NOS Alive 2015: crónica de um festival

«o melhor cartaz, sempre!» é a premissa do NOS Alive.
Ora bem, olhando para o deste ano, confesso que me causa estranheza.
Os cabeças-de-cartaz não são novidade, e verdade seja dita, nem a maioria das restantes bandas. E nem o palco Heineken que normalmente nos entusiasma mais, esteve ao nível a que nos tem habituado.
Este ano foi mais do mesmo. Parafraseando a Chavininha, «outra vez, arroz».
E talvez por isso, a sensação que fica no dia seguinte é «podia ter sido pior, mas ainda bem que foi só assim». sendo que o mais grave é que a opinião não é exclusiva nossa.

Nestes três últimos dias, fomos partilhando ideias não só entre nós, mas com os nossos gnomos que graças a Deus ainda não desistiram de ir a festivais. E a opinião geral é de que já não se fazem festivais como antigamente.
E tudo, única e exclusivamente por causa do cartaz, que este ano não foi «o melhor (de) sempre».

Dia 1 - And So It Starts

Começámos o dia cedo, com a estreia dos The Wombats em Portugal, no palco principal. Com um alinhamento mais do que previsível, para quem tem acompanhado os seus concertos dos últimos meses, Matthew Murphy e companhia entretiveram-nos durante mais ou menos 45 minutos, com músicas dos três álbuns, alguma interacção com o público, e o que poderia ter sido um fim de tarde explosivo, foi só assim-assim.
Para o fim, ficou "Let's Dance To Joy Division", que deixou a Chavininha a pensar «por que raio é que o resto dos 45 minutos não foi a rasgar como o que acabou de acontecer agora?». Não sabemos. Mas ficamos com pena. Ou, pelo menos, a Chavininha, ficou.

Depois dos The Wombats veio James Bay (e começou também a leve esquizofrenia musical a que o NOS Alive já nos habituou nos seus cartazes...). E o que dizer? Muito pouco, quase nada, na verdade. Não só porque a gerência não é fã do miúdo, mas também porque os gritos das fãs histéricas não deixaram margem para tal. Não achámos que tivesse sido mau; verdade seja dita, James Bay cumpriu.

Seguir-se-ia Ben Harper & The Innocent Criminals, o que para nós traduziu-se em «hora de jantar».
No palco Heineken, o regresso dos Metronomy terá entusiasmado muita gente, menos a nós, que não somos dadas a variações melódicas que derivam de musicais dos anos 70 («E se alguém me tivesse dito a mim que eles iam ficar assim eu juro que não queria acreditar! Onde estão os Metronomy de Pip Payne?» Chavininha dixit). E logo depois de "R.A.D.I.O L.A.D.I.O", seguimos caminho, voltando ao palco NOS a tempo do concerto dos Alt-J.

Vimo-los há dois anos, numa tenda à pinha, um dos melhores concertos desse ano no festival. Desta vez, também se portaram à altura, mas sem a mesma intensidade. Porque o espaço do palco NOS é demasiado «frio» para concertos de bandas que pedem maior intimidade e proximidade. Não se trata aqui do tamanho do palco em si, mas da falta de envolvente, do mesmo. Alt-J no palco NOS do Primavera Sounds, por exemplo, teria tido muito mais o efeito que se esperava de um concerto deles.

E muitos dos que assistiam estavam à espera dos Muse e não lhes deram a devida atenção.
Estes últimos, longe de terem dado um concerto explosivo e brilhante - como aconteceu no Estádio do Dragão, por exemplo - cumpriram, com um alinhamento inteligente, com os temas do novo álbum a intercalarem com os grandes sucessos, deixando um publico conhecedor e sedento de rock como é o nosso fascinado. Os Muse que já são nossos velhos conhecidos, e que mais uma vez não desiludiram.

[Também tivemos o problema de lidar com a falta de civismo constante de quem está a ver concertos, que a esta altura, mais do que chatear já parava: às pessoas que não gostam ou não querem, ou já beberam demais como para saber o que estão a fazer/ver o que esta ali a acontecer: não fiquem a estragar os concertos dos outros. É feio. E não se faz.]

