lá me rendi e acabei por ter a primeira surpresa boa da (quase) noite.
Às vezes não sei o que dizer sobre eles, se os enquadro no rock ou no jazz, ou se os deixo só fazerem parte daquele grupo de bandas que me fascina em disco e de quem tenho medo ao vivo. Verdade seja dita que, ontem, ali no parque, aquilo me fez grande sentido, e que, achei que a banda estava em grande e que deu o mote para os Air, de forma brilhante.
Os Air, os nossos queridos Air (de quem Portugal gosta tanto) e que, encheram o palco principal com magia já a noite estava cerrada, os Air que nos fascinaram com os seus sons de outro planeta, que nos fizeram falar nos Justice e nos fizeram dançar. Os Air que, segundo um sujeito que se instalou ao meu lado eram "suficientemente hipsters" para a namorada gostar, e que nos fizeram a todos bater palmas e dançar, ao som de clássicos como "Playground Love", "Sexy Boy" e "All I Need". Não nos desiludindo de forma nenhuma em todos os outros momentos do concerto.
Os Air foram mais do que uma boa companhia para a noite de ontem, e cumpriram bem o propósito de ser cabeça de cartaz de um festival como o Primavera. (Ainda que eu do festival esperasse mais, e que achasse que também merecíamos uns cabeça de cartaz como os LCD Soundsystem ou os Last Shadow Puppets...)
Entretanto, o B. (que me acompanha sempre na maratona Primavera Sounds), estava a começar a ficar com formigueiro nos pés porque estava a chegar a hora dos Explosions in the Sky. Se na sua primeira visita ao festival eu nem lhes dei hipótese de me conquistarem (havia Titus Andronicus a tocar noutro palco e pareceu me que há prioridades...), ontem resolvi tentar dar o beneficio da duvida, quanto mais não seja, para tentar entender o fenómeno.
Não, continuo a não ser fã, aquilo de facto não mexe em nada comigo, mas entendo, depois de os ver, que aquele grupo de pessoas emocionadas e que se deixam levar pelo som da banda, tenha sido muito feliz durante aquela hora e qualquer coisa que ali se passou.
Entendo que aquilo mexa com as pessoas, entendo que se criem ali emoções e entendo que estivesse toda a gente em sintonia. Eu, infelizmente, não consegui estar, e de facto a mim não me dizem nada, nada a fazer. (Mesmo com a suposta energia que o casal simpático que estava atrás de mim dizia que se estava a sentir naquele momento... coisas de pessoas mais sensíveis, digo eu.)
Como dizia o M., ha bandas que tem ritmo e outras que tem melodia, e os Explosions in the Sky tem os dois, dai que até nem seja difícil gostar deles.
Eu por mim acho que é a falta de palavras, de quem sou tanto fã. (não posso não citar um tipo que estava traz de nós que dizia que "neste festival parece que a malta não gosta de cantar"... e, gargalhadas a parte, se pensarmos bem nisso...)
Acabamos a noite a tentar ver se Ty Segall com banda era tão delicioso como sem ela. E, o problema foi que os Mugglers não nos convenceram, dai que tenhamos desandado dali para fora e tenhamos abandonado o recinto ao som dos Moderat, que tocavam exemplarmente no palco principal.
E, foi assim que acabaram mais três dias mágicos no parque, com a barriga cheia de coisas boas, numa onda muito etérea e muito descontraída, como não há em mais sitio nenhum.
Deste Primavera vou guardar na memória os Parquet Courts, a maravilhosa PJ Harvey, as Savages, o Ch-Ch-Ching dos Chairlift e Brian Wilson, que criou para mim o momento mais magico de todos, naquele fim de tarde de sol, e onde fomos todos miúdos outra vez.
Agora? Tempo de voltar para a vida normal, tempo de começar a preparar tudo para o resto dos festivais que ai vêm, e tempo de começar a pensar no que será que o Primavera do ano que vem nos vai trazer. Porque sim, estamos todos la outra vez no ano que vem. Palavra de Chavininha.
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