O caminho para a salvação, segundo Bon Iver

Não é difícil perceber porque é os Bon Iver têm um lugar especial no meu ipod e no meu coração. A simplicidade mágica de «For Emma, Forever Ago», com a qual nos conseguimos identificar, a música rica de «Bon Iver, Bon Iver» que nos desperta para tantas e tão boas sensações. A unir tudo isso, a voz quente e reconfortante de Justin Vernon.

Não é de estranhar por isso que, quando se soube que afinal o grupo não tinha terminado e que havia álbum novo a caminho, tenha ficado ansiosa.

O problema é que quando saíram os primeiros temas de «22 A Million» - "22 (Over Soon)" e "10 deathbreast" são choques térmicos musicais quando se espera algo parecido com "Haven, Mass" - não foi amor à primeira escuta.



«For Emma, Forever Ago» é autêntico e simples, «Bon Iver, Bon Iver» é mais focado nos instrumentos, cheio de musicalidade. «22 A Million» é electrónico, experimental, estranho, de ambiente quase etéreo.


Mas retirando essas camadas de samples e distorções de voz, o terceiro disco de Bon Iver revela-se bastante pessoal. Eu não percebo muito de numerologia, mas acredito que a sua utilização nas canções tem um significado específico e todas as canções apresentam um ponto de vista, sobre a dor, a alegria, a morte, o amor, a religião.

Depois das desilusões, do ressentimento, da vulnerabilidade de «For Emma, Forever Ago», da ligação entre pessoas e lugares, como se fossem um só, de «Bon Iver, Bon Iver», agora é tempo de procurar a salvação.



Se "33 GOD" nos remete para a descrença em Deus, na religião, "666" é o reconhecimento do mal. Em "21 Moon Water", há referências ao racional e ao oculto e em "715 Creeks", Vernon sente-se perdido. Como todos nós já nos sentimos na nossa vida.

Aí, tentamos encontrar algo que nos mova, que nos alimente a alma, que nos faça sentido.

Nas canções de «22 A Million», sente-se desespero, por vezes, resignação quase sempre, mas há também esperança na voz de Vernon. Uma voz que que mexe connosco, sobretudo quando floresce por entre as distorções.

Como em "8 (circle)", um aconchego em dias frios e cinzentos.
Arrebatadora do início ao fim, é ideal para matarmos saudades da sua voz.


Em "45", há uma conversa entre a voz inquieta de Justin e um saxofone distorcido, tentando reconfortá-lo.
A resignação chega com "(000 000) Million", simbolismo da desordem, do caos necessário para nos reencontrarmos - «well it harms, it harms me, it harms, i'll let it in» - sim, às vezes é preciso sentir a dor para que possamos seguir em frente...



Ouvi várias vezes este disco. E ainda continuo sem certezas sobre como me faz sentir. Não consigo parar de o escutar, mas sempre que o faço, sinto-me irrequieta.
Talvez seja esse o objectivo.

Obrigar-nos a pensar, a reflectir sobre nós. Compreender quem somos e ao mesmo tempo aceitarmos que nem sempre encontramos as respostas que queremos. Perceber que o sofrimento faz parte da condição humana.
E que a salvação existe, se soubermos libertar-nos das nossas amarras.

«If Bon Iver, Bon Iver built a habitat rooted in physical spaces, then 22, A Million is the letting go of that attachment to a place»
(22 A Million Press Release)

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