Viagens paradisiacas ao som dos Reverend and The Makers.

Eis que, no fim de Setembro, nos chegou o 6º álbum dos Reverend and The Makers, The Death of a King. Eu confesso que, sendo assumidamente seguidora de Jon McClure e do seu séquito, esta espera de 2 anos me soou a muito tempo, mas a verdade é que o álbum novo dos ingleses é um tesouro para os meus ouvidos.

The Death of a King é um album muito pessoal e tenta chegar ao maior numero de géneros musicais possível, levando-os a tentar transcender-se a eles próprios, criando misturas geniais. O álbum parece ter vida própria, uma espécie de organismo autonomo que vive só dele.




Entramos nesta viagem ao som de "Miss Haversham", onde as citaras e o momento mais psicadélico abrem a viagem musical, que a seguir é marcada pelas cordas da guitarra, pela voz de Jon McClure, o Reverendo, e pelo coro. 
O ritmo que nos rege aqui é o do Rock, que se mistura com uma melodia mais étnica e que lembra os Beatles,  até ao refrão, quase só melódico. 
Impossível não falar em "Black Flowers", uma balada meio blues, muito rica ao nível instrumental. Adoro o desenvolvimento até ao refrão, especialmente a importância das teclas e a voz que se vai tornando mais acutilante conforme a própria melodia se vai desenvolvendo. "Black Flowers" acaba de forma inesperada e em jeito psicadélico de novo, de uma forma muito onírica, provavelmente por causa da ajuda do coro. E sim, de novo temos aqui a influencia dos Beatles, especialmente da sua fase Magical Mistery Tour.

Uma das coisas que sempre me agradou muito nos Reverendo and The Makers é isto: as musicas são curtas e concisas, sem tretas.






Uma das paragens obrigatorias em The Death of a King é "Bang Saray", e a sua entrada marcada por tambores tribais e os violinos, que a enchem de vida, especialmente quando dão entrada à guitarra. "Bang Saray" tem as obrigatórias influencias orientais, que se juntam a um baixo pesado e a um beat que podia ter saído de Record Collection de Mark Ronson.

A viagem segue com "Auld Reekie Blues", divertida e melódica, quase primaria, onde o coro tem mais uma vez um papel crucial. Isto é uma daquelas musicas que pede palminhas, o que, no meu caso, é quase sempre bom sinal.

The Death Of a King é marcado pela voz do Reverendo, que é sempre fundamental nestas viagens musicais, e que as torna sempre viagens da mais alta categoria.





The Death Of a King vem cheio de momentos diferentes entre si, mas que se complementam, e que complementam o próprio álbum. 
Musicas mais pesadas e mais simples, como estas de que vou falar agora: "Carlene", uma espécie de musica de cabaré, com piano, e que nos leva ao White Álbum dos Beatles, "Black Cat", divertida e descomplexada, "Lisa", com a preciosa ajuda de James Skelly, mais ao jeito country/folk, mas que sempre que toca me lembra os Beatles de Love Me Do, até que chegamos a um dos pontos altos do álbum, para mim, que é "Juliet Knows": uma musica bonitacom uma simplicidade quase infantil ao nível da melodia, especialmente quando aparece tocada em acústico.




"Too Tough To Die" foi o primeiro single que saiu de The Death Of a King, um rock n' roll bonito e simples, fortissimo ao nivel das guitarras e deliciosamente sexy. As distorções próprias dos Reverend and The Makers dão à musica toda uma outra dimensão.
"Too Tough To Die" dá o mote mais indie do album, que podemos encontrar em "Monkey See, Monkey Doo", "Time Machine" (onde encontro sempre influencias dos Dutch Uncles), "Still Down", que serve quase de referencia ao álbum anterior da banda de Sheffield, e outra das minhas preferidas "Autumn Leaves", mais pesada e com mais guitarras eléctricas, e com solos de guitarra geniais.





O álbum acaba com "You Can Have It All", com a ajuda do grandioso John Cooper Clarke e numa onda de Spoken Word que me anima sempre. Especialmente quando a letra é brilhante, como neste caso. É uma forma perfeita de acabar o álbum. Uma forma que só o Reverendo e o seu culto iam conseguir fazer tão bem. Uma espécie de "regresso a casa" no fim de uma viagem.




The Death Of a King é um álbum intenso e leve ao mesmo tempo. 
Como assim? 
Simples: desde musicas quase primarias na forma, a cantigas de amigo e momentos de spoken word, sempre com as mais diversas influencias (quer de outras bandas quer do sitio onde foi gravado, influencias orientais, portanto), o álbum é uma verdadeira viagem ao universo criado pelo Reverendo e pelo seu séquito, que continuam a ser geniais de álbum para álbum. 
Provavelmente os Reverend and The Makers são uma das bandas mais bem escondidas do indie-rock de Sheffield. E eu acho óptimo te-los descoberto há tanto tempo.


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