Yes, In This Lifetime, ou o relato possível do (meu) reencontro com os Guns n' Roses

Algés, 2 de Junho de 2017.
Quase 25 anos depois de eu, na altura com 12 anos, me ter prometido que os ia ver, um dia. 
Tinha (finalmente!!!) chegado a hora de ir ver os Guns n' Roses. 
Não os Guns n' Roses fajutos que Axl Rose tinha trazido ao Rock in Rio ja nem sei quantos anos antes: os Guns "à séria"
('Tá bem que Matt Sorum não aderiu à reunião, mas já que a ideia era ver os Guns n' Roses, tinha que ser com Axl, Slash e Duff. Ou então não faria o menor sentido e mais valia ficar em casa.)

O ambiente estava fabuloso, as pessoas vestiam o mesmo "uniforme" de guerra: t-shirts com o símbolo da banda de todos os géneros e feitios, bandanas na cabeça, bastantes camisas aos quadrados, e, acima de tudo, aquele espírito rock n' roll que vai escasseando nos festivais de hoje: se a ideia era ir ver os "deuses", teríamos que lhes fazer reverencia, ao invés de estar concentrados nos problemas domésticos do dia-a-dia.
(portanto, Concertina, aqui não houve burburinhos esquisitos, e mesmo os "nuestros hermanos" que estavam em Algés estiveram a ver e a sentir a música, a gravar tudo de telemóvel em punho, e a dançar e cantar. Até estranhei, mas foi mesmo isto.)

Na verdade, passavam apenas poucos minutos da hora marcada quando as pistolas do ecrã gigante desataram a disparar, aguçando a curiosidade dos milhares de pessoas que aguardavam este reencontro. Mas, na verdade, foi quando começou a tocar a famosa musica dos Looney Tunes (que como todo o bom fã sabe, marca a entrada da banda em palco) que se sentiu a energia. (Aqueles Guns n' Roses do concerto de Tokyo das cassetes de vídeo da tour de Use Your Illusion... ou qualquer coisa que eu assimilei desse mesmo género.)

Ainda a noite não tinha caído e estavam ali, mesmo a minha frente, Axl Rose, Slash, Duff McKagan e grande parte das minhas memórias de adolescência. 

E, a partir daqui, tudo foi possível: um desenrolar irrepreensível de êxitos, com os agora mais velhos Guns a demonstrarem a quase 60000 almas como é que se faz aquilo do Rock n Roll, e a mostrarem porque é que têm, ainda hoje, a importância lendária que têm no mundo da música. (E isto, meus amigos é a verdade incontestável.)


Na verdade, tudo o que possa dizer sobre aquela noite em Algés é demasiado pouco. 

Vai ser sempre.
A setlist é a que já andava a circular desde que começou esta "Not In This Life Time" Tour. Há quem diga que, para ser perfeito, teria faltado o Don't Cry, a mim, só me faltou uma "coisa": aquelas miúdas que faziam os back vocals em 1992 eram mesmo necessárias para a coisa se dar ainda com mais power.

Começamos, então, a noite a cantar It's So Easy (e com a letra na ponta da língua como se fosse ontem...incrível!), seguimos para o encontro com Mr. Brownstone, mas, na verdade, foi com Welcome To The Jungle que eu acho que o meu cérebro assimilou que sim, aquilo estava mesmo a acontecer, e eu estava finalmente ali, a sentir cada corda da guitarra de Slash, cada dança de Axl, cada piscadela de olho de McKagan (que continua a ser o gajo mais cool daquilo tudo.)


Quando chegou Estranged o meu coração bateu forte, e o solo de piano de Dizzy Reed fez o meu coração parar 3 segundos com a (ainda) pertinência daquela letra, daqueles "aiais" de Rose, e daquele "todo" que estava a acontecer ali em Algés.

Isto tudo levou a Live and Let Die, que é tanto dos Wings como dos Guns, se calhar até mais deles, já nem sei bem! Sei que foi muito nosso, porque o que eu vi foi toda a gente a cantar, com a exacta precisão com que Rose cantava também, e até mesmo com a mesma precisão da guitarra de Slash (toda a gente já sabe que nós por cá cantamos tudo, até as guitarras, right?). E isto foi exactamente o que aconteceu, também, quando começou You Could Be Mine alguns minutos depois.



Quando se ouvem os primeiros acordes de Civil War foi outra vez tempo de parar e entrar em uníssono com eles (lamento se não tenho paciência para baladas como This I Love ou se a versão de New Rose de McKagan não me convenceu, mas é o que temos.) 

A homenagem a Chris Cornell, com Black Hole Sun foi muito melhor do que a que circulava no youtube (talvez porque também nós portugueses cantamos mais? não sei...), apaguei do meu cérebro Coma, porque depois veio o primeiro dos meus momentos preferidos daquela noite: o grandioso e épico solo de guitarra de Slash, que acaba com Speack Softly Love do Padrinho. 
A Chavininha de 12 anos teria claramente chorado. A de agora, fez força e entrou naquela bolha do "só estou cá eu e eles, e nada me pode tirar daqui nem estragar isto", e pensou: "claramente quando se é bom é se sempre muito bom. E se alguém tem culpa de eu gostar de guitarras eléctricas, este senhor está claramente no top 2".


