Sejam bem-vindos ao Processo de Sampha

Escrever sobre um álbum muito aclamado pela crítica é coisa para eu começar logo contrariada. 

Especialmente quando, logo desde que saiu, este Process começou logo a ser indicado como o grande vencedor de uma data de prémios (e sim, estávamos em Janeiro ou Fevereiro de 2017, e o resto do ano?… Pois.).

A questão com Process de Sampha, é que, não só, de facto, o álbum é muito bom, como vem cheio de coisas novas, daquelas que vão entranhando aos bocadinhos. 

Vem cheio de sentimentos, e de fragmentos da vida real, que podem ser de cada um de nós. 
É quase uma questão de identificação, nem sei bem. 
E, é mesmo só por isso que tinha que falar nele.



Mais conhecido por ter sido a voz dos SBTRKT, ou pelas suas colaborações com Kanye West, Drake ou Jesse Ware, por exemplo, Sampha resolveu ter a ousadia de ser ele mesmo, e mostrar-se tal e qual ele é neste Process

Pelo menos, decidiu mostrar-se assim, meditativo, introspectivo, frágil,  a tentar saber quem ele é, depois de todas as dores e perdas da sua vida. 
Process parece-me um álbum sincero e sem artifícios sobre aquilo que a vida lhe trouxe, e isso é de uma coragem inacreditável nos dias em que vivemos.


Se, numa primeira vista, podemos comparar o seu trabalho com o de James Blake (... se o misturarmos com hip-hop, óbvio), o que, a mim, pessoalmente, não me anima muito, não demora muito até se perceber que Sampha é dono de uma voz gentil e ao mesmo tempo forte, com muitas texturas e muito suave, sendo, acima de tudo, dono de um som que é mesmo só dele, sem comparações possíveis, por mais que nos sintamos tentados a fazê-las. 
Não só porque o estaríamos a limitar de alguma forma, mas também porque acabaríamos por perder mais de metade da magia do que ele nos traz com Process.


Falar em Process é falar, obrigatoriamente, em (No One Know Me) Like The Piano, a balada do álbum, a que me parece mais despida de outras coisas, a não ser dele e das suas coisas, dos seus medos, das suas tristezas e das suas memórias. 

(No One Knows Me) Like The Piano é, à primeira vista, a musica incontornável do álbum. (Isto, claro se o ouvirmos só ao de leve. Digo eu.) Se é a que eu mais gosto? Pois... Isso já são "outros quinhentos", e, se tiver que falar a serio, é fácil dizer já que não.


Depois de ouvir o álbum vezes sem conta, e de me apaixonar por todas as suas variações, de lhe tentar ver o sentido total, de o ir saboreando assim aos bocadinhos, posso dizer que Process é um álbum coeso e nada aborrecido, que me acalma os sentidos sem me deixar dormente. E que vem cheio de subtilezas que só se descobrem quando o ouvimos, e voltamos a ouvir, muitas vezes. 

Pelo menos isso foi o que me aconteceu, a mim, que devo ter um ouvido menos treinado para este tipo de sons.


De Process, é de reter o tal "poder total" de Sampha (na voz, na melodia das músicas, na percussão, nas letras, nos coros… basicamente em todo o lado! Uma espécie de "super poder" que, na realidade, é mesmo só o "ser real"...), especialmente em Kora Sings, Reverse Faults, Incomplete Kisses e What Should I Be?.


Process é um grande álbum, vou terminar por dizer. 
Daqueles que vai continuar a rodar no iPod, enquanto esperamos por Junho. 
Afinal de contas, Sampha é um das minhas escolhas para o Nos Primavera Sound deste ano, e eu tenho a certeza que vai ser mesmo bom.

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