Considerações (nada tranquilas) sobre Tranquility Base Hotel & Casino dos Arctic Monkeys
Já passou muito tempo desde que saiu Tranquility Base Hotel &Casino (TBHC) é um facto.
No entanto, a minha opinião sobre ele mantém-se: os Arctic Monkeys reinventaram-se, como qualquer pessoa faria depois de AM (que, para mim, continua a ser o álbum mais fraco da banda de Sheffield). Aliás, se virmos bem, esta “jogada” acontece desde Whatever People Think I Am, That’s What I’m Not (o primeiro da banda). Sempre depois de um álbum com mais sucesso comercial acontece uma rotura e aparece um álbum mais intenso e mais de culto. O caso de Tranquility Base Hotel & Casino é ainda mais chocante, até porque AM foi o álbum mais comercial e mais mainstream que eles fizeram até hoje, daí, talvez, a surpresa geral do que aconteceu aqui.
Para mim, TBHC é muito rico.
Para mim, TBHC é muito rico.
Rico quer ao nível sonoro, muito mais ainda ao nível lírico, é um álbum extremamente criativo e irónico. Afinal de contas, estamos em 2018, e temos como “líder do mundo livre ocidental” uma personagem protagonista de um reality show, ao nível politico a extremos estão a dominar a cena, o planeta está a rebentar pelas costuras, o verão chegou atrasado, as doenças mentais aumentam a olhos vistos e todas as expectativas que se criaram nos anos 70 com a “Era de Aquário” foram pelo cano abaixo.
Esperava-se que umas das bandas mais influentes do planeta não quisesse falar de um hotel fictício no espaço e todas as historias que la acontecem? Pois.
O som novo é mais tranquilo, suave, cheio de texturas e nuances, muito em jeito jazzy e quase a bater naquela musica de bar de hotel. E isto vem acompanhado com as palavras de Alex Turner, a magia das palavras de Turner, que continua num sitio absolutamente transcendental. Isto é, para mim, inegável. e aqui eu bato o pé: Alex Turner é o melhor contador de estórias dos últimos tempos, que me desculpe o Father John Misty. Em TBHC tudo tem uma vibe retro, sempre acompanhada pelo ar Crooner de Turner e pela sua indumentária actual. Tudo parece ter saido de um tempo onde se cruza uma serie noir dos anos 70 com um qualquer episódio do Miami Vice.
TBHC abre com “Star Treatment” e com uma das frases mais faladas de todo o album: “I just wanted to be one of the Strokes, now look at the mess you made me do…” (o que, analisado so por aqui já faria antever que o percurso seria obrigatoriamente diferente dos álbuns anteriores, digo eu…). As letras vem carregadas de ironia e de todas as figuras de estilo possiveis, de forma a serem coerentes com a imagem nova da banda. A mim marca-me desde a primeira vez que ouvi “Star Treatment” esta belíssima tirada: …I just wanted to be one of those ghosts, You thought that you could forget, And then I haunt you via the rear view mirror, On a long Drive from the back seat…, deve ser de eu ser uma romântica, sabe-se lá!
TBHC abre com “Star Treatment” e com uma das frases mais faladas de todo o album: “I just wanted to be one of the Strokes, now look at the mess you made me do…” (o que, analisado so por aqui já faria antever que o percurso seria obrigatoriamente diferente dos álbuns anteriores, digo eu…). As letras vem carregadas de ironia e de todas as figuras de estilo possiveis, de forma a serem coerentes com a imagem nova da banda. A mim marca-me desde a primeira vez que ouvi “Star Treatment” esta belíssima tirada: …I just wanted to be one of those ghosts, You thought that you could forget, And then I haunt you via the rear view mirror, On a long Drive from the back seat…, deve ser de eu ser uma romântica, sabe-se lá!
“Four Out Of Five”, o single de lançamento do álbum, que é também das musicas que mais facilmente entra nos ouvidos (não fazendo dela a mais interessante, nem ao nível melódico e menos ainda ao nível da letra), é a ponte perfeita de AM para esta nova realidade, porque vai buscar referencias às linhas de baixo do álbum anterior, mudando-lhes o tempo e a intensidade. De qualquer forma, e não sendo a melhor musica do album, parece-me a mim que seja uma das que mais se cola e uma onde a letra é capaz de fazer um sentido mais imediato.
“… Dance in My underpants, I’m Gonna run for government…” e começa assim “One Point Perspective”, cheia de uma ironia mais do que gritante. “One Point Perspective” mostra-nos a forma articulada como Alex Turner nos canta mais uma historia. É uma das minhas escolhas e até o solo de guitarra soa melhor aqui no meio. A melodia, embora longe das inquietas guitarras e riffs de alguns anteriores é maravilhosamente cuidada e coerente. Adoro a mudança de tom a meio da musica, que lhe dá um ar ainda mais retro. A introdução do piano, acrescenta mais uma camada à musica dos AM e, até aqui, a mudança é notória (e para mim é mais valiosa): se em AM Turner estava mais preocupado em abanar a anca, agora toca piano. Eu prefiro, mas não tenho nada contra a situação anterior.
Podemos dizer que o álbum veio cheio de coisas à la David Bowie, ou com muito Lou Reed, ou que mimetizou canta-autores antigos, crooners e que eles agora fazem musica de lounge. Qual é o problema? Na musica, para mim é simples: ou se gosta ou não se gosta. E, em 2018 ainda temos outra vantagem que não seja a de desligar o radio (todos os dias me acontece, graças a deus!): quando não se gosta pode se ouvir outra coisa qualquer com um simples clique. Daí que eu defenda que se possa (e deva!) experimentar. Para fazer melhor. Para se ser melhor. Mesmo que se tenha que cair de vez em quando. Tudo para fazer diferente, para não se estagnar no garantido e na zona de conforto. Haverá melhor cenário possível de liberdade do que este?
