Portugal venceu finalmente o Festival da Eurovisão! Quem diria?


Créditos: Andres Putting (ESC 2017)
Quando era miúda, assistir ao Festival da Canção e ao da Eurovisão era um programa de família. Pelo menos, até aos anos noventa - ainda me lembro do sexto lugar da Lúcia Moniz com o seu cavaquinho... mas a partir daí, pouco ou nada de bom se «enviou» para a Eurovisão, a coisa deixou de ser cool, e quase que parecia que a criatividade lusitana estava no mínimo adormecida.

Deixei de acompanhar porque tudo me parecia de qualidade inferior ao que de facto se faz em terra lusas. Por isso, foi com algum entusiasmo e muita curiosidade que encarei a nova versão do festival, com a curadoria do Nuno Galopim.
Os compositores convidados tinham provas dadas na cena musical, e goste-se de todos ou não, são uma amostra mais real do panorama português. As expectativas eram muitas, daí que, na altura, o desconsolo tenha sido maior. Não vi as semi-finais mas ouvi os temas, e a sensação com que fiquei é que nem todas eram material para um festival, muitas soariam melhor se interpretadas por outros e quase nenhuma era do meu agrado - excepção feita a "Se O Tempo Não Falasse" do Noiserv, e "O Que Eu Vi Nos Meus Sonhos" da Rita Redshoes (apesar da interpretação menos conseguida).
Assumo que "Amar Pelos Dois" dos irmãos Sobral sempre esteve longe, muito longe das minhas preferências. E pensei que, independentemente do talento indiscutível de Luísa e Salvador, com aquela música não iríamos à final.


Ainda bem que estava enganada (estávamos todos, não?).

À medida que os dias foram passando, e as notícias iam dando conta da aceitação internacional de um tema tão simples, dei por mim a passar os ouvidos pelas restantes músicas em competição e perceber que também nesta coisa da Eurovisão, «less is definitely more».
Durante muito tempo, todos nós achámos que as músicas deveriam ser alegres, divertidas, cheias de ritmo, de cor, de espectáculo. Nenhum de nós acreditou realmente que seria possível uma canção tão melódica, tão despida de artifícios, interpretada por alguém com um estilo tão pouco televisivo pudesse chegar tão longe - vá, admitam, foi exactamente como no ano passado por alturas do campeonato europeu de futebol, quando a selecção nacional chegou à fase final...


Créditos: Andres Putting (ESC 2017)
Acredito também que tal só terá mudado quando a canção portuguesa passou à final, em que de facto tudo é possível. E nessa noite, à medida que as votações foram chegando, o nervosismo ia crescendo. Já não me sentia assim desde a final do europeu de futebol. De repente, caiu a ficha: «isto está mesmo a acontecer, Portugal pode mesmo sair vencedor!»
E o mais incrível é que a música chegou a países que não percebem a nossa língua e muitos deles, pouco ou nada conhecem do nosso País. A interpretação do Salvador Sobral foi tão honesta que chegou a todo o lado e emocionou muita gente. A sua postura fora do palco, completamente anti-vedeta, e em contraste com o aparato cénico deste tipo de eventos, terá conquistado outros tantos.

Venceu a autenticidade.
E não poderíamos estar mais de acordo com as palavras de Salvador no seu discurso de vitória (que vai de encontro ao que temos tentado transmitir com as nossas publicações aqui no estaminé): a música não é (só) para ser vista, é para ser ouvida, e sobretudo para ser sentida.

«I wanna say that we live in a world with disposable music, fast-food music without any content, and I think that this could be a victory for Music. For people that make real music. Music that really means something. Music is not fireworks. Music is feeling. So, let's try to bring music back, which is really what matters.»

(Salvador Sobral, Eurovision Song Contest 2017)

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