A chama ardente de Warhaus

"We Fucked A Flame into Being" é o primeiro disco de Warhaus, o projecto a solo de Maarten Devoldere, um dos elementos da banda belga Balthazar.

É um disco de amor, de sexo, de encontros e desencontros.


Nas palavras do próprio, «uma ode ao amor, aos seus excessos e indefinições».




Em maio deste ano, quando saiu o primeiro single "The Good Lie", soou-me sensual, negra, mágica, ao jeito da «chanson française» (de Serge Gainsbourg, sobretudo) e esperava que o disco tivesse a mesma aura.

E tem.

"We Fucked a Flame into Being" é um disco romântico, sensual (e sexual), apaixonado e carnal, violento e calmo, é corpo e é alma.

É dark pop sedutora e envolvente, com pitadas de rock e blues, e não envergonharia Leonard Cohen - basta ouvir "I'm Not Him", em que a voz sedutora de Maarten se funde numa melodia de teclado ao jeito das eternas canções de Cohen.



É cinematográfico q.b. e faz-nos recordar tempos antigos, quando escutamos atentamente o diálogo entre os mais diversos instrumentos: os trompetes de "Against The Rich" são avassaladores, "Beaches" e "Wanda" são exemplos perfeitos da orquestração brilhante, espelhando o cuidado na produção instrumental.

Se juntarmos a isto tudo, uma voz grave e apaixonante, não é de estranhar que o disco me tenha seduzido tanto.



A sensualidade ao rubro em "Leave With Me" torna-a um momento maravilhoso de «dark pop», muito por culpa de linhas de baixo emocionantes, e uma melodia que teima em ser trauteada involuntariamente.

E a calma de "Machinery" contrasta com a melodia pop de "Memory", que terá sem dúvida um dos refrães mais catchy do disco.



A envolvente "Bruxelles" é outro momento alto deste disco, tão para além da música, um retrato claro da sua valência como letrista.

É tão intensa que nos emociona e nos desarma; e nos prepara para o desenlace final da história: a entrega total e final a esse amor turbulento, em "Time and Again".

Eis o momento de descomprimirmos, de nos deixarmos simplesmente levar...

No rescaldo dos últimos acordes, são estas as palavras que ecoam:



«Amor é fogo que arde sem se ver, // é ferida que dói e não se sente, // é um contentamento descontente, // é dor que desatina sem doer (...)»


Em nenhum outro disco que tenha ouvido recentemente, o poema de Camões assentaria melhor.

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