"I Love You Honeybear". E eu a ti também Father John Misty.


Falar em Father John Misty por aqui já não é novo. (Facto.) 
Até porque a gerência é fã da polémica (e, porque não? Inquietante) personagem de John Tillman.
(Sim, é outro daqueles raros momentos em que as nossas escolhas musicais coincidem). 

Daí que, quando saiu este "I Love You Honeybear" a Concertina já vos tenha mostrado algumas coisas maravilhosas sobre este assunto. E, daí que, a notícia da vinda dele ao Vodafone Paredes de Coura tenha sido recebida como o verdadeiro alento (e porque não alívio?) em relação ao que se passa no resto dos cartazes de quase todos os outros festivais de Verão deste ano. (que é como quem diz "Outra vez arroz"?)




Falar de Father John Misty não pode ser só falar na qualidade do seu trabalho musical, isto é a realidade mais pura. 
Não há como deixar de fora a própria figura, que é parte crucial de todo este projecto desde o início. 
Aquela mesma figura que nos conquista com o seu ar blasé: caustico, cinico, amoroso, completamente antagonico, com um olhar suave, aquele ar de Lenhador meio eremita, solitário (e porque não? calmo até...) e ao mesmo tempo com aquele tipo de segurança destemida que é tão característica dos Cowboys. 

(Sim Concertina, eu tinha dito que ia tentar conseguir só falar em Cowboys uma vez, porque estou ciente das consequências todas que dai podiam vir. E, parece-me que vou conseguir.) 



"I Love You Honeybear" é um álbum apaixonado é muito apaixonante, cheio de ilusões, (ou da total falta delas) e de um realismo quase chocante. Terno e ao mesmo tempo cínico, chateado e doce, mas sempre antagónico em relação a ele mesmo (sim, sim, sim... e não, isto não é uma colagem do que eu disse ali a bocado... Porque o álbum me parece ser uma extensão directa da personagem que o canta. E não os consigo dissociar.)

Mas, sempre verdadeiro como a vida lá fora.
 "It's all if me, without being none of me" ouvi eu Tillman a dizer numa qualquer entrevista. 
E sim, acredito que seja esta a realidade. 



Podia destacar quase todas as músicas por isto ou aquilo, porque cada uma delas é um pedaço deste Father John Misty, que nos aparece aqui neste álbum quase que a parodiar o amor, a gozar com ele e a canta-lo nas suas formas mais reais ao mesmo tempo.

Destaco alguns momentos que a mim me marcaram mais, que assim sempre deve ser mais fácil (...e, a verdade é que mais rápido também. Sempre me ajuda a não correr o risco de isto parecer uma ode ao rapaz, por mais que ele até mereça.):




Na música que dá nome ao álbum, "I Love You Honeybear" Tillman aparece-nos dono e senhor da sua pacatez "acidentada" (atormentada? Sim, atormentada é melhor.). Com a voz "delico-doce-acrida" devidamente acompanhada pela letra ácida e sarcástica que nos brinda com um "...everything is doomed And nothing Will Be spared, i love You honeybear!" tão sentido quanto coerente com a própria postura de quem a canta, e, porque não também? De quem a ouve. 


Não falar em "Chateau Lobby 4 (in C for Two Virgins)" não é possível. Pela brilhante orquestração, pela ironia e pelos traços corajosamente old school (ou secalhar mais melancólicos?) que nos divertem e nos intrigam ao mesmo tempo enquanto a ouvimos.




"When You're Smiling And Astride" mostra-nos de novo a postura de Tillman, critica e irónica, como se, a brincar com ele próprio e com tudo o que o rodeia a realidade doesse muito menos. 

Uma das minhas preferidas é, claramente, e desde o inicio, "Nothing Good Ever Happens at the Gooddam Thirsty Cow", pelo seu som mais delicado, em contraste directo com a crueza da letra, ("...I may act like a lunatic, you think i'm fucking crasy you're mistaken, keep mooving..."),  que juntamente com "Bored in the USA" (...que é, no mínimo, brilhante...) nos mostra um lado deste Father John Misty: o estupidamente realista, com uma desconstrução brilhante da vida e do que é o amor, e que desembarca nas constatações da realidade do dia a dia, daquela rotina aborrecida e igual à de toda a gente, daquele aquele dia a dia chato que, no fundo, toda a gente tem. 

Claro que isto tudo da forma mais cáustica que eu já ouvi desde Jarvis Cocker. (O que, no meu caso é mais do que um grande elogio.)



Não há como não falar também na maravilhosa "I Went to the Store One Day", provavelmente uma das músicas mais "reais" do álbum (juntamente com "Bored in the USA" de que eu falei ali em cima), esta menos irónica (ou talvez não?), e, para mim, a mais sentida. As emoções de Tillman surgem agora de forma mais concreta do que as de Father John Misty. Ou talvez seja só o contrario. Acho que nunca vamos saber.

"Pretending to be someone you're not for extended amounts of time causes the line between fiction and reality to blur" disse Father John Misty numa entrevista ao The Guardian. 

Será então possível que Father John Misty, a personagem, se tenha sobreposto aqui a John Tillman? Cada um acredita no que quiser. A mim parece me que sim. 



"I Love You Honeybear" é um álbum cruel e brutalmente real se o ouvirmos bem. 
Com um humor mais do que sublime, como John Tillman já tinha provado que consegue fazer tão bem. 
Porque eu acho que, no fundo, nem ele se leva muito a sério. 
(E não é essa a melhor forma de se viver?) 


E, por isso, esperamos por ele (e pelos 7 músicos de orquestra que fazem parte integrante da banda nesta desta digressão). 
Para o voltar a encontrar. 
Desta vez em Paredes de Coura. Algures ali ao lado do rio. 
Só para voltar a fazer parte deste "culto".  

Por isto tudo e por tudo o que ficou por dizer. 


Sem comentários:

Imagens de temas por merrymoonmary. Com tecnologia do Blogger.