Daqui seguimos para Sweet Child O'Mine, com o uníssono das vozes do público, as correrias de Axl, a comunhão das guitarras e a bateria de Frank Ferrer, nos fizeram arrepiar e nos deram a certeza de que o que estávamos ali a viver era épico. (E em tantas formas épico... que não dá para explicar muito bem).

Ora bem, na verdade, concerto de Guns n' Roses que é concerto tem que ter duas coisas: Knocking on Heavens Door e November Rain, e, se, a primeira tem já aquele mesmo problema que Live and Let Die, ou seja, sendo do Dylan já é mais dos Guns também, a segunda foi a música que marcou mais de metade das pessoas que lá estavam. Desde a delicadeza (quase antagónica) da imagem de Axl ao piano, ao solo épico de Slash, November Rain é daqueles clássicos incontornáveis. (Mente quem disser que nuca verteu uma ou duas lágrimas ao som disto. Não me lixem.) Podia estar aqui horas a descrever este momento, mas não me parece que qualquer pessoa não consiga imaginar como a ainda muito bem oleada maquina dos Guns fez isto: divinalmente. 


Depois disto, e de Nightrain, os Guns saem de palco. Depois de 5 ou 6 indumentárias de Axl Rose, e de quase 2 horas e tal de música. Como se fazia antigamente. Mas não para desaparecer de vez. (Nem eu lhes perdoaria isso.)


Faltava Patience (suspiros...), "a" balada rock acústica. Nem falo muito sobre isso porque quero guardar tudo só para mim. Digo só que acabar duas horas e tal de concerto com Paradise City foi o bolo em cima da cereja, "a" festa, com direito a fogo de artificio, confettis, toda aquela parafernália de coisas "Old School" que o rock dos anos 90 tanto usava, e aquela certeza de que, desse por onde desse, eu tinha mesmo que ter estado ali, e nem a coisa teria feito nenhum sentido de outra forma.



Confesso que dias antes, tinha dado por mim a imaginar um daqueles "worst case scenarios" épicos: Axl não aparecia, ou então não lhe apetecia cantar, ou então o recinto ia estar demasiado cheio, ou então... 

Ora bem, já estamos aqui fartas de falar do que acontece no Passeio Marítimo de Algés aquando do NOS Alive de cada ano... Aqui a coisa não foi diferente. Não só porque foi no mesmo sitio, mas porque, provavelmente, a organização se esteve a borrifar na mesma. 

E, tanto quanto eu soube depois, a coisa ainda correu pior do que é costume. 

Eu não tive esse fado: fui de comboio, não apanhei grande stress a entrar (tirando o já conhecido alto congestionamento dentro do túnel da estação (evitável e claramente falta de organização... até um dia a coisa correr mesmo mal... vai continuar tudo igual, não é?). E, à (minha) saída a coisa também não foi má: o já famoso "walk of shame" do viaduto (com as pessoas a passarem de um lado para o outro até um dia alguém cair cá abaixo... Afinal o que são 8 ou 9 metros de queda?), uma fila assustadora para os táxis, e o meu comboio, que chegou nem 10 minutos depois. 

(Mas, para isto, foi preciso começar a sair antes de acabar Paradise City. E, descomprimir, comer ou qualquer outra dessas "tarefas" ficaram fora de questão, pois...)

Se me faz sentido? 
Absolutamente nenhum. 
Menos ainda se pensar que, pouco tempo depois as pessoas ficaram retidas dentro do recinto, a confusão começou a instalar-se e, se a faixa etária das pessoas fosse mais baixa, claramente a coisa tinha complicado ainda mais.


De tudo, e o que interessa aqui: vou reter o concerto, o reencontro com os "meus" Guns n' Roses (que, a determinada altura eu já tinha começado a acreditar que não ia acontecer nunca...), o Patience, aquela cara de psicopata do Axl (que eu sempre achei tão adorável!!!) e, acima de qualquer outra coisa, os solos épicos de Slash, que me foram todos directos ao coração. 

Porque há coisas que, de facto, nunca mudam, e eu oscilo ainda hoje entre achar piroso dizer que o meu coração bate mais pela "azeiteirice" dos casacos de franjas "à la Americana" de Rose, ou pela destreza épica dos dedos de Slash na sua Gibson e daqueles seus sorrisos por debaixo do cabelo, aqueles meio de esgar, que nunca sabemos bem se gozam connosco ou se são mesmo felizes... 

Acho que vou optar por ficar com a excelente forma física de Duff McKagan e a sua carga de coolness, na sua guitarra com o símbolo do Prince, que sempre me parece menos mal. ;)

Uma coisa é certa: quando se é do Rock, é-se sempre, por mais que se passem 25 ou 30 anos. E por mais voltas que a vida dê, e isto, não tem mesmo nada que enganar.

(p.s. os Videos não são meus, óbvio. Até porque eu sou old School e acho que não sei fazer nada disso bem feito. Para alem disso, se há quem faça melhor, e melhor posicionado...pois.)

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