Música para tornar o mundo mais bonito: chegou a hora dos Society.

É publica já a minha fixação pelos Society. Afinal de contas já ando a falar neles há anos e acho os um dos melhores projectos de hoje.

O projecto tem um som que me faz lembrar um bocado a cena de Bristol, (aquelas coisas mesmo boas que ouvimos a crescer, como os Portishead e os Massive Attack), mas como se eles se tivessem encontrado com os senhores da Motown e mais uma serie de coisas boas do mesmo género, mas que, mesmo assim, conseguem ter o som mais up-to-date e mais diferente em que tenho posto os ouvidos ultimamente.




Custou a sair o album We All Have a Price (li até algures que a ideia inicial nem era a de haver álbum sequer, imaginem só a desgraça!), mas, assim que saiu, conseguiu-me logo conquistar.
Como se ele fosse um todo coeso e consistente, mas, ao mesmo tempo, uma historia feita de várias historias.
E, nem mesmo os instrumentais, que, neste caso, não são interlúdios ou pedacinhos de som, mas sim, composições integrais são muito bem conseguidos, se pudéssemos adjectivar as musicas como o fazemos com as pessoas, acho que eles próprios eram fortes, decididos e cheios de atitude (E sim, toda a gente que me conhece já sabe que eu não tenho paciência para os instrumentais.)



Tudo começou quando eu ouvi, pela primeira vez, "14 Hours", que foi, claramente a razão de eu ter tido a certeza que a minha vida precisava dos Society, e que me fez logo acreditar que, este mundo, sem eles, era muito mais feio. Não só pelo video, mas pela intenção: a tal de lançar uma musica, num mundo em que saem por dia muitos milhares delas, sem se saber ao certo quem a fez, de onde veio, ou outra qualquer informação que não fosse, ela por ela, a da própria musica em si. Uma coisa tão simples e tão complicada quanto isso: quase o belo pelo belo, mas que aqui se transforma na musica por ela mesma.

"All That We've Become" seguiu se lhe. Não só pela magnifica letra, que encaixa como uma luva em coisas da vida que acontecem a toda a gente, mas também porque, a voz tem qualquer coisa magica que me acalma e me atormenta ao mesmo tempo, sendo quase, como diz Camões "um contentamento descontente", vinda do fundo do baú das coisas que eu mais gosto: os Society tem a atitude e a intencionalidade de que eu tanto gosto, e que me fazem tanto sentido. (...que só me fazem sentido?) A entrada leva-nos, quase de imediato, para um universo soul, mas sem nunca o ser realmente, e as linhas de baixo são primorosas e definem sempre toda a toada das musicas deste projecto. 




Na verdade, tudo neste album, me parece extremamente cuidado, desde as linhas melódicas (que acabam por criar o tal todo coeso do álbum), às letras, a forma de cantar as histórias do mundo real, os samplers, as entradas dramáticas e a própria disposição das musicas ao longo do álbum.
(A parte final de "Will To Win", por exemplo, é das melhores que eu tenho ouvido, daquelas que nos faz querer por a musica a tocar outra vez.)

Nada em We All Have a Price é estatico, tudo parece levar-nos numa viagem cinematográfica do mais alto gabarito. 
Se nos deixarmos levar pelo som dos Society, temos, garantidamente uma viagem, que acaba por não ser sempre calma, e que tem dois momentos de raiva não contida, como "Protocol" e "The Fear The Hate", um estranho up beat, uma toada mais furiosa e mais imediatista, que não pode esperar, como se tudo tivesse que ser agora, e a paz (podre?) das outras musica se tivesse transformado aqui no inevitável. De uma forma que me faz dançar. Sempre. E em todo o lado.

Podia destacar as musicas todas, por isto, ou por aquilo, esta é a verdade. We All Have a Price é um álbum demasiado rico para se estar a destacar isto ou aquilo. 





Dizia eu, no outro dia, no meio de uma conversa, que, ouvir os Society é, para mim, levar quase um murro no estômago. Uma espécie de "reality-check", daqueles que eu acho que devíamos levar mais vezes.

Sentir tudo. O bom e o mau. A tal espécie de auto-analise que eu acho que as pessoas não fazem.

Há algumas musicas de outras pessoas que tem este mesmo efeito, mas nada que seja tão consistente como o que eles fazem, ou, pelo menos, nada que dure um álbum inteiro: o de me fazer ver que, mesmo nos dias em que o mundo parece mais feio, há sempre ela, a musica, para nos lembrar que, afinal, no meio do caos também podem nascer flores.
Os Society tem, em mim, claramente, esse efeito.
Não sei (ainda) se, por me fazerem entrar num mundo mais magico, ou se, pelo contrario, por me tirarem de lá.
Sei que, inexplicavelmente, se me colaram à pele, e já não me deixam lembrar como era o mundo antes deles. Porque, nestes anos, acabaram por se tornar uma parte de mim.



 “…I’ve been trying my whole life to let you go, you’ve been trying this whole time to let me know…” em "All That We've Become".

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