À conversa com os D'Alva
Em vésperas do concerto de celebração do primeiro ano de #batequebate em Lisboa, e depois de um Rivoli do Porto esgotado no passado dia 13, nós estivemos à conversa com os D'Alva. E, se já eramos fans do trabalho deles ainda ficamos mais:
1. Para quem ainda não vos conhece, e pegando numa das nossas perguntas do Q&A de inverno do ano passado (onde ficamos a saber, através d'O Martim que o Alex é fã das spice girls), achámos que tínhamos que fazer esta pergunta: como perguntam os Duran Duran (... E pronto, nos confessamos, as Spice Girls também...), "...Who Do You Think You Are...?"
Ben Monteiro: ainda hoje tivemos uma conversa interessante foi aquele dia de olhar para trás e perceber de onde viemos e para onde estamos a ir. Neste momento, o que é que nós somos, sem ser aquela resposta «ah somos dois amigos que fazem música»...
Alex D'Alva Teixeira: no final do dia somos isso, eu ainda olho para nós enquanto uma banda emergente que está a tentar fazer alguma coisa diferente - não te sei dar uma resposta muito complexa, porque no final do dia ainda estamos a perceber quem somos.
Ben: tem mudado constantemente. Há seis meses atrás a resposta seria uma, seis meses antes outra. mas onde podemos sempre ir é ao principio.
Somos duas pessoas, muito parecidas em muita coisa, e a maneira quase visceral como reagimos à musica é muito semelhante.
Duas almas não digo gémeas mas muito próximas que têm uma maneira muito especifica de perceber, de sentir, de fazer musica.
Vamos fazendo o que nos está a apetecer, não sentimos condicionantes nenhuma.
Foi libertador fazer musica assim.
2. Vivemos num país que se diz ser tendencialmente rock (e nos arriscamos até o blues) e, a verdade é que, quando ouvimos o vosso #batequebate sentimos uma lufada de ar fresco Pop.
Aliás, vocês foram uma coisa completamente inesperada e refrescante.
Os Fratellis dizem que "...Rock N Roll Will Break Your Heart..."; foi por isso que escolheram o pop?
Ben: nós já ouvimos essa expressão [refrescante] tantas vezes - toda a gente usa esse adjectivo.
Alex: eu diria que se calhar foi a pop que nos escolheu, foi um pouco uma descoberta.
Na altura, o Ben estava a produzir aquilo que seria uma amostra do [meu] EP e era para ser uma coisa mais indie rock, mais alternativa, mas o Ben percebeu que o uso do sintetizadores funcionava muito bem com o timbre da minha voz e com a minha maneira de cantar.
eu tinha algumas canções mas esse catálogo esgotou e era preciso coisas novas e começámos a fazer tudo juntos.
Ben: foi uma evolução natural.
3. O #batequebate está recheado de temas simples e descomprometidos. Qual foi a música que deu mais luta para ser construída?
Ben: "Frescobol" deu muito trabalho, mas no final pensámos «esta música tem qualquer coisa de especial e única», mesmo antes das vozes ficarem gravadas.
Alex: demorou imenso tempo a escrever, o refrão foi refeito varias vezes.
Ben: há uma musica que nos deu muito gozo fazer, foi a mais rápida e agora até abrimos os concertos com ela, "Aquele Momento".
Faltavam duas semanas para o disco ser misturado, senti que faltava qualquer coisa
Já sabíamos o que era D'Alva e fizemos tudo a primeira.
E quando acabou, pensámos «está fenomenal»
Ouvia a canção todos os dias de manha e sentia-me melhor
Aliás, muitas pessoas dizem que é a melhor canção para acordar e ir para o trabalho.
4. Pegando nisso, o disco foi muito bem recebido pelo público, assim que saiu. Estavam à espera dessa reacção?
Alex: não estávamos à espera de todo, havia uma dose muito grande de ansiedade, de incerteza.
Ben: estávamos confiantes, seguros que estava bom
Alex: mas com receio que as pessoas estivessem à espera de algo completamente diferente.
Ben: nós temos amigos nos PAUS, nos Linda Martini, no circuito da zdb e da flor caveira, gente alternativa, por exemplo, o Pedro Lourenço que ilustrou a capa toca numa banda em que esse é o habitat natural.
O que estávamos a fazer era completamente diferente.
Fizemos o que sentimos que tínhamos de fazer, estávamos perfeitamente seguros. Mas quando estamos a libertar ao mundo, não sei...
Não fazemos para os outros mas queremos que a nossa música comunique para o maior numero de pessoas.
No fundo, no fundo, sabia que ia correr assim mas não sabia que ia correr tão rápido.
E isso foi a maior surpresa.
5. E reflectiu-se na estrada, de certeza. Começando pelo início, e porque se costuma dizer que a primeira vez é a que custa mais, qual foi o primeiro concerto - a sério - #batequebate e o que sentiram?
