A música (mesmo) bonita do álbum novo de Nikka Costa

Já ando para vos falar no novo álbum de Nikka Costa há uns tempos, (e, na verdade, até cheguei a pensar se seria mesmo preciso....), mas cheguei à conclusão que falar em música bonita e muito bem feita nunca é demais, porque faz sempre falta.

Começo por dizer que Nikka Costa é, para mim, e há muitos anos, um nome que devia ser obrigatório, apesar de ter sempre achado que nunca lhe deram a atenção necessária, sabe Deus porquê.

Assim, ao oitavo álbum, Nikka decidiu fazer uma homenagem a músicas que marcaram a sua vida, umas relacionadas com o seu pai (que as produziu com nomes como Frank Sinatra, por exemplo), outras que a própria escreveu para Prince, e músicas dela de outros álbuns, e a que decidiu (e bem!) acrescentar uns "pózinhos de perlimpimpim" e transformar em músicas ainda mais bonitas.

Este Nikka and The Strings, Underneath and In Between é um álbum ecléctico que sai do Pop, anda ali a passear no Rock e no R&B, e tem uns toques de Funk e muito de Blues, vindo sempre acompanhado com um quarteto de cordas e com arranjos maravilhosos que dão o ambiente certo à preciosa voz de Nikka.
Obviamente que se pode achar, assim do nada, que será pretensioso fazer-se um álbum destes, mas, na verdade, depois de ter gravado com nomes grandes da música como Frank Sinatra, ter escrito com Prince ou Eric Clapton e ter partilhado palcos com nomes como Beck, Erikah Badu, AC/DC, Ben Harper, Ray Charles e Lenny Kravitz, por exemplo, não lhe resta a ela provar mais nada, e dá-lhe a liberdade e o mérito de fazer o que bem lhe apetece. Acho eu.

Podemos definir Underneath and In Between como um álbum bonito e calmo (ou se calhar é melhor dizer sereno?), que nos é apresentado por uma artista despida de artifícios, e sendo fiel a si mesma. Música simples, feita de forma bonita, que eu acho que ultimamente escasseia e que, a mim, me cai sempre tão bem.

As músicas escolhidas vão do universo mais Rock ao mais Blues, como eu tinha dito ali em cima,  - versões de musicas de Frank Sinatra, Judy Garland, Etta James, Dina Washington, Billie Holliday e mesmo  de Bob Dylan, e encontramos varias referências óbvias, como Marvin Gaye e Stevie Wonder em "Love To Love You Less", "Cry To Me" ou "Ain’t That Peculiar". Ou seja, até nisso o álbum é bonito, estão a ver?


A versão de “Nothing Compares To You” de Prince (uma das pérolas deste álbum) é um tributo emocional e poderoso, que soa a Nikka Costa e a mais ninguém, onde os arranjos são magníficos e estão lá para nos ajudar a ouvi-la com ainda mais força e com a garra a que ela sempre nos habituou. A percussão e o baixo jogam a favor da voz, que tem sempre a garra necessária para ser o contraste perfeito com os violinos e as cordas, assim daquela forma sexy que só ela consegue ter, e ao mesmo tempo intimista e frágil. (...Mais que não fosse por causa desta versão, já tinha valido mesmo a pena pôr os ouvidos neste álbum...)

Muito emocional e emotivo, Underneath and In Between faz-nos voltar à essência e despe as músicas, torna-as mais puras. É um álbum de clássicos, feito com uma classe incrível e por alguém que o soube fazer, de forma a demonstrar que a música, quando é bem feita e boa, é claramente eterna e intemporal. E sim, as cordas são essenciais para esta abordagem, ainda que o mais essencial seja mesmo a atitude com que ela canta.  


Outro dos meus destaques vai para "Love To Love You Less", de que já falei ali em cima. Uma versão de uma música da própria Nikka, de um dos temas do último álbum, e uma das minhas músicas preferidas, que, se já era boa, depois desta renovação, ficou ainda melhor com a ajuda da orquestra. Uma canção blues, marcada aqui pela pureza e pela abordagem mais clássica que ela lhe decidiu dar. Até porque, às vezes, é mais difícil despir uma música de artifícios do que torná-la mais barroca, e porque as músicas, quando são boas, resultam tão bem assim de forma simples. 




Não há como não destacar a versão de "Come Rain or Come Shine" de Frank Sinatra, onde o baixo é essencial. Nikka Costa sabe sempre trazer o belo ao de cima das músicas que canta, aqui mais uma vez com uma abordagem tão descomplicada. Este é, para mim, um dos momentos mais bonitos do álbum, um dos momentos mais mágico e que me lembra sempre porque é que a música me é essencial.


Era também necessário falar em Underneath and In Between para falar na versão de "Stormy Weather", ou na de "Lover You Shoud've Come Over", de Jeff Buckley, especialmente porque se fala aqui de coisas bonitas. Mas, na verdade, se formos por aí, teríamos que falar exaustivamente em todas as musicas, e não é esse o propósito deste resumo.


Este Nikka and The Strings, Underneath and In Between é muito emocional e tem muita alma, aquela coisa a que os americanos chamam Soul e que eu acho que não tem propriamente tradução. Nikka & The Strings, Underneath and In Between é um álbum de música real, e de uma forma muito bem feita. Bonita, como na verdade ela deveria sempre ser.


Porque é que eu cismei que era mesmo muito importante falar nisto? 

Simples: Underneath and In Between é um álbum muito bonito, como eu já disse. Daqueles que aparecem cada vez menos vezes. E tão mágico! Daqueles que fazem com que o mundo se encha de todas as cores mesmo quando, na verdade, é cinzento la fora. E a culpa é de Nikka Costa, disso eu tenho a certeza absoluta.

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