«Hidden Figures», o disco

"Hidden Figures", o filme, baseia-se em factos reais numa América dos anos 60 em que as mulheres, sobretudo as afro-americanas, ainda não tinham um lugar de destaque na sociedade civil. Estreia esta semana em Portugal, mas é o disco que o acompanha que (mais) nos interessa.
A produção musical ficou a cargo de Pharrell Williams e foi sendo descoberto à medida que as canções iam vendo a luz do dia. Como é natural, têm a sua marca, um registo funk, cheio de energia, de irreverência e de vibrações positivas.

Apesar de tudo parecer rodar à volta do amor, os temas de Pharrell e companhia soam a canções de protesto, de intervenção, de força, de alento, de inconformismo. Como se o facto de vivermos em tempos imprevisíveis, nos tornasse mais susceptíveis às mensagens subliminares das coisas. Como se tudo o que ouvimos, vemos e lemos se transformasse num manifesto.


Ao ouvirmos o lote de canções do disco - e provavelmente ao vermos o filme - é inevitável acharmos que as coisas afinal não mudaram assim tanto em 50 anos. Por mais que queiramos acreditar no contrário, a discriminação existe, seja ela de que tipo for. Mas "Hidden Figures: The Album" é uma forma de acreditar que tudo está ao nosso alcance. 

A «culpa» é da soul, do funk e do gospel, têm uma força, uma energia diferente.
A acelerada e extremamente «catchy» "Runnin'" tem imensas semelhanças com as canções que Pharrell criou para o seu "G.I.R.L," tal como "Crave", que nos surpreende com incríveis instrumentos de sopro e uma linha de guitarra secundária, e, claro, as palmas que vão marcando o ritmo. E são indispensáveis também em "Surrender", o primeiro momento gospel «à antiga» pela voz de Lalah Hathaway.


"Able" tem um estrondoso arranjo de sopro presente ao longo do tema - pois é, normalmente são as cordas, mas estes também são de arrepiar... - e faz-nos recordar as canções da Motown. Em "Crystal Clear", tudo soa mais simples, ao contrário de "Jalapeño" que é um shot de energia a fazer lembrar o electro-rock-funk dos NERD - ideal para matar saudades enquanto não chega o novo disco que diz que está para breve!


Pelo meio, Pharrell Williams conta com a colaboração de algumas das «divas» do R&B: Mary J Blige, (de quem eu não sou fã) soa perfeita em "Mirage"; Alicia Keys está sublime em "Apple", um dueto maravilhoso de toque jazzy; Janelle Monaé, magnífica, ao mesmo tempo delicada e forte, em "Isn't This The World". "I See A Victory" na voz de Kim Burrell, é momento maior para o gospel, revisitado, em que a mente nos foge para um imaginário religioso, com os coros a exaltar energia. Uma forma perfeita de encerrar o disco.


"Hidden Figures: The Album" é uma obra irrepreensível, um regresso fresco às origens da soul, do funk, do gospel. E tal como o filme, emana uma carga política e social nas entrelinhas que não podemos nem devemos ignorar.

«Yes, We Can»

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