O Room 29 de Cocker e Gonzales, vamos com eles?



Falar em Jarvis Cocker, para mim, é falar em arte, começo desde já por dizer. 

Acho, há muitos anos, que Jarvis é o protótipo perfeito de “performer”, na verdadeira ascensão da palavra. Jarvis o brilhante frontman dos Pulp, Jarvis o aventureiro a solo, Jarvis a minha companhia dos Domingos na BBC Radio 6, Jarvis o artista, Jarvis o homem que faz intervenções em museus, Jarvis o activista, Jarvis o poeta,… e ficava aqui o resto do dia “só” a falar nisso.


Mas não, hoje vou falar em Room 29, o último álbum de Jarvis Cocker, que vem acompanhado de Chilly Gonzales, pianista extraordinário e ex-rapper
Estranho? Pois, pode soar. 
Só que não.




Room 29 é, para mim, uma intervenção artística, até mais do que um simples álbum. 
É um conjunto de sons, letras, textos, ruídos, e porque não estórias, do que, hipoteticamente, se passa num quarto de hotel. 
É quase uma análise da própria relação entre hotel e hóspede, feita com piano, voz e efeitos sonoros. 

Neste caso concreto, no mítico quarto 29 do ainda mais mítico Chateau Marmont em Hollywood, podendo ser transportado para qualquer quarto 29 de qualquer hotel, de tão bem feita que está.


…Is There anything sadder than a hotel room that hasn’t been fucked in?…




Outras considerações à parte, há uma coisa que eu não consigo descolar, desde a minha primeira audição do álbum, e começo desde já por dizer isto: o facto de toda a melancolia, a parte teatral e até experimental (e uso esta palavra com muito cuidado porque não gosto nada disto do "experimental"…) me levar, invariavelmente a “This is Hardcore” dos Pulp. Não só porque é dele que se tem mais a noção em Room 29, mas porque Cocker é, para mim, uma personagem incontornável das historias deste quarto de hotel.

Ainda hoje acho que toda a gente devia ouvir “Tearjerker”, perder-se na subtileza perfeita da história de “Clara”, na inquietude de “Belle Boy”, na melodia magica de “Salomé” e nas palavras de “Ice Cream as a Main Course”.


Room 29 vem cheio de letras densas e muito cheias de segundos significados, como só Jarvis sabe escrever, que são devidamente aconchegadas pelo piano de Gonzales e por sons próprios de momentos “Hotel”: o porteiro a receber-nos à chegada, os pretzels e o mini-bar, as canetas que escrevem cartas de amor e as próprias personagens que nos vão sendo apresentadas ao longo do álbum, como o fabuloso “Tearjerker”, por exemplo.


Mais do que um álbum, Room 29 é um “happening” perfeito. 

E, se pensarmos que as suas apresentações públicas foram também elas pensadas para acontecer dentro de hotéis, com direito a mordomo, aperitivos e mini-bar privados, temos a certeza da genialidade de Cocker, que continua a ser um artista sem medo e cheio de coisas para contar, num mundo cada vez mais dentro de caixas e onde tudo tem que acontecer conforme se espera.


"...You are such a jerk, You are a tearjerker, You don't need a girlfriend, You need a social worker..."

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