Nos braços dos Bell X1

Se calhar, para muita gente, falar nos Bell X1 é como falar de outra qualquer banda que não se conhece bem. Para mim, é como falar de velhos amigos.
Na verdade, a minha ligação com os irlandeses já começou há muitos anos, e tudo por causa de um video com guarda-chuva amarelos, sabe Deus porquê.
E sim, eles são grandes. E não é só na terra deles. Juro.

Donos de letras inteligentes e perspicazes, muito irónicas, ou, se quiserem só muito bem humoradas, este Arms, o ultimo dos Bell X1 não vai ser o álbum que os vai fazer ficar mais conhecidos (pelo menos cá) mas vai trazer um bocado da música boa que realmente se faz no norte da Europa.




Donos de guitarras pujantes, neste sétimo álbum, os Bell X1, continuam (me) a ganhar pelas letras, pela música que vale por si só, intencional e com motivo de existir. 
A novidade maior de Arms é que a música ocupa mais espaço, por dizer que se torna ainda mais coesa e independente de rótulos e se liberta de comparações, com os Talking Heads ou com quem quer que seja.

Destaco “Bring Me a Fire King”, com o seu groove meio em jeito de disco dos anos 70, e com um saxofone muito em jeito de jazz, que nos leva a um sonho. Mas a um, onde tudo faz mais sentido, mesmo quando não faz. Com uma letra muito dramático-cómica e poética que nos mostra (mais) uma crise existencial ou, se quisermos ser mais pragmáticos, mais uma desvantagem de se ser humano.




Sim, os Bell X1 são sempre donos de um som limpo e de baterias e guitarras que tocam em conjunto, mas as letras? essas são impagáveis. Sempre.

Destaco tambem “I Go Where You Go”, muito dançável, com a voz de Paul Noonan a embalar-nos numa melodia colante e muito “sing-along”, com um refrão marcante e capaz de belos momentos ao vivo, aposto.

“Fake Memory”, mais up-tempo, com um piano marcante e uma bateria que marca tudo, e, essencialmente, uma letra cínica, que nos diz que “one men’s failure is another men’s gold”, pontuada com um clímax cheio de ritmo e capaz de nos fazer dançar enquanto pensamos que “ninguem quer saber mesmo, portanto, isto deve ser o melhor a fazer”.




“The UpSwing”, mais intimista, ou mais despida de instrumentos, onde a voz de Noonan é ainda mais fulcral e nos lembra do porquê dos Bell X1 serem assim tão bons, mesmo nas supostas baladas, que, para mim, são sempre mais desinteressantes. 

Arms é um album bom, daqueles que se vai colando enquanto o ouvimos. E os Bell X1? Continuam a ser uma das maravilhas escondidas que se instala no Ipod e depois não sai mais.


“…One day we’ll meet trouble half-way…” em The UpSwing.

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