NOS Primavera Sound 2014: a reportagem

Depois dos dias de RiR, foi tempo de rumar ao Primavera Sound. 
Mas ao do Porto, que o de Barcelona terá de ficar para outra ocasião.

À terceira edição, a minha primeira experiência. 
Muitos foram os elogios que ouvi em relação ao festival, ao recinto, à organização e à praça de alimentação...
No que ao cartaz diz respeito, este ano não foi espectacular. Mas, para nós, até tinha alguns pontos de interesse. (Cof, Cof, Cof, que, no meu caso, tinham que estar quase todos à mesma hora do mesmo dia, same old, same old...)

dia 5:

Apanhámos o concerto de Rodrigo Amarante, ex Los Hermanos, ainda no início. 
Não ficámos até ao fim, que não cola. 
Ao contrário da Chavininha, eu tentei dar-lhe o benefício da dúvida, mas em vão. 
E só tenho uma coisa a dizer: ainda bem que há gostos para tudo e artistas para todos os gostos. (Clap, Clap, Clap.)

Sky Ferreira foi quem se seguiu, e também não me entusiasmou. (Ora bem, eu sei que não conseguimos ver o concerto inteiro, porque os nossos amigos têm fome e essas cenas mais mundanas, mas eu confesso que gostei, que a "piquena" não me pareceu nada mal, e que ainda me atrevi a uns pequenos passos de dança com Sky, que me pareceu quase uma Vanessa Paradis em tempos de "Joe Le Taxi". A "cara" da Kitsuné Maison, com um álbum apenas conseguiu por as pessoas do palco SuperBock de braços no ar e a divertirem-se. Se foi espectacular? Pode ter sido, a mim soou-me bem. E chega.)

Um outsider nestas coisas dos festivais de seu nome Caetano Veloso foi um dos responsáveis pela enchente do primeiro dia - o segundo actuaria mais tarde. 
Acredito que muitos estariam à espera dos clássicos, da postura mais ligeira, (ler Caetano em modo "Homem e Violão"), felizmente não houve nada disso e o concerto foi bom. 
Caetano, o homem que dá quase mais concertos em Portugal do que os The National ou Ben Harper, Caetano que é, quase sempre Top de vendas em Portugal, atreveu-se a trazer um concerto em modo Primavera Sound, com muita energia transmitida por uma talentosissima banda. Caetano que fez com que o Parque da Cidade aquecesse numa noite fria. Caetano que (Claro!!!!!) cantou o Leãozinho, e "Você não Sabe Nada", mas que (OHHHHH, HERESIAAAAAAAA) não cantou "Você é Linda", nem "Menino do Rio", trocando-as pelo seu material mais recente. E que nos levou ao Rio de Janeiro, apenas e só quando tocou "Desde que o Samba é Samba". 
Para mim, e ao contrario do que estava à espera, Caetano deu um dos melhores concertos (e menos hipster, confesso) deste Primavera Sound. Mas o que sei eu? Nada. Apenas o que senti e o que aquilo me fez sentir.

Dali para o muito aguardado concerto das manas Haim. 
E que concerto! Foi um dos melhores do festival, seguramente o melhor do dia. Passaram os temas todos em revista, ofereceram-nos jam sessions e até interagiram em português - o que fica sempre bem.
(Não posso concordar mais com a Concertina. Aliás, lembro-me de, quando tentámos fazer um top 5 dos concertos que tínhamos visto, lhe ter dito que, para mim o concerto das Haim foi "só" o melhor. A entrega, a simplicidade, a falta de vedetismo e a explosão do publico, que agarraram com mestria.)

No palco ao lado, preparava-se a estreia de Kendrick Lamar em solo nacional. 
Diz-se que foi bom, muito bom, simples, directo e que a presença de uma banda só ajudou à festa. 
Eu não aprecio. 
Mas acho bem que se lembrem de quem gosta do género.

A fechar, Jagwar Ma - outra das bandas que queríamos ver mas não conseguimos aguentar até ao fim, que a chuva, o cheiro a ganza que se tornou insuportável e o ambiente esquisito levaram-nos a melhor. 
Ainda assim, conseguimos apanhá-los em "Uncertainty" e "Let Her Go". Mas a imagem que me fica é a de que soaram demasiado a Tame Impala. E, desses, eu não sou fã.

dia 6
Não fomos. Devido ao alerta amarelo de temporal mas sobretudo porque não havia nada no cartaz do dia que nos puxasse. 
Muito menos os Pixies.
(E as Warpaint???? AHHHHH, pois, já as tinhamos visto aqui. E uma vez por ano diz que chega. hahahahahahahaha)

dia 7
Último dia, em modo primavera. 
Literalmente. 
O parque ganha de facto outro ar num fim de tarde soalheiro. 
E devo confessar que o concerto dos "Charlies" soube a pouco, mas foi bonito. 
Melhor, só se tivessem tocado mais e para (ainda) mais gente. 
Não estavam muito comunicativos, é certo, mas representaram e bem o melhor que se faz por cá - só não entendo como é que não houve actuações de mais bandas nacionais...

