Curtas: "El Mal Querer", Rosalía

Tanto burburinho à volta de Rosalía, a nova sensação catalã fez-me ouvi-la. À primeira escuta, a resistência à língua... Mas fiz questão de a ouvir novamente, para (tentar) perceber o fenómeno.
E consegui.

"El Mal Querer" é uma epopeia em onze capítulos, baseado num manuscrito flamenco do século XIII. Não é de estranhar que se fale de amor e paixão, de raiva e ciúme, de sofrimento e redenção. E talvez por isso, o disco seja tão cinematográfico, dramático, romântico (claro) complexo e intenso.

Rosália encarna as personagens de forma perfeita com a sua voz inocente e sensual, rouca e grave. A ampará-la as melodias envolventes onde o flamenco se redescobre na pop e no R&B, com pózinhos do Médio Oriente.


"Malamente" foi a primeira amostra e conquistou o mundo. "Reniego" brilha com a participação da Orquestra Sinfónica de Bratislava. "Bagdad" - uma reinvenção de "Cry Me A River" de Justin Timberlake e Timbaland - surpreende e "Di Mi Nombre" é exemplo maior do legado do flamenco.


"El Mal Querer" é um disco com o seu quê de experimental e por isso não é tão imediato. Confesso que foi preciso escutá-lo algumas vezes para o compreender e perceber que é menos comercial do que estava à espera.

Está na moda reinventar o tradicional.
Acontece por cá, com o Fado, e noutros países da Lusofonia com as canções tradicionais.
Porque não em Espanha com o Flamenco?

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