Ben Howard: num mundo sombrio, a guitarra é a estrela

Desde que descobri Ben Howard, que o rapaz teima em não sair da minha playlist.
O que significa que aguardava com alguma ansiedade o lançamento do segundo disco.
Aconteceu finalmente em meados de Outubro.
E, para mim, é brilhante.

"I Forget Where We Were" é mais sombrio, "Every Kindgom" soava mais ingénuo. Como se fosse um reflexo da sua evolução como pessoa, como artista, as suas lutas, as suas conquistas.
Ben Howard parece mais seguro, mais confiante.
E explora ainda melhor o seu imenso jeito com a guitarra acústica.





É isso que sobressai numa primeira escuta.
A guitarra soa tão bem, mas tão bem, que irrita.
A voz do moço continua apaixonante, sim, mas as suas skills na guitarra impressionaram-me.
São incríveis - e só por isso ele merecia um concerto em nome próprio por cá.

Mas voltemos às canções.
[à semelhança de Justin Vernon, também Ben Howard se isolou para compor, tendo lançado o EP "The Burgh", dono de um som mais negro. Como se quisesse manter a sanidade depois do sucesso de "Every Kingdom"]
Se no álbum de estreia havia esperança, em "I Forget Where We Were", Howard abraça a dor, o espírito inquieto, a solidão, a desilusão, os seus tormentos.
Como se ainda estivesse num caminho entre a luz e a escuridão.





Talvez por isso, a sua música reflicta algum devaneio nos momentos instrumentais e canções nada radio-friendly - a maioria tem mais de 5 minutos.
Mas o facto é que Ben Howard nunca perde o sentido de melodia.

Basta escutarmos "Small Things", de acordes delicados, com a guitarra a deixar-nos em suspenso uma e outra vez, com um verso que teima em mexer com os meus sentidos - «has the world gone mad or is it me...»
Ou o tema título, fabuloso, intenso, a crescer a cada acorde, e, mais do que a letra, com um instrumental que arrepia, que emociona.





O cheirinho a folk em "In Dreams" e "She Treats Me Well" são momentos de alguma cor, e dei por mim a bater o pé ao ritmo de "Time Is Dancing".
Mas foi a sequência final que me deixou em êxtase.

"End of the Affair" é uma canção gigante, em todos os sentidos.
São oito minutos de pura beleza e magia. É envolvente e reconfortante, há qualquer coisa na melodia que nos embala - mais uma vez, a guitarra a conduzir-nos - e na voz de Ben que nos aquece.





"Conrad" nem era das preferidas, mas como muitas vezes acontece, foi-se entranhando. Tem algo de brilhante na forma como soa a nível instrumental, de complexo, e de genuíno.
E "All Is Now Harmed" é de uma beleza estonteante. Mais «dark», com vozes encantadas, com a música a crescer e explodir, para depois terminar em "fade".
Épico.





Continuo a gostar muito das canções de "Every Kingdom" mas as de "I Forget Where We Were" prenderam-me.
No ano passado, por esta altura, não parava de ouvir o disco de Noiserv. Este ano, passa-se o mesmo com o de Ben Howard.
Também ele tem o dom de me apaziguar o espírito em dias de chuva.
De me transmitir aquela sensação de conforto que tanta falta nos faz.
E é por isso que é um dos meus discos de 2014.

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