Ao vivo e em disco: "Noonday Dream" de Ben Howard

Aviso à comunidade: a publicação é em dose dupla, sobre o concerto de Ben Howard e sobre o disco "Noonday Dream".

Foi um Coliseu dos Recreios esgotado e ansioso por voltar a ver Ben Howard, que, no passado dia 27 de maio, recebeu o artista britânico, acompanhado por um grupo de 10 músicos (mais coisa menos coisa) e uma panóplia de instrumentos, entre baterias (duas), teclados, violoncelos, violinos, guitarras a perder de vista, baixo e sintetizadores. Todos estiveram irrepreensíveis, ainda que se notasse algum nervosismo - afinal, muitos dos temas iriam ser tocados pela primeira vez ao vivo.


O início do alinhamento, com "A Boat To An Island On The Wall", "Nica Libres At Dusk", "Interlude", "The Defeat" e "Towing The Line", antevia um concerto diferente do esperado, mais centrado na apresentação do novo disco (como seria de esperar) do que em jeito best of. Só a meio é que chegaram as primeiras canções «conhecidas».

Acredito por isso que boa parte das pessoas que lá estiveram - as que estavam atentas ao concerto, pelo menos - tenham saído algo frustradas. É que o encore também deixou de fora os temas vitais de "Every Kingdom".


Ainda nessa tarde, referia que esse Ben Howard não é o mesmo de "I Forget Who We Were" e muito menos deste "Noonday Dream". Muita coisa se passou desde então e não é de estranhar que o moço já não se identifique com aquelas canções. Chama-se crescimento.
Ben Howard mantém o mesmo look, sim, mas já não é a mesma pessoa que em tempos escreveu "Only Love" ou "Keep Your Head Up". Talvez por isso, apenas a belíssima "Promise" tenha feito parte do alinhamento, também ela tem uma aura mais sombria.


A mim, saiu-me a sorte grande. Tive direito às minhas preferidas do segundo álbum, com nota máxima para "The End Of The Affair" que é absolutamente arrebatadora e quase me levou às lágrimas e para "Conrad", numa interpretação excepcional.
E fiquei rendida ao novo disco. A melodia de "A Boat To An Island On The Wall" soa ainda mais forte ao vivo, "Nica Libres At Dusk" é ainda mais impressionante, "Interlude", tema bónus da edição especial, é brilhante e "The Defeat" é incrível. Encontrei conforto em "Towing The Line" e "What The Moon Does", e deixei-me contagiar pelo ritmo de bateria de "Someone In The Doorway". 
Ah, e o moço continua exímio na forma de tocar guitarra.


Admito, ainda que tenha sido um concerto mesmo muito bom, que o alinhamento poderia ter sido construído de outra forma. Como por exemplo, intercalando as canções (mais) desconhecidas com as outras, evitando algum aborrecimento e distanciamento do público. 

"Noonday Dream" acabou por ser apresentado na totalidade no Coliseu, mas ouvir as suas canções em disco uns dias depois surpreendeu-me na mesma. "Nica Libres At Dusk" continua a ser a minha favorita, logo seguida por "The Defeat". As novas canções são mais introspectivas, mais sombrias, e muito menos imediatas, bem longe do «amor à primeira escuta» dos temas de "Every Kingdom".


Transportam-nos para paisagens costeiras de mar infinito, muito por culpa da "reclusão" em locais remotos como a Cornualha onde o disco foi gravado. E se escutarmos com atenção, é possível ouvirmos as ondas nas canções de "Noonday Dream", ora mais calmas ora mais agitadas. E por entre a rebentação (ou os instrumentos), irrompe, como um murmúrio, a voz de Ben Howard.

Sempre senti que o mar tem o dom de nos acalmar os pensamentos e a alma. De nos limpar a mente e de nos revigorar. "Noonday Dream" transmite-me a mesma tranquilidade. E é por isso um dos meus discos de 2018.

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