Crónicas de (mais) um(a) Primavera no Parque: Dia 2

O ano é o mesmo, o espírito também, e podíamos achar que só mudou o dia. Mas a verdade é que o Parque ontem teve muito mais de hip hop do que de rock, o que me deixa sempre com os dois pés atrás. 
Vamos lá pôr isto de forma cronológica que ajuda sempre a organizar as ideias.


Então, ontem, o dia começou já quase de noite, e com uma escolha difícil. As Ibeyi ainda não tiveram a sua hipótese, e nem deu tempo para passar no palco Pitchfork, dado que a primeira paragem foi no palco Seat com os Grizzly Bear.

Eles, que deram o primeiro de uma série de concertos quentinhos e que ajudaram a fazer a magia do segundo dia de Primavera. Um concerto "limpinho", muito competente, onde estabeleceram um contacto directo com uma quantidade enorme de gente que esperava por eles (ou pelo menos por aquela música do anúncio), e que ajudaram a que eu tenha ficado a achar que o novo palco do Primavera Sound seja o melhor sitio para se estar. Mas lá iremos mais daqui a bocado.

Foto de Rui Barbosa
Tudo bem que eu defendo há anos que o hip hop é o "novo rock", o que não implica que seja coisa para me fazer perder 2 minutos que seja para ver o que se passou nos palcos onde estes a tocar. Na verdade, o meu roteiro no Primavera Sound sempre foi mais do rock, ou, na falta dele, a música para dançar. 


O que fez com que, depois de uma paragem para comer, tenha ido rumo ao palco Pitchfork, que foi basicamente o poiso principal de uma sexta-feira sem chuva e sem frio.

Como se esperava, uma das melhores surpresas do Primavera Sound 2018 foram os Superorganism. Provavelmente, apesar das expectativas serem nenhumas, porque eles são extremamente comunicativos e sabem muito bem o que estão a fazer. E, embora só tenham um álbum, deram um grande concerto, com todas as músicas que se queriam ouvir, mas tendo tido as maiores ovações quando tocaram "Night Time" e "Everybody Wants To Be Famous".
Na verdade, os Superorganism deram um grande concerto. Muito melhor do que algumas bandas já nossas conhecidas e de quem esperava muito mais.

Foto de Rui Barbosa
Quem se seguiu aos Superorganism foi outra das boas descobertas do cartaz do Nos Primavera Sound: Thundercat, com os seus caracóis vermelhos e a sua guitarra mágica, que nos levou a oscilar entre o jazz mais experimental e o funk, com o seu "Drunk".
Thundercat que eu acho que é a única pessoa capaz de nos fazer ficar colados a ouvir musicas sobre gatos. Qualquer semelhança entre ele e o que vivemos com os BADBADNOTGOOD no ano passado em Coura não é de espantar, e a mim agrada-me imenso que, ao invés do hip hop americano venham estes músicos mais experimentais (e experimentados).
Thundercat foi o rei do palco Pitchfork. Mesmo que tendo sido incomodado pelos beats que ainda vinham dos Four Tet e do palco Superbock.

Foto de Rui Barbosa
De qualquer forma, há uma coisa que se deve reter e que é da maior importância: o concerto da noite foi das Fever Ray. Arrisco até a dizer que, exceptuando o meu amor por Father John Misty, o concerto do festival terá mesmo sido este.
Fever Ray foi incrível. O palco Seat ficou em chamas com a actuação das (quase) nórdicas. Não só pelas suas roupas espectaculares, pelos efeitos cénicos que se viam no palco, pela interacção entre elas e com o publico, mas essencialmente pelo som, que pôs toda a gente a dançar tanto, que eu não sei se não é pelas saudades que já todos temos delas, que hoje a chuva está a ameaçar cair.

Depois disto, ainda tentámos voltar ao Palco Pitchfork para ver os Unknown Mortal Orchestra. Até conseguimos lá chegar e tudo! O grande problema é que eles estragaram a vontade que ainda tínhamos de lá ficar com aquele ruído todo e foi hora de voltar a casa. O meu encontro com eles não foi o primeiro, e, na verdade, desde a primeira vez que nunca gostei do que eles fazem em cima do palco. Ontem não foi excepção. Demasiado ruído, muita distorção desnecessária, e nem "So Good At Being in Trouble" soou como devia. E a culpa não foi de ninguém a não ser deles mesmos.

Assim, desistimos e viemos embora. Com a lembrança de Fever Ray a encher-nos o coração. E a lembrar-me porque é que continuo a gostar tanto do Primavera: os imprevisíveis e improváveis que mexem com os sentidos, e as gargalhadas que enchem as memórias. 

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