Nem cinza, nem gelo: os Kills voltaram e estão "on fire".
(Aviso à navegação: sim, assumidamente os Kills são das minhas bandas preferidas, nunca o escondi. E, se este post tem alguns meses de atraso, é porque, quando eu gosto muito de uma coisa, não gosto muito de a dividir com mais ninguém. Isto é uma visão muito peculiar e muito minha do album, facciosa, e claramente embebida nas coisas da minha vida.)
Ash&Ice, chegou aos bocadinhos, mas instalou-se logo, e de imediato, nos iPods e em todo o lado aqui no estaminé, e, foi uma boa parte da banda sonora do meu ultimo verão. E que bem que se esteve assim.
"... From Starry eyes colliding, From Mars to someone crying, I'm never far away, No matter what I'm hiding..." em "Heart of a Dog".
Esperava-se por Ash&Ice há 5 anos. (Que tragédia, tanto tempo!!!) Da mesma forma impaciente que eu espero, desde Maio ou Junho (ou lá o que é!), pelo dia 3 de Novembro. Aquele dia em que os vamos ver de novo. (Sim, porque também já passaram 2 anos desde a ultima vez. E isso, pelo menos no meu mundo, é tempo a mais.)
Ash&Ice, chegou aos bocadinhos, mas instalou-se logo, e de imediato, nos iPods e em todo o lado aqui no estaminé, e, foi uma boa parte da banda sonora do meu ultimo verão. E que bem que se esteve assim.
O álbum traz-nos algumas das letras mais acutilantes da historia dos Kills (podíamos especular se por algum caso de desamor ou pela consciência mais plena da perda, desde que Hince perdeu um tendão e teve que reaprender a tocar o seu baixo, mas, na realidade não temos tempo.), ainda que estas venham embebidas numa espécie de poção mágica que parece trazer suavidade, e que até me pôs a pensar, ali logo quando o comecei a ouvir, se essa mesma acutilância era real, ou se, de repente, Mosshart e Hince se tornaram bonzinhos e vivem numa outra dimensão mais cor de rosa que a nossa. Só que não. Se virmos bem, nada disto da suavidade está, de facto, a acontecer. (Uff, graças a Deus!)
No entanto, a melodia não acompanha de perto estas supostas metamorfoses. A melodia continua a ser só deles, dos Kills, por mais que, no inicio até tenha achado que, em alguns sítios, isso tinha mudado: as linhas de guitarra continuam fragmentadas e muito fracturantes, com aquele mesmo som que sempre os caracterizou, a percussão continua inquieta e faz me querer dançar, e o baixo de Hince, continua a mandar naquilo tudo. Como se quer.
Apareceu, então, primeiro "Doing It To Death", com um beat mais do que magnetizante, e um riff de guitarra que marcam a cadencia e a própria letra (que, como diria Justin Timberlake numa das suas musicas, trazem de volta o sexy de certeza mais do que absoluta), e que eu tenho a certeza que nos vai por a dançar e a cantar no próximo dia 3, assim como o faz sempre e todas as vezes que toca aqui, ali e acolá e eu a ouço.
"Heart of a Dog" segue o mesmo alinhamento, mas eu acho que é ainda mais penetrante e mais dark, com Hince a mostrar-nos em concreto como se faz, e Mosshart a ser exactamente o melhor que conhecemos dela, isto a querer dizer que, nestas duas musicas são os Kills a serem exactamente quem nos habituaram. E sim, eu acho mesmo bem.
E agora, algo um bocadinho diferente: "Hard Habit to Break", que no entanto, sempre foi das minhas musicas preferidas do álbum. Adoro a entrada e a percussão, e todo o tema da musica em si, a própria forma intimista como Alison se põe no meio do som é brilhante. Sempre que começa a tocar, eu fico com uma daquelas vontades de dançar que nem é bom. E o final, com a sobreposição da letra com o refrão, ou será melhor dizer as palavras de ordem?, dá lhe um ar up-to-date, como pouca gente consegue fazer. Eu diria aqui que são os Kills a serem os Kills mas em melhor.
Voltando ao álbum, no conteúdo, acho Ash&Ice mais carregado de blues do que os álbuns anteriores. Ou melhor, mais magoado. Ou então encontro lhe essas qualidades por causa da voz de Alison Mosshart, que sempre achei que tinha blues na voz. Não num sentido clássico, mas sim um blues sentido e moderno, como só se podia aplicar aqui.
É neste registo que chega "Hum For Your Buzz", num registo mais bluesy, quer pela postura de Mosshart, quer pela própria melodia da musica, se calhar não estamos tão habituados a este registo, mas a mim parece me que é um dos que lhe encaixa mesmo bem, sem nunca perder aquele fogo que a caracteriza, Mosshart é sempre uma das mais valias destes temas mais lentos. Ainda assim eu acho que este intimismo criado aqui resulta igualmente bem, e demonstra a ligação de Hince e Mosshart, tão bem ou melhor do que nos outros sons a que já estamos mais habituados.
Acontece o mesmo noutro dos que, para mim é dos melhores momentos de Ash&Ice, "Days of Why and How", onde brilham Alison e a letra, mais do que qualquer outra coisa. Uma coisa de musica triste, mas sem ser aborrecida, uma coisa de mágoa sem ser magoada, mais de revolta ou de queixa, mas sem ser aquela coisa da menina que se queixa porque ele foi embora, nada disso, que Alison não é cá dessas coisas. E ainda bem.
Não posso não falar em "That Love", que, para mim, foi das primeiras musicas do álbum que me fez sentir em casa, por mais que não seja uma das mais características da banda. "That Love" tem uma das letras mais brilhantes do álbum, com Mosshart naquele estado de melancolia dos dias de chuva.
Óbvio que podia falar de "Siberian Nights" e do seu maravilhoso video, por exemplo, de "Let it Drop" ou de "Bitter Fruit", mas, se esta é a minha opinião, resolvi só falar sobre o que eu mais gosto.
Ash&Ice é, para mim, um momento de coração (mais do que) destroçado, mas, onde ainda assim, Mosshart se mostra mais forte do que nunca, com aquela atitude destemida que sempre me fez achar que ela vai dominar o mundo, por mais contrariedades e corações partidos que lhe apareçam a frente ou que lhe causem, e em que Hince nos prova que domina tudo, desde o ruído ao mais bonito dos riffs que saem da sua guitarra ou de qualquer uma das linhas do seu baixo. Um álbum onde domina a força e o belo, por mais que este venha das tais cinzas ou do tal gelo que lhe dão o nome.
Entre cinzas e gelo então, os Kills continuam a ter a mesma identidade que sempre os caracterizou passados todos estes anos, continuando a querer ser sempre eles mesmos, mas melhores. Como se na realidade não pudessem ser de mais nenhuma outra forma.
Mas, se virmos bem, não é isso que deveríamos querer todos?
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