In Dream, ou os Editors à procura da luz
Os «meus» Editors estão de volta aos discos com "In Dream", um regresso à electrónica de "In This Light And On This Evening".
Mas com mais luz, mais brilho, mais ânimo, e um som por vezes mais pop que o habitual, a soar a anos 80 com os muito amados (ou odiados) sintetizadores.
Tem sido uma tendência, esse regresso ao som dos anos 80 e 90, já o (ou)vimos em vários discos de 2014 e 2015. No caso dos Editors, a coisa até encaixa bem nos meus ouvidos, unica e exclusivamente por causa da voz de Smith - mesmo quando o moço se aventura no falsetto.
"No Harm" foi a primeira amostra, o primeiro tema a desvendar o caminho deste quinto álbum. O contraste entre o lado negro e a luz é intenso, a voz de Smith em registo grave e baixo, onde me parece que ele soa sempre melhor, os sintetizadores a aparecerem ao longo do tema. E a criarem a tal nota de luminosidade, de esperança, de cor.
Esse brilho mantém-se em "Ocean of Night", cujo refrão quase que instintivamente me fez pensar em Arcade Fire - mas só aí...
Em "Forgiveness", que descobri primeiro em versão acústica, há força, há ritmo e intensidade. E "Salvation" foi ganhando o seu espaço a cada escuta. Uma entrada fulminante com as cordas, que vão acompanhando a bateria em fundo, e marcando a melodia de forma deliciosa. O refrão faz "explodir" a música, que pouco depois volta à calma com a mesma estrutura instrumental - aqui já com as teclas - e no fim, de novo as cordas a encerrarem o ciclo da canção.
Outro dos «singles» foi "Life Is A Fear", que ao início me soou estranho e que agora já se entranhou. É esquisito ouvir Tom Smith num registo mais upbeat, mais eighties, rodeado de sintetizadores, variando entre o falsetto e o «normal» mas o facto é que a sua voz é assim tão versátil.
E perfeita para duetos «dark».
Como em "The Law" que conta com a participação especial de Rachel Goswell dos Slowdive, e que segundo Smith é a canção mais próxima de "I Got You Babe" que os Editors alguma vez criarão - o que pode parecer ridículo. Mas, se bem se lembram, o tema de Sonny & Cher assenta num jogo de palavras entre os dois. E o mesmo se passa em "The Law", que desde o primeiro momento que o ouvi, passou a ser um dos meus preferidos. Smith a encarnar um personagem quase desesperado, criando um ambiente negro q.b., que encontra na voz de Rachel a luz.
Intenso.
"Our Love" traz-nos de volta ao synth pop, e eu não consegui evitar a colagem aos Journey quando se ouve em loop lá para o fim «don't stop believing»... Ou ao James Bay, quando em "All The Kings" (que para mim é do mais pop que os Editors já fizeram), o Tom Smith sai-se com um «holding back a river»... Mas, atenção, há qualquer coisa de catchy neste tema, uma batida cheia de ritmo, que não me deixa indiferente.
«but the beat of your heart is alone in the dark»
É em "At All Cost" que se sente a força da voz de Smith. É a canção mais despida, delicada e que emociona quando se ouve Smith a entoar «don't let it get lost, at all cost»...
Arrepiante.
Com "Marching Orders", chega o fim do disco. Um final épico (dura quase oito minutos!), um dos meus temas favoritos, que colou assim que saiu. Mais comedido nos sintetizadores e na cena dos anos 80, mais «Editors dos primeiros discos», de quem sentimos saudades e que eu gostava de voltar a encontrar nas próximas composições.
Até lá, espero que eles voltem para (mais) um concerto para que este "In Dream" ganhe o seu espaço entre quem os segue.
Sim, é verdade, estão longe, muito longe, do som de "The Back Room", mas eu gosto. Os Editors são uma das minhas bandas de estimação - eu assumo que a voz de Tom Smith que ainda hoje é das vozes que mais mexe comigo - e quer lhes dê para o rock, indie rock ou para o synth pop, eu vou continuar a ouvi-los.
«I will fall with the rain, I will flicker with the flame»
(Editors, "Marching Orders")
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