Mas a nossa noite não acabou por aqui. Era tempo de passar no Palco Heineken mais uma vez, só para ver se os Django Django continuavam na sua melhor forma. E sim, a banda continua bem e de saúde, a tocar como já nos habituou, já o som do próprio palco Heineken é que not so much. Nós é que não devíamos ter estado no Alive de 2013, provavelmente. E não os devíamos ter apanhado no seu devido tempo e espaço, naquele concerto tão, mas tão magico. E foi por isso que demos o dia por terminado. Achávamos nós. 
Fila, uma das melhores palavras para definir o NOS Alive é provavelmente "fila". "Fila" para entrar, "Fila" para comer, "Fila" para sair de lá... e quase 2 horas e meia depois estávamos em casa. Animador? Pois... Não.

Dia 2 - Late Night Delight

Pois que, ao contrário de (quase) toda a gente, o nosso objectivo maior no segundo dia de NOS Alive era chegar depois dos Mumford&Sons. Mesmo que para isso fosse preciso perder os Ting Tings. Como somos umas meninas muito eficientes, o objectivo foi cumprido na perfeição: entrada em modo "late night" no recinto, que nos fez parar logo no palco Clubbing para ver (e dançar) ao som de Batida. (já sem Marcus Mumford e os outros rapazes no palco principal, yeay!!!!!)  Batida que foi mesmo bom e nos pôs a abanar os pés quase a hora da Cinderela antes de irmos para o Palco Heineken onde íamos ficar o resto da noite.

Uma das vantagens de entrar num festival a esta hora é que estamos prontas para dançar como se não houvesse amanha. E ainda bem, porque a paragem seguinte foi com os Future Islands, numa tenda cheia de gente que canta e dança ao som da banda de Samuel t. Herrings. Nós esperávamos por James Blake. Porque a Concertina ainda não o tinha visto. E, afinal de contas, ela é que é fã.
James Blake que a mim, Chavininha, e depois de 3 tentativas me deixa sempre um bocadinho "desconsolada". E, nem sei bem dizer porquê, dado que o rapaz este ano até tocou numa tenda, não estava frio, e ele até nem se portou mal. A verdade é que, mesmo depois de três tentativas, a mim me pareceu melhor o concerto de SOHN no ano passado no Clubbing do que o de James Blake, em qualquer sítio onde eu o tenha visto. Mas acho que deve ter a ver com a intensidade da coisa.

Diz que como fã, me cabe o papel de contrariar o que a Chavininha escreveu. Mas, olhando para trás, tenho que confessar que me soube a pouco. E não excedeu as minhas expectativas. Não posso dizer que não gostei, que não me emocionei quando ouvi finalmente ao vivo "Limit To Your Love", "Retrograde" ou "The Wilhem Scream", mas não foi arrebatador. Nem intenso - sim, tenho de concordar com a Chavininha, SOHN no ano passado foi tão melhor... E de James Blake, brilhante como ele é, esperava mais, muito mais.

Seguiu-se Roisin Murphy, a senhora Roisin Murphy, que já é mais do que uma certeza nestas coisas da música dançante. Roisin que dá sempre concertos brilhantes e desconcertantes, e, se formos a ver, este não foi excepção.

Não, não ficamos ate ao fim, mas só para tentar não repetir a cena do dia anterior e demorar mais tempo a tentar apanhar o táxi para casa do que estivemos dentro do recinto. Porque, de tudo, a parte da "Fila", é que nos gostamos menos.

Dia 3 - El Grand Final, or not so much

Mais uma vez, chegámos cedo, sobretudo para matar a curiosidade em relação aos Sleaford Mods no palco Heineken, que tanto «buzz» tem gerado. Não achámos nada de extraordinário. O próprio público sentado na tenda fez com que um concerto "Post-Punk" falado, não tivesse qualquer impacto. A mim (Chavininha) lembraram-me o Dan Le Sac e o Scroobius Pip, mas sem as melodias e sem a participação do publico. Aquilo era hermético e fechado. E repetitivo.

Seguimos viagem para o palco principal, onde iríamos ser tele-transportadas para os anos 90 com os Counting Crows. Ou assim o esperávamos. 
Antes disso, ainda assistimos ao final do concerto dos HMB que nos puseram a dançar e que nos divertiram imenso, fazendo-nos recordar momentos de fim de tarde épicos de anos anteriores.
Os HMB foram os únicos capazes de tornar as seis da tarde tão intensas como as dez da noite.

