Deixem-se levar pelo jazz de Jamie Cullum...

"Interlude" marca o (muito aguardado) regresso de Jamie Cullum ao jazz.
Estilo onde eu acho que ele soa melhor - não que seja mau num registo mais pop, mas não é tão extraordinário.
E onde o seu talento ganha asas, sobretudo ao vivo - ainda não me esqueci do seu apaixonante concerto no Cool Jazz Fest em Cascais, em 2011.

O disco é uma compilação de canções jazz de sempre, que homenageia todas as suas influências, que inclui grandes nomes como Frank Sinatra, Dizzie Gillespie, Hank Williams, Miles Davis ou Ray Charles.
E é também uma forma de transmitir a emoção e a energia dos seus concertos, cortesia de uma big band em grande forma, com Jamie Cullum sempre incansável ao piano.



O disco foi gravado «em cima do joelho», cada tema num take apenas, e saiu tal e qual ficou registado, com as suas imperfeições, com falhas - porque se escutarmos com atenção, elas estão láe talvez seja isso que o torna tão genuíno.

Não falta talento, não faltam músicos fantásticos, há um sentido de frescura, tão bom quando falamos de tributos.
E há aquela magia dos clubes de música, aquele feeling descomprometido e livre.
É sentir a energia fluir, e com ela, a música.
É deixarmo-nos levar pelo improviso com a banda.

Como se estivéssemos mesmo a vê-los actuar num clube de jazz.




Não se vê em disco, mas sente-se.
O carisma, o charme de Jamie conquista-nos de imediato.
As canções ganham outra vida com a sua visão, a sua forma única de interpretar e passam a ser suas também.
Não há nada como as versões originais, mas o jazz também tem de se reinventar e precisa de novos públicos. E Jamie Cullum é provavelmente o mais indicado para fazer brilhar o jazz contemporâneo.


A voz de Jamie está mais madura, ora suave, ora rouca e isso transparece nos registos mais «smokey», como em "Interlude", "Walkin'" (a big band é fantástica) e "My One And Only Love".
"The Seer's Tower", um original de Surfjan Stevens, é impressionante. Uma versão catchy que mostra aquilo que poderá ser o lado mais «alternativo» do jazz, e o apoio da big band é, mais uma vez, decisivo.





"Don't You Know" traz-nos um Jamie Cullum irreverente, "Sack O' Woe" é catchy q.b., o saxofone é delicioso e damos por nós a acompanhar o ritmo.
Há vitalidade em "Lovesick Blues", um registo jazz mais clássico em "Losing You".
E em "Out Of This World", os momentos instrumentais são de facto do outro mundo - o solo de saxofone é (quase) perfeito...
Para o fim, "Make Someone Happy", a canção mais clean, "só" piano e voz.
E o pedaço mais delicado de "Interlude".





Mas o melhor de tudo são os duetos.
O primeiro, "Good Mornin' Heartache", conta com Laura Mvula (que eu não aprecio). Mas a verdade é que neste registo jazzy, até acho que ela não está nada mal.
A sua voz encaixa perfeitamente com a de Jamie. A dela suave e terna, a dele quente.
E juntos fazem brilhar a canção imortalizada por Billie Holiday.




O outro é "Don't Let Me Be Misunderstood" com Gregory Porter, essa potentíssima voz negra da actualidade, daquelas que nos vão marcar num futuro não tão distante.
Porter com a sua voz adulta contrasta com o tom mais jovem de Jamie Cullum.
É uma canção que mexe com todos os nossos sentidos.
Da orquestração à interpretação, uma versão maravilhosa da canção de Nina Simone.





Um disco tão interessante e surpreendente como este só peca por não ter canções originais.
Bem sabemos que ele tem esse tipo de talento.
E só podemos esperar que "Interlude" seja isso mesmo, uma pausa nas suas composições.
E que o próximo trabalho seja de originais e nos traga um Jamie Cullum do jazz em ainda melhor forma.

Sem comentários:

Imagens de temas por merrymoonmary. Com tecnologia do Blogger.