"Big Red Machine", o lado livre de Justin Vernon e Aaron Dessner

Já vos apresentámos aqui o projecto de Justin Vernon (dos Bon Iver) e de Aaron Dessner (dos The National). Chama-se "Big Red Machine" e o disco, com o mesmo nome, mistura o lado mais electrónico de um com o lado mais clássico de outro, com alguns extras.

O que salta logo à vista quando ouvimos as suas canções é a harmonia. Nas melodias, na voz, nas mensagens, na forma como tudo parece improvisado sem o ser.

"Hymnostic" foi dos primeiros temas a ser lançado e ainda hoje acho que a melodia poderia fazer parte de um qualquer disco dos The National. Há serenidade ao ouvirmos Vernon em modo gospel, quase religioso.


É algo espiritual, emotivo qb, que nos transcende, permitindo-nos talvez encontrar uma ligação à natureza, ao espaço, ao tempo, a nós, que tanta falta faz nos dias de hoje.

"Lyla" também soa um bocadinho assim, ainda que mais dinâmica. Foi outro dos temas que pudemos ouvir antes, e é uma canção intensa. Talvez por sentirmos que Justin está mais confortável nesta pele de maior improviso, maior liberdade musical, ou pela guitarra em fundo que irrompe na melodia. Ou se calhar, devido aos violinos na parte final, absolutamente maravilhosos - e não deixo de sorrir ao imaginar ouvir isto naquele recinto incrível de Eaux Claires...


"I Won't Run From It" também colou quando saiu. Não tanto pelos acordes folk / country (talvez seja o tema que está mais perto da canção «americana»), mas a sua construção. O instrumental vai crescendo e ganhando cada vez mais força com o trompete, o falsetto de Vernon e a entrada dos coros - ao vivo, imagino a coisa potentíssima... E, depois, recomeça tudo outra vez.


"Gratitude" e "Forest Green" compõem o lote de canções «pré-disco». Apesar do uso mais acentuado do vocoder (que eu continuo a achar desnecessário), as suas melodias em cadência vão criando o ambiente certo para, novamente, nos concentrarmos na mensagem espiritual.

O disco completa-se com mais cinco canções. "Deep Green" é canção de batida minimal, pelo menos até entrar a voz de Justin, ora em tom «normal» ora em falsetto. Pelo meio, lá atrás, uma guitarra eléctrica acompanha-o...


O registo mais electrónico chega com "Air Stryp", com o piano a dar um toque sublime, e "OMDB" leva-nos de volta ao universo de "22 A Million", o último disco dos Bon Iver, a delicadeza dos violinos a conduzir-nos a um beat mais «agressivo». O piano reaparece em grande destaque em "People Lullaby" mas é a cadência da guitarra eléctrica em "Melt" que nos faz parar para pensar...

"Big Red Machine" foi uma surpresa boa.
Fruto da criação livre e sem pressões de Justin Vernon e Aaron Dessner, contou também com contribuições de artistas mais e menos conhecidos. O resultado? Inúmeras influências e estilos que se reúnem, misturam e convergem de forma perfeita.

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