Ben: o primeiro concerto D'Alva foi no Vodafone Mexefest mas ainda não havia disco. Depois do disco sair, foi no Musicbox.
Alex: foi a primeira vez que tocámos o disco, e para pessoas que já o sabiam, pelo menos a "Frescobol" que passava na rádio. Só disse a primeira palavra da letra e as outras foram as pessoas a cantar. Foi a sensação mais avassaladora, fiquei cá com uma cara!
Ben: olhamos um para o outro do género "o que é que está a acontecer?!"
e no fim, disseram-nos que ficou muita gente de fora...
6. Em compensação, no NOS Alive, havia lugar para muitos. Nós estivemos lá, e parece-nos, enquanto público, que correu muito bem. Para vocês enquanto banda como foi tocar lá?
Ben: o NOS Alive foi a continuação, foi o nosso primeiro grande festival, mas tínhamos perfeita noção que um terço das pessoas não conhecia o que estávamos a fazer.
Antes de entrarmos, estava tudo sentado. Quando entramos em palco, toda a gente se levanta, por baixo da pala do Clubbing estava cheio.
A meio do concerto, quem ia a passar, ficou. Soubemos de estrangeiros que foram comprar o disco, vieram ter connosco, diziam " não percebemos nada mas gostamos".
Percebemos a partir desse instante que a nossa música, apesar da língua, consegue transmitir qualquer coisa.
Estávamos a fazer muita coisa pela primeira vez, olhando para trás, sabemos que tocamos muito muito melhor.
Só podemos ficar esperançosos em relação ao futuro.
7. Então de certeza que foi um dos mais marcantes. Quais foram os outros?
Ben: foi marcante, sim
Alex: no NOS D'Bandada. Imagina uma praça inteira cheia cheia cheia - tinha a mesma dimensão da Praça da Figueira - de gente ali para ver D'Alva.
Ben: sim, o Porto foi especial. Quando voltámos ao Musicbox foi especial, outra vez cheio, é um sitio onde estamos em casa. Outra ocasião super especial, foi a Moda Lisboa, o desfile do Luís Carvalho - tocámos mesmo no desfile, estava super nervoso (vinha na carrinha a rever o set porque se num desfile a musica pára, o desfile acabou) mas foi perfeito.
8. É esse o balanço fazem deste primeiro ano de #batequebate? Um ano especial e perfeito?
Ben: Sim. Nós vamos estar daqui a uns dias aqui (no ccb) e sentimos a fasquia elevada - há um mês atrás acho que fiquei com mais cabelos brancos [risos]. Porque queremos mesmo dar os melhores espectáculos possíveis.
Alex: Foi tudo mais rápido do que nos esperávamos, houve muita coisa que fizemos que não estávamos à espera, mas ainda há muita coisa na lista.
9. E de certeza que a "social media" contribuiu para o vosso sucesso, até porque vocês têm uma presença muito forte na internet. Qual é a importância que acham que este meio tem na música (enquanto veículo de apresentação de projectos e divulgação dos mesmos) neste momento?
Alex: Acima de tudo, hoje em dia, as pessoas que ouvem a nossa música estão todas na internet, pelo menos as que nos queríamos chegar no inicio. Agora se calhar queremos chegar aos pais, aos avós [risos].
Ben: Eu penso que neste momento as redes sociais são uma extensão da identidade de cada indivíduo. Não foi uma estratégia da nossa parte, não houve marketeer. Somos nós. Queremos incluir as pessoas no que achamos que faz sentido.
Alex: Apenas utilizamos algo que usamos todos os dias. Eu acredito que a maioria das pessoas quando acorda de manhã liga o Instagram, o Facebook, o Twitter. Eu faço isso também.
Ben: E quando fizer sentido vamos explorar outras aplicações.
10. E falando de novos projectos, têm preferidos?
Ben: Há uma coisa consensual em D'Alva que são as Golden Slumbers.
Alex: Ana Cláudia também, o último EP é a cena.
Ben: Isaura está a fazer o percurso dela também, o Tiago Saga (dos Time For T) também me interessa...
Alex: Vi os Cave Story ao vivo, muito bons.
11. a acompanhar essas novas bandas, e outras, foram surgindo diversas «pequenas» editoras. face ao sucesso de #batequebate, já foram abordados por alguma das grandes? Acham que isso é importante para os planos dos D'Alva? Ou parece-vos que as pequenas produtoras independentes encaixam melhor na vossa postura?
Alex: Vou responder primeiro só porque sou mais rápido. terei todo o prazer em trabalhar com uma major quando nos derem condições de trabalhar como queremos. Editar na NOS Discos é muito semelhante a uma editora independente, há flexibilidade, tens espaço para fazer o que tu queres. Não há budgets, não há equipa de promoção, não há equipamento que uma grande editora tem, mas o que há foi suficiente e eles apoiaram-nos bastante.
E há uma pessoa numa das major que admitiu que foi um erro não ter apostado de inicio.
