Recordar «O Jazz de Sassetti»

24 de Junho de 2014.
Bernardo Sassetti faria 44 anos.
Dois anos passaram sobre a sua morte, e a emoção mantém-se.
No CCB, mataram-se saudades da pessoa, do músico, do génio, cortesia da Casa Bernardo Sassetti, que pretende manter vivos a sua memória e o seu trabalho.

Os convidados portaram-se à altura da ocasião. Não conhecia o solista, de seu nome João Paulo Esteves da Silva, e fiquei impressionada. Um «veículo» inspirado para nos transportar ao universo romântico de Sassetti.
Foi uma primeira parte mais clássica, mais emotiva, admito, onde houve lugar para alguns dos meus temas preferidos: Reflexos, O Homem Que Diz Adeus, I Left My Heart In Algândaros de Baixo e O Sonho Dos Outros.


Senti um arrepio.
Ainda hoje me faz confusão ver outro pianista interpretar os seus temas.
Tive a sorte e o prazer de assistir a vários dos seus concertos e emocionei-me sempre. E, ontem, sempre que fechava os olhos para escutar cada nota, cada acorde, era como se o estivesse a ouvir novamente.

Na segunda parte, a envolvência do jazz: os músicos da Orquestra de Jazz do Hot Clube não desiludiram. Aliás, foram fantásticos.
Sob a batuta de Luís Cunha, a sintonia e a harmonia da orquestra foi irrepreensível. Dos saxofones, trompetes e trombones, ao piano e à guitarra. E claro, o contrabaixo (grande António Quintino!), e a bateria (impressionante, o miúdo!).
Pescaria, o único tema composto por Sassetti para big band, não é nenhuma obra-prima - não quero ser daquelas pessoas que acham que tudo o que alguém que desapareceu fez é fabuloso - mas tem bons momentos. Pedaços que são, sem sombra de dúvida, «Sassetti», em que se sente a sua alma.
Os arranjos de Felipe Melo, de Daniel Bernardes e de Iuri Gaspar para alguns dos temas como Algumas Coisas Não Mudam ou Quando Volta o Encanto ou ainda a reprise de I Left My Heart in Algândaros de Baixo foram entusiasmantes.
Não é difícil perceber porquê. Estamos habituados a ouvir os temas para trio: piano, bateria e contra-baixo. Graças aos instrumentos de sopro, a melodia ganha outra cor, outra vida, outra intensidade.


Quase duas horas depois, o encore e com ele o último acorde.
Em suspenso, como se a sua música estivesse inacabada.
E somos repentinamente trazidos de volta à realidade.

Para que a sua música nunca morra, «o último que deixe um acorde em suspenso, por favor»...

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