Considerações (mais ou menos) artisticas sobre Paiting With, o novo dos Animal Collective
Sempre achei que isto de se falar sobre musica, como dizia uma personagem de um filme (que eu vi há uns anos e que já não me lembro qual é), é como dançar sobre arquitectura.
Ou seja, acabamos sempre por recorrer às armas que temos e que achamos serem as mais correctas, de forma a tentarmos expressar a nossa opinião da forma o mais precisa possível.
Coincidentemente, para mim, é muito mais simples associar a musica à pintura, à arquitectura ou ao design. Podia até dizer que por "defeito de profissão", mas sendo mais realista, digo que é mesmo porque são áreas onde tenho mais referencias e onde me sinto mais a vontade para dar exemplos ou expor ideias de forma mais clara.
(Mas, desconfio que, se por acaso fosse de outra(s) area(s) qualquer, não teria problema em fazer referencias ao PSI20 ou a qualquer lei da física, a formulas matemáticas ou seja lá ao que fosse para ajudar a que se entenda o que eu tento dizer.)
Assim que ouvi o novo dos Animal Collective, Painting With, ainda me senti mais tentada a isso.
Não por causa do nome do álbum em si, mas porque me lembrou um dos períodos da pintura que eu mais gosto, o do Dadaismo (ao qual vou claramente fazer referencia daqui para a frente, tentando justificar as tais opiniões que eu tenho sobre a coisa.)
A verdade é que, a mim, os Animal Collective sempre me fizeram sentir que eram algo puro. Sim, é estranha esta sensação quando pensamos que estamos a falar de uma banda que usava mascaras e que tem um som tão vindo do futuro e tão novo. Mas, fazer o que, se aquilo me soa ao básico (sem que isso seja pejorativo de forma alguma!!!) e ao mais primitivo? Vou tentar explicar.
Paiting With é um álbum sonoramente "limpo", sem subterfúgios (aparentes?), "brilhante", muito imediato, e que se cola aos nossos ouvidos de uma forma sintética e muito grudenta, assim que o deixemos. Como eu acho que um álbum deve ser, portanto.
Defendo agora que, dentro destas coisas que eu disse, possa entrar a tal referencia ao Dadaismo como forma de explicar o que é, para mim, este Paiting With: à primeira audição, confesso que senti alguma confusão quanto aos sons que saiam do iPod e que me fizeram desafiar a lógica das minhas coisas.
Achei-lhe referencias várias, como aos Ramones, por exemplo, mas sem nunca os encontrar em lado nenhum de facto. (Como no quadro de Duchamp do "Ceci n'est pas une pipe" onde vemos um cachimbo, por exemplo, ou na sua Mona Lisa com bigode... Afinal aquilo eram referencias aos Ramones ou era mesmo só a minha mente a ser subvertida para tal?)
Pareceu me que Paiting With é, também, um álbum mais naive que Centipede HZ (o anterior), mais leve e menos complexo, mas sem nunca o deixar de ser. Como se pegássemos em coisas a que estamos habituados e lhes déssemos um novo contexto artístico. A sons que estamos habituados, mas que os apresentássemos de uma forma mais intencional e mais complexa portanto. Como se a sua função fosse a de "combate" à institucionalização da musica e do que se faz na musica de agora, com criticas ao capitalismo e ao consumismo de hoje em dia, mas feitas de uma forma "básica" e com sons que nos são de alguma forma, estranhamente familiares. Um álbum com voz própria de uma banda com voz própria e com historia que é, ela por ela, quase uma instituição.
Sempre sem nos esquecermos de uma outra coisa que sempre caracterizou os Animal Collective e que continua a ser a "imagem de marca" da banda: o tal ênfase no "absurdo", ou no pitoresco, e em conteúdos que, à primeira vista não tem muita lógica para quem os ouve assim de passagem.
(Mas calma, sim, isto também faz parte da base do Dadaismo!!!!!)
Sendo Paiting With o décimo album da banda, honestamente, não me parece que haja aqui qualquer coincidência naquilo que lá podemos ouvir e na sua forma. Acho que os Animal Collective sempre souberam muito bem o que andam a fazer, e que, se decidiram que o album devia seguir este caminho o souberam fazer mesmo muito bem (e que, segundo já soube, o apresentaram muito bem no NOS Primavera Sounds, como deles se estava a espera.)
Se não o achasse coerente dentro de uma "desordem quase calculada" podia destacar uma ou duas musicas, mas não o vou fazer.
Porque não se desmantela assim uma obra de arte sem que dela se conheça o seu todo primeiro. Pelo menos eu não me atrevo a faze-lo, e menos ainda neste caso.
Acho que sim, que Paiting With é um daqueles momentos bons de musica que se estranha e depois se cola aos ouvidos, onde dei sempre por mim a pensar em mil coisas diferentes com as mesmas musicas, e, onde, mais uma vez a musica cumpre o papel que eu acho que ela deve cumprir, o de me fazer sentir qualquer coisa.
Nem que seja que estamos diante de um quadro de Duchamp, por exemplo.
O que, sejamos sinceros, no meu caso, é quase como dizer que a coisa é mesmo assim tão boa.
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