Voltando aos Counting Crows, e à excepção de "Accidentaly In Love" que soou exactamente como é e nos pôs a cantar, todo o resto do alinhamento foi competente, e pelo menos a Chavininha dançou e cantou em modo teenager: "Mr. Jones", "A Long December", "Big Yellow Taxi" e "Right Here" (não necessariamente por esta ordem) levaram-nos até ao por do sol. E nós até pensávamos que ia ser bastante pior e que a voz de Adam Duritz não se aguentasse, quando, na realidade, continua exactamente igual.

Às nove da noite chegava Sam Smith. E as nove, nós fomos jantar. Mas, a verdade é que, Sam Smith brilhou numa noite fria e desagradável, com um público mais do que rendido, que cantava, gritava, punha as mãos no ar e tudo e tudo e tudo, e até nós, largámos o sushi e nos levantámos para cantar com ele "Tears Dry On Their Own" de Amy Winehouse. E ficamos, com Sam Smith, até ele ir embora.

Com o frio que se sentia, a espera pelo concerto de Chet Faker tornou-se na procura por um local abrigado. Pouco depois das 23h, o artista subiu ao palco com o seu estilo peculiar. Longe do ambiente do ano passado no palco Heineken e dos concertos em nome próprio na semana passada no Coliseu dos Recreios, Chet Faker deu um concerto absurdamente curto e mediano, destacando-se apenas "No Diggity", "I'm Into You", "Gold" e "Talk Is Cheap". Ou seja, outra vez arroz. (chavininha dixit)

Com os Disclosure a entrarem em cena dali a uma hora, a espera foi insustentável. Mas aguentámos, com muitas dificuldades, enquanto víamos o recinto tornar-se num zoo. As pessoas deixaram de ser pessoas e passaram a ser animais, uns exóticos e engraçados e outros absolutamente selvagens. Parecia que estávamos a assistir a uma transformação do próprio recinto, que se preparava para assistir ao show dos manos Lawrence.

E, na realidade, que show.
Os Disclosure não desiludiram nem por um momento, e transformaram o palco NOS numa pista de dança, e tocaram tudo o que tínhamos direito, desde "When a Fire Starts To Burn", "F for You" à musica nova "Holding On", com Gregory Porter a aparecer no ecrã gigante, terminando o set com "Latch" sem Sam Smith, numa interacção perfeita entre público, banda e luzes/vídeos. E, se não fosse o frio que insistia em ficar e as pessoas que insistiam em nos incomodar, teria sido uma forma quase perfeita de fechar o festival.

Mas não íamos ficar por ali. Ainda tínhamos que tentar ver Chromeo, até porque ano ano passado eles não vieram (e nós somos de cobrar estas cenas).

Entre uma coisa e a outra, e uns belíssimos waffles de chocolate, ainda estivemos entretidas a ouvir a música que vinha do coreto. E sim, digamos que é coisa para ser mais divertida, estar meia hora a ouvir AC/DC, Beyoncé ou os Chemical Brothers, do que estar em silêncio, ao frio, no palco principal à espera.
Mas isso somos nós que não gostamos de apanhar secas.

Sendo assim, e para não quebrar tradições, fica o nosso top 5 de concertos do NOS Alive 2015:

1 - Disclosure (apesar de se terem esquecido de trazer o Sam Smith, do frio e do zoo que estava à nossa volta, é o que se espera de um concerto de cabeça de cartaz de um festival.)
2 - Muse (que só não ficaram em primeiro porque tocaram o Madness, e outras cenas completamente desnecessárias)
3 - Alt-J (que deviam ter sido brindados com uma plateia melhor comportada e dedicada e calada)
4 - The Wombats e James Blake (um para uma e outro para a outra, porque foram as novidades do NOS Alive, e porque é coisa de fã. Ou se sente ou não se sente.)
5 - Sam Smith (que foi dos únicos capazes de prender o público do principio ao fim, num concerto que noutro sitio e com outras pessoas não passaria de mediano.)

Podíamos reclamar mais de muito mais coisas, mas é contraproducente. Podíamos dizer que já ninguém aguenta o barulho das pessoas no meio dos concertos, mas a verdade é que as pessoas não aprendem, e ir ao NOS Alive, não é ir pela musica, é ir porque fica bem. E para isso, nós já não temos paciência.
Tudo podia ser pior do que nós contámos, mas como a verdade é que a #equipaphonographme anda sempre a espalhar magia, este foi mais um Alive, com concertos menos memoráveis que o costume, é certo, mas cheio de histórias para contar, como é habitual.

Para o ano, há mais.
Ou não.

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