O "Clarão" de PAUS: ao vivo e em disco

Aviso: o texto que vão ler a seguir é um "dois em um": por alturas do lançamento de "Clarão" (o segundo longa-duração de PAUS) houve também concerto e nós estivemos lá (como não podia deixar de ser). Entre opiniões sobre "Clarão", o disco, vão estar relatos sobre "Clarão", o concerto de apresentação, no passado dia 30 de Abril no Lux. 

Os PAUS são, sem sombra de dúvida, um dos projectos mais interessantes e entusiasmantes da nova música portuguesa. 
Criativos e originais, como tem de ser. 
Ainda assim, "Clarão" não me conquistou de imediato. Aliás, o que me apetece dizer assim de repente sobre o disco é um cliché: «primeiro estranha-se, depois entranha-se». E é a mais pura verdade, porque duas semanas depois, o disco está em rotação máxima cá em casa. E no carro, que a Chavininha tem razão e é uma óptima escolha para conduzir.

O primeiro single, "Bandeira Branca" engana. É para mim o tema mais mainstream, aquele que é de fácil consumo - não me interpretem mal, isto não é uma coisa má, até porque eu acho que as bandas portuguesas precisam de coisas destas para poderem (sobre)viver da música em terras lusas.


Créditos: Concertina

Mas o resto do disco é, na verdade, um murro no estômago. 
As canções são fortes, agressivas, duras. 
As teclas de Shela foram substituídas pelas guitarras de Fábio Jevelim e isso nota-se no resultado final. As canções ganham mais garra, um ar mais selvagem, mais intempestivo. 
E é bom, mas não é para todos os dias. 
E, provavelmente, também não será para toda a gente.

E isso sentiu-se no concerto. 
Espero que tenha sido por não estar ainda muito familiarizado com as canções novas, mas o público esteve apático durante o concerto (quase) todo. (A Chavininha diria que "no concerto todo, mas pode ser uma coisa local.") E mesmo quando vibrou com os temas mais conhecidos, ficou algo aquém das (minhas) expectativas - o que levou Hélio Morais a dizer «Eu sei que lançámos o álbum há pouco tempo, e ainda não houve tempo para decorar as letras. Mas o ritmo é universal, ou não?» (eu acho que é. E eu sei que a Chavininha também concorda não fosse ela a fã das baterias e das caixas de ritmos.).

Em causa, as reacções ao segmento de abertura, ou a falta delas: "Primeira" - perfeita para expor a mestria na bateria siamesa de Hélio Morais e Joaquim Albergaria, "Cume" (uma das melhores do disco novo, a transbordar energia e ritmo) e "Clarão". Foi estranho, quase ninguém se mexia, o que parece quase impossível quando ouvimos PAUS.

Créditos: Concertina

As coisas melhoraram um bocadinho com "Mudo e Surdo", sempre inquietante, que gerou a primeira reacção do público, com um grande momento de Fábio Jevelim na guitarra. Seguiram-se "Pontimola" e os sintetizadores marcantes de "Ouve Só", e "Bandeira Branca", enérgica e tribal, que é recebida em êxtase pelo público.



"Nó", outro dos temas novos, é uma mistura brilhante de ritmos, qual esquizofrenia pura e, a "Negro", o lado mais rock de PAUS, seguiu-se "Cauda Turca", que nos obriga a dançar (as gentes estão tímidas ainda e não se mexem muito...). 
Faz-se o regresso a outros temas: "Muito Mais Gente" e "Deixa-me Ser" arrancam finalmente os maiores aplausos!
Dança-se, batem-se palmas... aos poucos, lá vai nascendo o momento de comunhão entre público e banda - até qu'enfim!


"Corta-Vazas" é o tema que abre o disco, mas aqui, por entre as canções, aparece deliciosamente explosiva, abrindo portas a uma viagem ao passado tão, mas tão intensa, com "Pelo Pulso".

Os PAUS são entusiasmantes e brilhantes ao vivo, arrepiantes até. E não entendo como é que num concerto destes, as pessoas não se mexam e não aplaudam, mesmo com a banda a pedir. É que o ritmo é de facto universal!!! (e eles bem tentaram puxar pelas gentes, a custo, lá iam conseguindo... mas pouco.)

Houve tempo para mais uma: "Língua Franca", a fechar em grande um concerto explosivo com direito a crowdwalking de Makoto - e de repente nem parece que o público do concerto era o mesmo, tão tímidos no inicio, mais eufóricos no fim.


Créditos: Concertina

As canções novas funcionam melhor ao vivo do que em álbum. 
Acho que a bateria siamesa de Morais e Albergaria é mais imponente, mais forte, mais intensa, mais bruta. 
Em disco, claro que prende, mas não é a mesma coisa.

Não sei se tocaram "Ambiente de Trabalho". Se calhar, não, porque de todos os temas de "Clarão" talvez seja a mais serena. Aparece lá no meio, como se fosse um momento de calma no meio do caos.

Porque "Clarão" é intenso, caótico, urgente. 
Ao vivo e em disco.
Tal e qual como nós gostamos.

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