"True Care": uma viagem ao mundo de James Vincent McMorrow


Parece que foi ontem que James Vincent McMorrow lançou "We Move". E hoje já ando a ouvir o novíssimo "True Care".
Chegou de repente, com teasers, com pedaços de canções, com uma mensagem longa e honesta e à minha medida: o disco existe porque era o que fazia sentido.

não há outra maneira de fazer as coisas. sem as sentir.

Este trabalho é um disco de emoções, ponto. E dessa forma não há melhor descrição que a do próprio: «swings left. swings right. lose focus. find focus again.» - acaba por ser um pouco como levamos a vida, não?

É um disco sereno, claro, emotivo, mas é também desconfortável e angustiante. Um escape e ao mesmo tempo uma viagem a um futuro não tão longínquo assim.
O ponto de partida acontece com "December 2914", um novo som, a mesma voz envolvente. Em "True Care", não se fica indiferente ao sentimento, genuíno, cru, simples, honesto. A favorita de McMorrow, "The National" é também especial, intensa e com um fim abrupto, como se tivesse sido interrompida... deixa-nos suspensos, como acontece por vezes na vida.


Não consigo deixar de pensar no último registo de Bon Iver ao ouvir "Thank You", tão diferente da anterior. Aqui, o ritmo é mais upbeat,  há mais percussão que acompanha uma voz distorcida.
"Interlude 1" ou «moving from the past to present» serve como «intermezzo», uma forma de assimilarmos o que ouvimos e prepararmo-nos para o que aí vem.


E o que chega é "Constellation", com um jazzy beat, que eu tanto adoro, e variações de tempo / melodia como se fossem emoções humanas. Em "Holding On" regresso ao universo Bon Iver, música em camadas que escondem emoções. De repente, tudo muda, a voz quer fazer-se ouvir, pede a nossa atenção.


"Bears" é a canção «dura», tal é a crítica social, ao contrário de "Pink Salt Lake", que cresce, se torna densa e tensa, e depois dissipa-se. Um dos seus versos teima em ressoar - «If time is inevitable/ How could you leave me alone?»...



Com "Interlude 2" ou «moving from the present to the abstract future», um novo momento para sentir, escutar, refletir, seguir viagem que há mais música para ouvir.
A voz de James Vincent é «usada» como instrumento maior em "Bend Your Knees", o romantismo de "Change Of Heart" é avassalador - «to love is to damage» - é difícil encontrar o ponto de equilíbrio para amar sem magoar, será que é possível?
"Glad It's Raining" quebra o ritmo com piano e bateria, um som mais clássico, contrastando com o mais futurista. O minimalismo mantém-se na intensa "Don't Wait Forever" e o fim chega com "Outro" ou «fading», a última paragem, o regresso ao «mundo real».


"True Care" é um disco pessoal e artístico, que explora novas sonoridades. Faz-nos ver e sentir o mundo pelos olhos de James Vincent McMorrow, como se de uma outra dimensão se tratasse. É a sua visão, uma perspectiva, o poder olhar de fora para o que somos, como interagimos com o outro, como nos relacionamos e como lidamos com o que sentimos.
Um momento de reflexão, que agora também é nosso.

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