Debaixo do arco-íris com os Black Lips

É um facto assumido que eu gosto dessa "coisa" a que chamamos Rock n' Roll.

Talvez porque lá em casa cresci a ouvir o que de melhor se fazia nos anos 60 e 70 (quando o dito cujo nasceu...) ,dos mais mainstream Beatles aos mais obscuros Procol Harum com o seu deprimente "A Whiter Shade of Pale", e se me entranhou.
Talvez porque o ritmo das baterias do tal Rock n' Roll seja, de todos os outros, o mais apelativo para mim.

Ou mesmo só, talvez, porque o meu pai sempre contou as suas histórias de "rock star wanna be", e que nos fazem sempre achar que havia qualquer coisa de mágico na altura em que os próprios "músicos" faziam os seus instrumentos ou fugiam para poder ensaiar e dar "concertos" em bailaricos de província, com músicas que chegavam cá importadas e passavam em algumas (poucas) rádios, e com todas as aventuras e desventuras inerentes a isso.





Portanto quando se fala em Black Lips, fala se do tal Rock n' Roll. Logo, eu gosto.

Do "bom e velho rock n' roll" de que falou Alex Turner no seu discurso histórico (sim, eu acho que já pode ser considerado histórico) aquando dos Brit Awards deste ano. 
Daquele som que me faz bater o pé, e imaginar aquele universo mais "cinematográfico" das bandas que partiam quartos de hotel com excessos desmedidos e que iam em digressões em "carripanas" cheias de groupies como no filme "Almost Famous", por exemplo.



E se havia dúvidas de que os Black Lips fazem deste tipo de som, desse tal Rock n' Roll, bastou-me ter assistido ao mítico concerto da banda no Porto Primavera Sounds de 2012. Que foi, sem dúvida o "concerto mais rock n' roll do mundo", com o público em total sintonia com a banda, pessoas pelo ar, pessoas no palco, seguranças a "arremessar" fãs do palco para fora, música mesmo boa e uma atitude nada blasé dos senhores que tocam, como acontece muitas vezes com as "grandes bandas" (ou com algumas das pequenas por mais ridiculo que isso possa parecer...) que tocam muitas vezes por cá. 
Foi uma simbiose perfeita e inesquecível que elevou tudo a um outro nível.

Portanto, quando saiu "Underneath The Rainbow", sétimo (sim, sétimo!) álbum da banda, eu confesso que estava um bocado apreensiva. Porque as vezes criamos expectativas inconscientes sobre as coisas a partir momentos que nos acontecem, e que podem ser cruelmente defraudadas. 


Na realidade, claramente, isso não aconteceu.





Com um som demasiado característico e despretensioso, que só se consegue quando se tem a noção de que a música é uma forma de estar, uma atitude, e que "não se compra", "Underneath The Rainbow" está recheado de momentos viciantes e "mais old School" como "Drive By Buddy", "Make You Mine", "Dandelion Dust" ou mesmo "Dog Years"Momentos dos que nos fazem recuar no tempo, mas de forma consciente de que estamos no sec. XXI e não em outra altura qualquer, como se quer.





Momentos esses que vêm devidamente intercalados com registos tocados de forma mais "indie" como "Smiling", "Justice After All", "Waiting", "I don't Wanna Go Home", de forma a que percebamos que isto do Rock n' Roll, na verdade, não tem "géneros" e se intercala de forma natural e quase simbiótica quando é bem feito.



No meio disto tudo encontramos musicas com uma toada "punk" como "Funny", "Dorner Party", "Boys in The Wood" e a maravilhosa "Do The Vibrate" (que é uma das músicas preferidas dos Black Keys a ver pela colectânea feita pela banda que saiu na revista MOJO deste mês.)





"Underneath The Rainbow" é, assim, um álbum muito consistente e feito por quem claramente sabe o que está a fazer. Não fosse já este o sétimo trabalho da banda. 
Um album que nos leva a recuar no tempo, como eu já disse, até aquele tempo que eu já referi, mas sem tem um efeito pastiche. Como se pudéssemos fazer parte de um universo que já não existe, só através da música. E como se isso fosse a própria essência da banda, que a esta altura, e mesmo sem o "hype" de outras bandas, é já uma certeza absoluta naquilo que de melhor se faz na musica de hoje. 
Pelo menos para mim.

A magia da música é podermos fazer dela nossa em algum momento que seja. E, eu confesso, que "Underneath The Rainbow" tem claramente esse elemento que me faz querer ser parte dessa magia. 

E, por isso, rumaremos a Paredes de Coura, algures no fim de Agosto, para partilharmos da tal magia, desse tal Rock n' Roll, de estar debaixo do arco-íris, com eles, os Black Lips.



"rock n roll, don't mess around..." em Do The Vibrate.

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