Entre o Blues e o Rock, com os Catfish

Descobri os Catfish, não sei bem quando. Há uns meses talvez, provavelmente numa incursão pelo site Les Inrocks. Tinha acabado de redescobrir Stromae (falámos sobre ele em "A raíz (nada) quadrada de Stromae"), e, em pesquisas pelo que se faz por terras francesas, colei no single "Make Me Crazy".

O disco de estreia "Muddy Shivers" saiu em Março mas só me chegou às mãos, há cerca de duas semanas - infelizmente, ainda há coisas que não chegam cá... A expectativa era muita e, posso já dizer-vos que não desiludiu.


Os Catfish são Amandine Guinchard - voz, baixo e percurssão, e Damien Felix - guitarras, teclas e harmónica. O repertório passeia-se entre o blues, o rock, o folk, com um elo comum: a voz forte e característica de Amandine.

O EP já soara bastante interessante, e "Muddy Shivers" confirma a qualidade do duo francês - se precisarem de uma referência, eu diria que os aproxima do som dos The Kills - a chavininha que me perdoe, que eles são únicos, eu sei! ;)

Mas os Catfish têm personalidade própria, e são diferentes de qualquer coisa que tenha ouvido recentemente. Muito por culpa da voz grave, segura, intensa, ao jeito do jazz mais antigo.


"Big Shivers" é o primeiro contacto com a voz de Amandine, entre o mais grave e o mais agudo, sempre segura. E potenciada por uma linha de baixo entusiasmante. "Make Me Crazy" tornou-se um vício. Desde que a escutei pela primeira vez. Quase que arrisco dizer que é o single perfeito, daqueles que nos dão mesmo vontade de ouvir mais.

"Much Better" é um dos temas fortes de "Muddy Shivers" e uma das minhas favoritas. Está tão perto do rock n' roll dos anos 80, que impressiona. Como se fosse uma daquelas canções que ouvíamos em criança, quando as meninas não cantavam só musicas fofinhas.



Em "Black Coat", a voz de Amandine aparece mais grave e mais forte, em compasso com a bateria, que lhe dá um toque ainda mais dramático. É mais intensa, como "Hold On", o primeiro tema calmo, em formato semi-acústico.


O rock "antigo" aparece em força em "Catch Me" - a bateria, os acordes e riffs de guitarra, e em "Have a Good Time", onde a mistura com o blues é perfeita.


A batida mantém com "My Daddy", com Amandine mais interventiva. A sua voz aparece distorcida como se para lhe dar mais fervor - «i'm nothing like you» ao som de guitarras mais rasgadas que o habitual.


"Like A Cloud" tem um ritmo contagiante, que nos põe a bater o pé. De novo a cheirar a sons mais antigos, com as variações na voz e nos instrumentos. E depois chega-nos "Not Alone", em registo acústico, mais melódico. Pelo menos até à explosão. Que Amandine não faz a coisa por menos e não entra em desesperos. Muito pelo contrário, até conseguimos sentir a agressividade subtil nas entrelinhas. 


É de facto impressionante a forma como Amandine transmite as emoções e sentimentos das canções. Como em "Old fellow", outra das favoritas, um tema mais negro, mais "vingativo". E é tão sentido que o tom de voz enquadra-se perfeitamente na dureza da letra.


"Muddy Shivers" oferece-nos mais dois temas: "Drag You Down" a recuperar o modo acústico - um outro lado da voz de Amandine, mais clean, como se fosse uma gravação caseira, perfeitamente acompanhada por Damien e o seu sotaque francês, tão simpático no contraste. E "Listen", o regresso ao rock, à bateria, às guitarras. Uma tomada de posição, um «stand up for yourself» - que expõe o sentimento do disco mesmo nos momentos menos agitados.


Depois de ouvir o álbum por inteiro, chego à conclusão que «Make Me Crazy» é a canção mais catchy mas não é a melhor. Nem de perto, nem de longe. Porque as outras são muito mais intensas sem serem cliché, são sentidas sem serem lamechas. São mais interessantes, e exploram melhor o sentimento de fúria das letras que a voz de Amandine transmite tão bem.

"Muddy Shivers" é um disco forte e com alma.
É autêntico, e recupera o espírito do rock e do blues de outros tempos.

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