Podemos dizer que o álbum veio cheio de coisas à la David Bowie, ou com muito Lou Reed, ou que mimetizou canta-autores antigos, crooners e que eles agora fazem musica de lounge. Qual é o problema? Na musica, para mim é simples: ou se gosta ou não se gosta. E, em 2018 ainda temos outra vantagem que não seja a de desligar o radio (todos os dias me acontece, graças a deus!): quando não se gosta pode se ouvir outra coisa qualquer com um simples clique. Daí que eu defenda que se possa (e deva!) experimentar. Para fazer melhor. Para se ser melhor. Mesmo que se tenha que cair de vez em quando. Tudo para fazer diferente, para não se estagnar no garantido e na zona de conforto. Haverá melhor cenário possível de liberdade do que este?
“Science Fiction” é a musica onde eu mais adoro a cadencia e a sexyness. Acho que tem a ver com tudo o que os AM tem feito nos últimos tempos e acho que é um dos temas onde se nota mais a influencia de Miles Kane, dos Mini Mansions, de Kevin Parquer dos Tame Impala, de Alexandra Saviour ou mesmo dos Klaxons, que fizeram todos parte do processo de gravação do álbum. A seguir, tenho que falar em “She Looks Like Fun”, a canção mais assumidamente Rock n’Roll, ainda que tenha a mesma vibração antiga e a tal sexyness dos anos 70 que está presente em todo o lado aqui em TBHC. Soa muito bem ao vivo, como se pode ver nos concerto dos NOS Alive, talvez por ser a mais parecida com os trabalhos anteriores, ou só mesmo por requerer menos subtileza no toque. “… dance like somebody’s watching, ‘cause they are…”
TBHC é um álbum para ouvir do inicio ao fim, porque é coerente e conta uma historia cheia de estórias. Como se andássemos dentro do tal hotel fictício no espaço sideral a ouvir cada historia que cada pessoa que esta em cada espacinho nos vai contar.
Até pode custar a entrar, o que eu entendo, mas não foi o meu caso.
Até pode custar a entrar, o que eu entendo, mas não foi o meu caso.
Para mim, é um dos melhores álbuns dos últimos anos. Daqueles que só aparecem uma vez de vez em quando que eu acho que vai continuar a ser coerente daqui a 20 anos. é uma obra prima, das que melhor relata a realidade (muitas vezes absurda?) do que vivemos nos últimos anos da segunda década do século XXI.
“Batphone” é a minha musica preferida do album desde a primeira vez que a ouvi, provavelmente por ter sido sugestionada pelos Black Flamingos que por la aparecem.
Brincadeiras à parte, “Batphone” tem a letra mais complexa de TBHC e o som mais sugestivo aos meus sentidos, só comparável a nível musical com “The Ultracheese”. Todo o poema é deliciosamente bom para ser ignorado.
Brincadeiras à parte, “Batphone” tem a letra mais complexa de TBHC e o som mais sugestivo aos meus sentidos, só comparável a nível musical com “The Ultracheese”. Todo o poema é deliciosamente bom para ser ignorado.
Desde o perfume de integridade que ele tenta vender (…I launch my fragrance called “Integrity" I Sell the fact that I can’t be bought…), à vingança escrita nas paredes (… You go in through the door, Vengeance trilogy wallpapers walls…) e aos ja falados flamingos (… Killer black flamingos, computer controlled…). Batphone é uma obra-prima do que de melhor Alex Turner consegue escrever, disso restam-me poucas duvidas. “… I'll be by the Batphone if you need to get a hold, Making a selection, Opening credits roll, Panoramic windows looking out across your soul…”
E chegamos ao fim com “The Ultracheese”. Já li algures que é a que tem mais de Bowie. Já li tudo o que se possa imaginar sobre esta musica na verdade.
“…what a death i died writing that song, Start to finish, with you looking on, It stays between us, Steinway and his sons, ‘Cause it’s the Ultracheese…”
Eu? Vejo uma musica boa para ser cantada com sentido e sentimento por uma pessoa que ja passou dos 30 e tem a noção real do que é a vida e das suas situações normais e se recorda das historias que ja passou.
…Still got pictures of friends on the wall, I suppose we aren’t really friends anymore, Maybe I shouldn’t ever have called, That thing friendly at all…
TBHC parece-me um álbum introspectivo, porém nada soturno. Parece-me um álbum demasiado bonito para não ser ouvido de forma descomplexada. E, parece-me, acima de tudo, ser um álbum sobre os problemas do mundo real.
…Still got pictures of friends on the wall, I suppose we aren’t really friends anymore, Maybe I shouldn’t ever have called, That thing friendly at all…
TBHC parece-me um álbum introspectivo, porém nada soturno. Parece-me um álbum demasiado bonito para não ser ouvido de forma descomplexada. E, parece-me, acima de tudo, ser um álbum sobre os problemas do mundo real.
Se isto quer dizer que os Arctic Monkeys se transformaram e que querem fugir da gentrificação a mim parece-me óptimo. Mas isso sou eu que não tenho muita paciência para mais do mesmo. E, na verdade, sendo esta a minha opinião, vale o que vale.
“…So I tried to write a song to make you blush, But I’ve a feeling that the hole thing, May well just end up too clever for its own good, The way some science fiction does…” em Science Fiction.
“…So I tried to write a song to make you blush, But I’ve a feeling that the hole thing, May well just end up too clever for its own good, The way some science fiction does…” em Science Fiction.
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