John Grant faz-me lembrar um lenhador. 
Pelo menos, até começar a cantar. 
Aí, envolve-nos num tom de voz impressionante e melódico, entre canções mais roqueiras e outras que nos remetem para o universo de Bon Iver. 
Foi simpático, soou bem e foi uma bela "primeira parte" para os The National.

Não tenho muito a dizer sobre o concerto. 
Já são como "velhos amigos". 
Matt Berninger e companhia estiveram incansáveis, a voz de Matt aguentou-se melhor do que no concerto em Lisboa, mas emocionalmente não foi tão intenso. 
Pelo menos para mim, que quase chorei da última vez. 
Claro que vibrei com os temas que mais mexem comigo, mas o que se viveu o ano passado em Lisboa, não se reproduziu no Porto. 
É pena. 
Teria sido ainda melhor. 
Sim, a setlist foi impecável, a menina dos st vincent até deu uma ajuda em "sorrow" e Matt Berninger correu sérios riscos de ser engolido pelo público. 
Mas, faltou qualquer coisa. "Vanderlyle Crybaby Geeks" não foi espectacular. 
Não se ouviram tantas vozes, e é daqueles momentos que arrepiam sempre. 
Talvez tenha sido do espaço, talvez porque continuam a haver pessoas mais interessadas em falar do que em sentir... foi bom, mas não foi fabuloso.
(Eu não tenho nada a declarar. Porque eu não sou fã. E porque não achei que tenha passado a ser depois do que aconteceu no Primavera Sound. (e confesso que nem que tivesse sido na muralha da China.) Não devo ter arcaboiço musical para entender a profundidade da coisa, ou então é mesmo porque sou dura de ouvido. Who Cares? O que eu gostava mesmo é que não tivessem posto à mesma hora as Dum Dum Girls, mas especialmente o Charles Bradley, que esse sim, diz que deu um concerto "à Porto.")

St Vincent foi brutal em palco. 
Annie Clark foi deliciosa no seu papel de boneca do rock, mesmo nos momentos mais calmos. 
Não sei se toda a gente achou o mesmo - provavelmente porque passaram a maior parte do tempo na palheta. 
Ela merece definitivamente mais atenção.
(Lá está, eis um exemplo de uma coisa que eu gosto: St. Vincent. E que deram Show. Os St. Vincent. Aquela banda que teve a infelicidade de tocar depois dos The National, e que levaram com os chatos todos que tinham ido ao festival porque é bem ir a concertos, mas que ainda não perceberam que nos concertos se ouve musica e não se tem conversas importantissimas sobre "quem envelhece melhor, os homens ou as mulheres?" como os 4 imbecis que estavam atrás de nós. Conversas que, claramente, não podem ser tidas em nenhum café e tem que acontecer no concerto...
A conceptualidade quase caricatural de Annie Clark pode não ser a mais fácil de absorver, eu entendo. Até entendo que as pessoas não se dêem ao trabalho de ouvir o que ela está a dizer enquanto comunica (e tão bem) com o publico. Mas, a música, essa coisa que faz mover montanhas, isso sente-se. E St. Vincent, mais uma vez foi extraordinária a cantar estórias.)

Felizmente o mesmo não aconteceu com os chk chk chk (!!!), que fecharam o nosso Primavera Sound. 
Já passava das duas da manhã quando os moços subiram ao palco, e eu achei chato estar tanta gente sentada. 
Foi um estrondo, uma autêntica festa. 
Mais uma vez, com o vocalista correndo o risco de ser engolido por quem assistia nas primeiras filas. 
Adoro os passos de dança - ou seja lá o que aquilo for. e dançar ao som de "One Boy / One Girl", "Slyd" e tantas outras é sempre perfeito para "exorcizar os nossos demónios".
(A única coisa que me ocorre dizer é que !!! é o concerto perfeito para dançar como um Deus. Como se ninguém nos estivesse a ver, ou seja, como devia ser.)


Já lá vai uma semana, mas as (primeiras) impressões mantêm-se.

(Bom, nem tudo são rosas, claro. As nuvens de ganza, o ambiente mais "pesado" na primeira noite, as pessoas que insistem em ir a festivais para falar. Alto. O sound check ao mesmo tempo que decorre um concerto no palco ao lado. O vento, que trouxe o som de outros palcos e que incomodou algumas actuações. Ah, e a chatice de colocarem à mesma hora concertos que valiam a pena ver).

O festival não (me) desiludiu. 
O ambiente, o espaço - e sobretudo a sua organização, a pouca invasão publicitária, o frio, a chuva, o sol de fim de tarde. 
Até as casas de banho. 
E, claro, a boa música.

Se o orçamento permitir e o cartaz ajudar, diz que voltamos lá para o ano.

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