Mas nós tínhamos requisitos básicos dos quais não abdicámos.
Ben: Chegámos a ter reuniões antes do disco sair, havia um buzz, mas não deu. Entretanto o Henrique Amaro falou connosco, perguntou se podíamos ter o disco pronto dali a dois meses, porque a NOS Discos queria uma coisa para sair em força. E nos aceitámos.
Não queremos tirar a importância e o valor que as editoras grandes têm. Mas temos de perceber se é o que queremos. A nível de exposição, seria uma coisa brutal.
Quando chegar a altura de editar outra coisa, vamos perceber o que faz sentido naquele momento e qual a melhor forma de o fazer. Estamos tranquilos, respeitamos imenso as major, com quem temos relações excelentes.
Mas temos que fazer o que nos faz sentir melhor e acho que ganhámos bastante respeito por isso.
12. E agora? Depois deste ano maravilhoso para vocês e para o vosso #batequebate, a pergunta que se impõe, citando os LCD Soundsystem "...Here come the big ideas again, just like they did before and then..." o que podemos esperar num novo trabalho dos D'Alva?
Alex: Agora estamos concentrados em dar bons concertos, o nosso esforço é dar às pessoas uma boa experiência. Estamos a pensar em música nova, todos os dias falamos sobre isso, mas temos muita coisa para preparar para [o Rivoli e] o CCB. Não temos tempo.
Ben: Temos uma musica quase acabada, falta o refrão. Planeamos editar um single novo, o mais rapido possivel mas ainda é só uma ideia.
É altura de cimentar o trabalho de um ano, que foi de descoberta para nós. Queríamos conquistar espaço mas agora temos de nos reencontrar, reencontrar a nossa identidade.
Quando isso estiver claro para nos, o disco sai. Sabemos que já há expectativas, que o próximo disco seja bombástico.
Estamos a planear fazer uma viagem para sair daqui, para nos reencontramos. Precisamos de umas férias, a génese disto somos nós, a nossa relação, a forma como nos damos.
Alex: Será que se deixarmos de ser amigos, conseguimos fazer música na mesma?
Ben: Conseguimos. mas vai ser completamente diferente, não vai ter a magia que tem. Se não estivermos bem, a nossa música fica muito mais pobre. E aí nem me apetece fazer.
13. Esperemos que isso não aconteça tão cedo. E quanto a colaborações? gostariam de trabalhar com alguém em particular?
Por exemplo, vocês tocaram com a The West European Symphony Orchestra, na última edição dos Portugal Festival Awards. É para repetir?
Alex: Eu gostava imenso mas teria de fazer sentido.
Ben: Há uma coisa que queremos fazer um dia: ter uma escola de samba a tocar connosco. Se fossemos tocar no Grande Auditório, traríamos uma orquestra. Para mim foi um sonho, mas o ideal seria termos tocado com a banda toda. Mas não foi possível.
A "Primavera" ficou muito bonita.
Ben: Nos achámos que podia ter ficado ainda melhor.
Alex: Mas sim, era giro. uma orquestra inteira...
Ben: Músicas calmas são mais fáceis
Alex: Imagino o "Frescobol" com uma orquestra inteira...
Ben: Não sei... [risos]
14. Seria com certeza algo memorável. Tal como estes concertos de celebração de um ano de #batequebate. O que esperam - e o que pode o público esperar?
Alex: Não temos expectativas, preferimos não esperar nada. Mas o público pode esperar mais do que uma versão melhorada do que é um concerto D'Alva.
Ben: Resolvemos trazer mais valor à produção toda. Já percebemos que em cima do palco estamos bem, damos um bom concerto e agora queremos dar um bom espectáculo.
Nos festivais o que se pede é um bom concerto, numa sala como as do CCB é um bom espectáculo. E nós andamos a tentar perceber como fazer essa transição de um espectáculo que é super energético, mexido, suado, para um contexto em que as pessoas estão sentadas. Nós temos na nossa música momentos mais íntimos que funcionam com lugares sentados, queremos explorar isso. Criámos um alinhamento dinâmico, em que a ideia é «sobe, sobe, acalma um bocadinho», e depois no final, não vai dar para ficarem sentadas.
Estamos a adquirir experiência, know-how. Temos apenas um ano de estrada. Mal seja possível, o espectáculo D'Alva será cada vez maior a nível de produção. Queremos crescer de forma gradual e sustentada. Quando as coisas ficarem maiores, vamos sempre trazer mais coisas.
Queremos ser a melhor banda a tocar ao vivo.
N sei se vamos conseguir...
Nós sempre acreditámos que sim. E agora temos ainda mais a certeza.
Tendo em conta a vontade, a dedicação e o trabalho, acreditamos que os D'Alva estão no bom caminho.
No dia 19, é a vez do CCB, em Lisboa. Se ainda não tem bilhete não sabemos do que estão à espera para o ir buscar. Depois não digam que não avisámos.
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