Leonard Cohen: «quanto mais velho, melhor»

Falar de Leonard Cohen não é fácil.
Tenho sempre a sensação que nada do que se diz ou escreve é suficiente.
Ou que já se disse tudo - afinal, já lá vão mais de 40 anos de carreira.
É hoje um incontornável da música, com um legado invejável.
E aos 80, Cohen lançou "Popular Problems", o seu décimo terceiro disco.

É (mais) um disco brilhante, tão bom ou melhor que os anteriores.

Em registo muito menos cantado, é certo, que a sua voz já não permite grandes aventuras. Mas não menos intenso.
O seu tom é tudo menos monocórdico, mantém aquela chama de sempre, potenciada e melhorada pelo coro das suas meninas, que hoje são parte integrante e fundamental.





Em "Popular Problems", Cohen oferece-nos nove canções profundas e emotivas, que mexem connosco.
As melodias continuam fabulosas.
Os poemas maravilhosos e intensos.

A musicalidade de "Popular Problems" é invejável (mesmo que seja «fabricada» por um laptop).
O órgão, a percussão, os instrumentos de sopro e cordas, o backing vocals feminino conferem aos temas um toque harmonioso e angelical.
E claro, não nos podemos esquecer da ambiguidade das letras, das mensagens subliminares, em cada frase, em cada verso...





Ao ouvirmos as primeiras notas de "Slow", em tom sarcástico envolvido em blues, quando ele entoa «it's not because i'm old / it's not what dying does / i always liked it slow / slow is in my blood», invade-nos uma certeza: o registo calmo, tranquilo é, de facto, a sua imagem de marca.

"Almost Like The Blues" foi a canção que me prendeu logo de início. A melodia é arrebatadora, e o poema, sobre o lado humano mais negro, é fabuloso.
O violino em "Samson In New Orleans" é arrepiante, quase como um choro, emotivo qb. 

Com "A Street", fico rendida outra vez ao talento do senhor Cohen.
Há qualquer coisa de romântico em versos como «you put on a uniform to fight the civil war / you looked so good i didn't care what side you were fighting for».
É das canções mais bonitas do disco, e se calhar, da sua carreira.
É calma, é íntima, é sofrida.




Ao contrário das «love songs», que me soam quase como cartas fora de baralho.
"Did I Ever Love You" parece, à primeira vista, uma daquelas a que Leonard Cohen sempre nos habituou. Mas de repente, tudo se desmorona no refrão: o toque country é o momento menos conseguido de "Popular Problems".
"My Oh My" pouco ou nada tem a ver com o resto. Mas é descontraída, tem uma melodia simpática, e soa «cheerful».





Depois da bonança, um cheirinho de tempestade.
"Nevermind" - sobre os eventos israelo-árabes de sempre - é surpreendente, a letra é mais uma vez fabulosa e certeira. E tem uma linha de baixo simplesmente deliciosa.
"Born In Chains" vai crescendo a cada audição, com um bonito toque de gospel, perfeito para que não esqueçamos as raízes judaicas de Cohen.





É com a maravilhosa "You Got Me Singing" que se fecha mais um capítulo.
Maravilhosa na melodia e na letra.
Que, à semelhança de todas as outras, é ambígua.
Se primeiro senti um Leonard Cohen a agradecer o apoio ao longo da carreira, quanto mais a ouço, mais me convenço que há um lado sarcástico.





Sinceramente, tanto me faz.
O que (me) importa é que o senhor Leonard Cohen ainda está aí «para as curvas».


«You got me singing even though the world is gone/ You got me thinking that I’d like to carry on/ You got me singing even though it all looks grim/ You got me singing the Hallelujah hymn»

(Leonard Cohen, em "You Got Me Singing")

Sem comentários:

Imagens de temas por merrymoonmary. Com tecnologia do Blogger.