(tud)O novo nos Tame Impala, ou Currents.


Os Tame Impala já são nossos velhos conhecidos, é um facto. (E mal era que não fossem!) 
E se, também é verdade, que Lonerism, o segundo álbum da banda não entrou de forma fácil, e que dele eu só ouço "It Feels Like We Only Go Backwards" (tá bem que em repeat... e talvez por causa da versão dos Arctic Monkeys... Who Knows?), a verdade também é que a minha ideia sobre Kevin Parker (o mentor, criador e porque não, a cabeça por detrás dos Tame Impala!) não se alterou, e que sim, Currents, o terceiro álbum da banda, entrou para o grupo restrito de álbuns que eu trouxe de férias, mesmo antes de sair a publico.



Numa entrevista que li no outro dia na NME, Kevin Parker reconhece a influência de novos sons neste album, de forma a que o som de Currents se torne mais apropriado às pistas de dança. 
Eu já tinha dito algo semelhante quando falei na colaboração de Parker com Mark Ronson em Uptown Special, especialmente em Daffodils



O novo som dos Tame Impala a mim soa me melhor (passando a redundância), mais "novo", mais limpo, mais livre talvez. 
Embora, e na sua essência, continue a chegar com o mesmo espírito "livre" e com as mesmas letras muito atentas e muito bem escritas que caracterizam os Tame Impala. As letras que, de tão up-to-date e tão reais são, no mínimo, fascinantes. 

Se, ao mesmo tempo que "Daffodils" ou "Summer Breaking" de Uptown Special (o de Mark Ronson) iam tocando cá por casa e trazendo com elas Kevin Parker, fazendo o ganhar um lugar de destaque na minha colecção de sons, a verdade é que foram aparecendo também, quase ao mesmo tempo os primeiros sons deste Currents. O que significou mais Tame Impala, e mais Kevin Parker, claro. E, para contar bem a estória, "Let it Happen" conquistou me logo. Não sei se por isso, pela proximidade a Daffodils, ou porque sim. 



Para além da pertinência (total!) da letra, juntamente com o tal som menos denso dos Tame Impala neste terceiro álbum, isto tudo junto fez com que "Let It Happen" se entranhasse e me pusesse logo a cantar. 
E, embora eu defenda sempre que as músicas deveriam ter 3 ou 4 minutos e não mais, neste caso não consigo não achar impressionante a qualidade musical aqui presente: as distorções, os up-tempos, a melodia em si, e a voz mais do que característica de Kevin Parker... e podia estar aqui a enumerar coisas que me fascinam em quase 8 minutos de magia. Sim, se a ideia era fazer música para cantar e dançar, o objectivo comigo foi mais do que conseguido.



(Muito pouco) Tempo(s) depois chega "Cause I'm A Man", mais down-tempo, mais slow, mais anos 80, digo eu. 
Com uma mensagem forte, é, mais uma vez uma melodia marcante, mais embalante e, porque não calmante até. (Confesso que também adoro o vídeo desta música... Mas isso terá a ver com a minha tendência mais Pop Art, a minha fascinação por animação, ou outra qualquer dessas chavinices).


E, antes ainda de sair Currents saiu "Eventually", que é uma das minhas músicas preferidas: a letra e a música criam um micro-universo daqueles que eu adoro. 
Um "sítio" com princípio e fim, que se desenvolve, enrola e desenrola em 4 minutos, sem que em algum momento seja estático. 
Uma sonoridade que nos mesmo 4 minutos, nos tira e nos devolve à nossa zona de conforto. Uma musica cheia de pormenores importantes e impressionantes. Um dos melhores momentos do album. Mais enriquecedor. Com mais poder. Digo eu.

Depois disto chegou (me) finalmente Currents. 
Um álbum riquíssimo em momentos tão diferentes como "Nangs", mais ao jeito do anterior "Lonerism", mais virado para dentro, que funciona como uma transição perfeita entre "Let It Happen" e "The Moment", que funcionam ao contrario.



Outro dos momentos do álbum que mais se me entranhou foi "Yes, I'm Changing". Para mim a melhor letra de Currents (e arrisco de que de Parker até agora!).
"Gossip", "Past Life" e "Disciples", são musicas que devem soar ainda melhor ao vivo por causa das guitarras mais marcadas, e que encaixam na modernidade única dos Tame Impala, agora mais mexidos e menos contemplativos do que no álbum anterior.




Num registo diferente surge ali no meio "The Less I Know The Better", que, juntamente com "Reality In Motion", são mais acutilantes em toda a sua forma.


Currents acaba com uma dose dupla de bom som: "Love/Paranoia" e "New Person Old Mistakes", que eu arrisco a dizer que fazem parte das músicas mais conseguidas de Parker, (no novo "estilo" dos Tame Impala) mas que não fazem nunca perder a identidade marcada e que já se tinha criado nos dois álbuns anteriores.



O que me fica então por dizer de Currents é muito pouco se o analisar de forma rígida e musical:
Tendo em conta a mestria de Kevin Parker (de que já falei tanto ali em cima) e a sua habilidade musical (que são incontestáveis e incontornáveis neste momento em toda a cena musical deste mundo e do outro), bem como o seu talento (mais do que evidente) enquanto letrista, a sua imagem frágil e desprotegida e a forma como ela se cola e molda o trabalho dos Tame Impala e, de uma forma quase inconsciente, acaba por definir o seu som. 

Ocorre me até que Kevin Parker está para os Tame Impala como os próprios Tame Impala estão para Parker: fazem parte integrante um do outro, e não há aqui forma de os separar.



Emocionalmente falando, é outra historia. 
Currents faz me pensar na tal importância que, hipoteticamente, existiu na colaboração de Parker e Ronson e na importancia da tal colaboração no trabalho de Parker. 

Faz me pensar que o som dos Tame Impala passou de um som mais contemplativo e sereno a um som mais crescido e mais assertivo e marcante, sem perder a tal identidade de que eu já falei.
Passou de um som mais introspectivo para um som mais expansivo, se é que o som pode ter tais qualidades. Um som e uma linguagem musical mais rebuscada que mudaram para uma outra forma mais simples e ao mesmo tempo muito mais complexa e cheio de pormenores. Se calhar mais adulta e sem manias. Ou talvez precisamente o contrario.

Pessoalmente, acho o um dos melhores álbuns de 2015. 
Porque no meu caso teve o timing certo também. E tem o som certo para (este) agora. 
E vai acabar por ficar muito tempo no iPod. 
Arrisca se até a ser um dos que não vai de lá sair... 
Quem sabe? 


"...they say people never change, but that's bullshit, they do, yes I'm changing, can't stop it now, ans even if I wanted, I wouldn't know how..." em Yes, I'm Changing.

Sem comentários:

Imagens de temas por merrymoonmary. Com tecnologia do Blogger.