Chegada ao parque a tempo (e mais que tempo) de encontrar os amigos, de comer qualquer coisinha e de ir ver Brian Wilson, a missão estava cumprida.
O senhor "clássico" que trouxe uma onda de boas vibrações e de sol a toda a gente que estava no Parque, e disto que ninguém pudesse ter qualquer duvida.
Brian Wilson que apesar da sua idade, nos mostrou a raiz da maior parte das coisas que andamos todos a ouvir agora, por mais esquisito que isto possa soar aos mais desatentos. E que divertido foi andar a cantar e a dançar ao som de Surfin' USA, de Surfer Girl ou de Good Vibrations.
E sim, poderíamos aqui achar que é de mim, que gosto sempre destes momentinhos históricos, e que os defendo, quando de boa qualidade, nestes eventos a horas mais familiares.
A coisa, porém, era muito maior que isto.
Demos por nós a ter todos a mesma ideia, sim, um festival deveria mesmo ser assim: fim de tarde de sol, um publico que ia literalmente dos 2 aos 70 anos, a cantar em uníssono com Brian Wilson e com as musicas dos Beach Boys, a descontração de quem quer ser feliz, e de quem se deixa contagiar pelo som. Tudo assim tão simples, e tão descomplicado.
Momentos destes?
Poucos na minha vida, pelo menos assim tão marcantes e tão "all for one, all with the sound".
Para mim, já se sabia que "God Only Knows" ia fazer com que a memória voasse para sitios bons, e que houvesse aquele aperto na garganta. Aquele bom, entenda-se. O das memórias que valem a pena ficar, e que, com pena, já não se podem repetir.
O que não se sabia era que vamos acabar todos a surfar na relva, com um sorriso que teimava em não sair da cara de toda a gente, e com um sentimento bom de poder ouvir Pet Sounds, ainda tão actual, e ainda tão bem executado por aquela banda genial que acompanhava Wilson.
Seguiu se outro dos momentos chave do NOS Primavera Sound.
Ao lusco-fusco tocavam as Savages.
E, apesar do microfone, que ainda não estava muito bom desde o dia anterior (suponho que a equipa de som não esteja habituada a vozes como as dos Parquet Courts e a de Jehnny Beth, mas que teria sido ainda melhor que aquilo estivesse com menos ruído, lá isso... era mel!), fizeram a terra tremer, e mostraram-nos a garra a que já estávamos habituados, desde que passaram pelo Parque em 2013. Com tudo o que queríamos ouvir, desde Adore a Fuckers, as savages mostraram-nos que o girl Power do rock esta muito bom, e cheio de saúde, como uma chavininha do rock mais gosta de ver.
Enquanto ouvíamos as Savages eu pensava já em PJ Harvey.
Provavelmente por uma conversa que tinha tido antes disto tudo sobre as tais "miúdas do rock". Sim, das "A sério", há poucas, mas, se formos a ver, podemos encontrar referencias de PJ nas Savages, e, se quisermos em outros sitios. E, sim, apesar do frio, miss Polly Jean não ia decepcionar (nada!) outra vez.
Apesar de se ter prendido mais nas musicas do album novo, e de o publico não estar propriamente para aí virado, destaco a imponência e o som brilhante que PJ apresenta, juntamente com a banda de John Parrish. Eu que tanto gosto de baterias, bombos e percussão no geral estava quase no céu.
Porém, foi com Drown by the Water que se sentiu o verdadeiro boom e que toda a gente pareceu reconhecer PJ. E, a verdade é que, depois disso ninguém a parou mais.
Para mim faltou lhe a guitarra.
Apesar daquele saxofone também não lhe assentar muito mal.
Há qualquer coisa magico na presença de PJ Harvey, uma intenção de dar tudo a 100%, daquelas que me faz acreditar em magia.
Uma forma que se lhe transparece pelos gestos e por aquela voz, aquela voz magnifica que ontem soou ainda melhor no Parque.
Há um amor projectado pelos movimentos catarticos e roboticos de PJ, como se o mundo fosse mesmo acabar amanha, e não houvesse tempo para adiar tudo o que se quer dizer, que nos faz ter a certeza que PJ não podia ser de mais nenhuma outra forma, e quando temos o prazer de ter toda aquela banda com ela, penso eu que haja muito pouca coisa mais a pedir. Ou pelo menos, eu, não tenho.
Enquanto aguardávamos pelos Beach House, ainda passamos pelo palco Super Bock, mas achamos que, como estava uma espécie de calor esquisito, devíamos antes ir tentar comer qualquer coisinha quente, que isto aqui ainda é o norte, e aquela brisa do mar acaba por não fazer muito bem a quem esta quieto.
Uma e vinte e qualquer coisa da manha, palco NOS, e eis que aparecem os Beach House.
Com luzinhas, brilhantes, e todo um espetáculo pensado para versões mais alargadas das musicas, até porque iam fechar o dia, e estavam muito espantados pela quantidade de gente que ainda estava no recinto e felizes.
A mim, ultimamente, estas coisas mais calmas soam me melhor ao fim da tarde, tenho que confessar. Mas a verdade é que, não ha como dizer mal de uma coisa tão bem executada. (Apesar de que, os temas de Depression Cherry, aquela hora e com aquele frio me façam mais lembrar o Inverno do que a Primavera.)
Se é verdade que ontem era o dia em que o cartaz do NOS Primavera Sound tinha, claramente, mais interesse para mim, é verdade também que não sai de lá defraudada e que, tudo podia acabar já ali, que a barriga vinha cheia de coisas boas. Se é difícil ser feliz depois de ontem? A mim parece me que não, mas secalhar eu peço muito pouco...
Daqui a bocado há mais. Mas para hoje, eu não tenho planos.
Vou em modo "Seja o que Deus quiser!", até porque hoje há AIR e Explosions in the Sky... E sobre isso é melhor eu nem dizer nada agora.
Sem comentários: