Do Canadá com amor chega The Wild, o último dos Rural Alberta Advantage
Sempre gostei de música, é um dado adquirido.
Mas não de qualquer música. Refazendo a frase: sempre gostei de música que me fizesse sentir qualquer coisa. E, provavelmente por isso, é que me apaixonei pelos The Rural Alberta Advantage assim que os ouvi, há já alguns anos.
Daí que estava mesmo à espera que este The Wild não me decepcionasse. Afinal de contas, ás vezes, as bandas que seguimos há tantos anos, fazem coisas de que não gostamos, ou que, se calhar, não eram o que estávamos a espera.
Mas não foi o caso. Os The Rural Alberta Advantage continuam de muita saúde ao quarto álbum.
Em The Wild, podemos encontrar um belo conjunto de canções, onde a música é posta em primeiro lugar, acima de qualquer outra coisa e onde é a música que importa e o que nos faz mesmo sentir.
The Wild mantém-se espontâneo e parece ter sido feito sem esforço. Como se fosse possível fazer mais com menos.
Mas há uma coisa que se mantém: a essência da banda, uma espécie de nostalgia que se mistura com uma urgência inerente à voz e aos temas de que fala Nils Edenhoff, o dono da voz dos RAA. E sim, mais uma vez, The Wild fala nessa nostalgia, fala em perdas e fala na procura de si mesmo, que são temos que os RAA já nos tem habituado nos álbuns anteriores.
Uma das minhas músicas preferidas deste The Wild é "Bad Luck Again", com um ritmo que me lembra sempre o pulsar do coração e uma melodia que demonstra o poder que a música pode ter. Mas comecemos pelo início. "Beacon Hill" dá a poderosa entrada ao álbum, com a voz de Nils Edenloff a dominar a história e a guiar-nos com a melodia harmoniosa e simples que caracteriza todo o álbum, sempre cheia de garra e meio melancólica. A bateria, que em The Wild pertence a Robin Hatch (e que normalmente está a cargo de Amy Cole, que já regressou entretanto à banda), continua cheia de garra e os crescendos que acompanham a voz são sempre muito poderosos.
Num outro registo, mais lento, destaco "White Lights", com uma letra brilhante, mais em jeito folk, com as guitarras eléctricas em uníssono com a voz de Nils Edenhoff, que vai subindo com a bateria, numa das melhores amostras do que os RAA sabem fazer.
Não é, para mim, o melhor momento de The Wild ao nível sonoro, mas é, claramente, o melhor momento ao nível lírico. O final é épico e eu não me canso de dizer que a banda dá sempre o máximo em cada musica, como se não houvesse mais nada a seguir.
Destaco a incontornável "Dead/Alive", num registo mais folk, a lembrar-me um bocado o alinhamento dos Pogues, mas feita de forma mais electrónica e mais trabalhada e muito mais punk. Há aqui mais ritmo e a letra continua a ser espectacular. A importância da percussão e da voz tornam-se aqui mais evidentes, fazendo com que "Dead/Alive" seja, para mim, uma das músicas mais perfeitas de The Wild. O som continua a ser melancólico e a transmitir-me simplicidade, tudo ao mesmo tempo. Mas sem esquecer a força. Não sei bem porquê, mas os The Rural Alberta Advantage continuam a ser um exemplo de força e de intensidade e grandeza, mesmo quando, na verdade, só fazem falta uma bateria e guitarras.
As musicas dos RAA funcionam, para mim, num crescendo e instalam-se, pela sua força e garra, até me serem imprescindíveis. Será sempre discutível se The Wild é, ou não, um álbum brilhante. Para mim tornou-se, aos bocadinhos, especial e essencial, tal como já tinha acontecido com Mended With Gold.
Na verdade, podia destacar quase todas as músicas do álbum, porque cada uma acrescenta um bocadinho precioso a The Wild. Mas destaco só "Letting Go", porque é uma bela musica para acabar. Muito melódica, sem ser chata, e descomplexada, um bocadinho lamechas, que vai crescendo, da mesma forma como The Wild vai crescendo. Não só ao longo do álbum, mas também de cada vez que o ponho a tocar. O final é tudo o que eu gosto: em crescendo e com a bateria a soar tão bem, com uma espécie de explosão, com a voz de Nils e com uma letra que, de tão real, parece que foi escrita de propósito para qualquer momento final.
Os The Rural Alberta Advantage são, para mim, uma das melhores bandas do mundo. Do meu pelo menos.
Uma banda que faz música que soa a real.
Que soa a melancólico sem ser lamechas, e, antes pelo contrário, tem a garra e a essência grunge, misturada com um salpico indie e outro folk. Acho que a receita é mais ou menos esta, tirando que uma voz como a de Nils Edenhoff não se encontra assim muitas vezes.
E isto é o que de tão magico eu vejo nos RAA, especialmente neste The Wild.
“...Oh, tonight we were running for the rest of our lifes...” em Wild Grin.
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