Ao vivo: The National em Lisboa

Lisboa, 21 de Novembro, Meo Arena. Último concerto dos The National na Europa. "Trouble Will Find Me" foi o mote para este regresso a uma cidade que tão bem os acolhe.

Quem me conhece, sabe que o amor pelos The National é antigo, tanto em disco como ao vivo. Porque as letras das suas músicas tocam-me sempre de forma intensa. As melodias encaixam (quase) sempre de imediato nos meus ouvidos. A banda em palco é irrepreensível, da apresentação à postura, do à-vontade com o público à cumplicidade entre os elementos da banda.  Os irmãos Dessner exímios a levarem quem os assiste ao rubro com os improvisos nas guitarras. E Matt Berninger a deambular em palco muitas vezes de forma errática - será do entusiasmo, será do vinho? :) -  como se não houvesse amanhã.





Talvez por tudo isto, de novo, os seus concertos não terão muito. Mas nestas coisas da música e dos concertos, o que me importa é o lado emocional. E as saudades apertam. Porque há muito que os The National são da casa, e revê-los é como reencontrar velhos amigos.


(É complicado falar sobre alguns concertos. São experiências únicas, irrepetíveis, são especiais, de cada um de nós. E para mim, que os vivo sempre intensamente, nem sempre é fácil. Mexe com as minhas emoções, com os meus sentimentos, com o (meu) amor pela música. Emociona-me, faz-me rir, por vezes até chorar. Deixa-me bem disposta, deixa-me tranquila, em paz. E a noite de 5ª feira foi exemplo disso. E de muito mais.)

A música de Sharon Van Etten anuncia o fim da espera, e o entusiasmo, confesso, é grande. Os primeiros acordes envolvem-nos e esquecemos o mundo lá fora. É com "Don't Swallow The Cap" que Matt Berninger e companhia se apresentam em palco. "I Should Live In Salt" é a que se segue - que me põe a entoar entusiasticamente «you should know me better than that» - e logo depois "Secret Meeting", uma das velhinhas, a piscar o olho à nostalgia.

"Bloodbuzz Ohio", "Demons" - «but i stay down with my demons» - e "Sea Of Love" - com o seu «if I stay here, trouble will find me // if I stay here, I'll never leave...» são perfeitas para os nossos primeiros coros afinadinhos. E naquele instante, penso que o alinhamento inicial não poderia ser melhor. E já não consigo parar de sorrir.





"Hard To Find" e "Afraid Of Everyone" acalmam o (meu) coração acelerado. "Squalor Victoria", "I Need My Girl" - tão bem recebida e acarinhada - e "This Is The Last Time" antecedem um dos meus momentos do concerto. "Lean" - o tema novo (composto para a banda sonora de "Hunger Games: Catching Fire") - é recente, mas colou logo. E escutá-la ao vivo, é sentir a emoção à flor da pele. Pela melodia, pela letra, pela voz quente de Matt Berninger a soar tão bem aos meus ouvidos.

Perfeita para recuperar forças, "Abel" faz-nos regressar aos primeiros tempos dos The National, e aquece o corpo. É ver-nos a bater o pé e a "abanar o capacete" ao som do seu lado mais rock. Mas dura pouco, porque a sequência seguinte é quase demolidora para mim: "Slow Show", "Apartment Story" e "Pink Rabbits" levam-me às lágrimas.





Ao som de "England" e "Graceless", recupero o fôlego, para logo depois sentir-me novamente atropelada pelas emoções com "About Today", mais uma das canções de sempre - «hey, are you awake / yeah I'm right here / well can I ask you about today / how close am I to losing you...»

"Fake Empire" é talvez a canção que menos me entusiasma - talvez por me soar mais comercial, mais banal, se calhar - mas é impossível ficar indiferente à reacção que gera no público. A empatia é total, e, atrevo-me a dizer, até fica bem na despedida antes do encore.

Poucos minutos nos separam do regresso da banda ao palco. Os The National agradecem mais uma vez a calorosa recepção - «you’ve been so great even when nobody noticed us» - e dão início à sequência final (não sem antes Matt Berninger nos por a rir por causa da sua garrafa de vinho: «I forgot my bottle of wine, f***! Oh, they say somebody will bring it. They better!!!»).





"Sorrow", "Mr November" e "Terrible Love" levam-nos ao êxtase. E com as gentes há muito rendidas, "Vanderlyle Crybaby Geek" em formato acústico. A fórmula já não é nova (basta recordar a atuação no Campo Pequeno), mas continua a ser arrepiante ouvir a voz de Matt Berninger a ser abafada por completo pelas vozes do público. A força, a emoção, a entrega, o delírio. São momentos assim, de tal forma arrebatadores, que nos fazem esquecer tudo à nossa volta. Que nos acalmam o espírito e enchem a alma e o coração.

Pouco importa que a voz de Matt se tenha mostrado cansada nos temas mais exigentes. Numa noite fria de outono, o concerto dos The National não poderia ter sido mais reconfortante.

nota final: a acompanhar-me, esteve um dos nossos amigos, o Paulo, que pouco ou nada conhecia da discografia dos The National. Pedimos-lhe um breve comentário sobre a noite de 5ª feira, que transcrevemos:

«Fui quase completamente às escuras, apenas sabendo que o pouco que tinha ouvido nas vésperas me sabia bem ao ouvido :) Sem perceber nada de música, apenas sabendo do que gosto ou não gosto... Tenho a dizer que GOSTEI MUITO!!!

Trata-se de um som na maior parte muito soft, tendo algumas músicas em que parece que o vocalista entra noutro mundo, alterando completamente o registo (nem sei como é que aquelas cordas vocais aguentam!!!)

E também não sabemos como é que ficou o microfone. Porque o Matt passou grande parte do concerto, a agredi-lo constantemente, coitado daquele microfone! :)

Mas falando de música, as que mais gostei foram "Demons", "I Need My Girl", "Don't Swallow the Cap", "Fake Empire", "Lean" e o momento alto da noite: "Vanderlyle Crybaby Geeks". Com apenas o microfone do Matt ligado, criaram um momento mágico... mágico porque são principalmente estes momentos nos concertos que nos desligam do mundo e nos levam para outra dimensão, onde tudo está bem... :))))

Foram 2 horas ou quase de boa música e de uma noite bem passada. Não entrei fã, mas fã fiquei!!!!!!

Obrigado :)»

Obrigada a ti, Paulo pelas palavras e pela companhia! We phonograph you :)

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