Concertinices sobre Discos: edição 2020
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Seria de esperar que este tempo de «quarentena» me permitisse ter tempo para escutar todos os discos que saíram até agora para poder escrever alguma coisa sobre eles, mas não. As músicas não pararam de chegar, os mails também não e o tempo, que parecia muito, passou depressa demais.
Por isso, dou início à edição deste ano das «Concertinices sobre Discos» com os vários trabalhos que me acompanharam nos últimos meses.
Passaram-se 5 anos desde o último álbum, "So Long, See You Tomorrow". Consta que este novo disco é uma espécie de exorcismo emocional, uma forma de expressão de ansiedade, de crescimento, e o encontrar conforto na música. Esperava canções down tempo, mas dei de ouvidos com canções cheias de ritmo, de energia até, e melodicamente (muito) cativantes (das quais destaco "Is It Real", "Everything Else Has Gone Wrong" e "Eat, Sleep, Wake (Nothing But You)"). Quando prestei mais atenção às letras, o sentimento geral não me pareceu assim tão alegre. E quando voltei a ouvir o disco, encontrei-lhe as notas mais sombrias, algumas agridoces, ilustrando o tal desânimo e a depressão que podem afectar qualquer um. Mas nem tudo é mau e há esperança também. Pelo menos na última nota do disco. "Racing Strips" é o exemplo mais do que perfeito de como se pode encontrar a salvação através da música. Daqui para a frente, que o ambiente seja mais luminoso.
Um disco duplo, duas faces da mesma moeda. Entusiasmei-me mais com a parte #happy do que com a parte #sad (excepção feita a "Sad Happy", o single), que contém músicas com energia, com ritmo e com guitarras estridentes, e que fazem abanar o capacete e bater o pé. Nota máxima para "Jacqueline", perfeita para ouvir de manhã com o volume no máximo para acordar a vizinhança.
É uma das minhas vozes nacionais favoritas. Este disco mostra-nos um outro lado de Mazgani, mais vulnerável, mais contemplativo talvez. As canções não desiludem, com a sofisticação de sempre, ainda que num registo mais lento que as do disco anterior. Confesso que me custou a interiorizá-lo, gosto bastante da faceta rock. Mas há uma delicadeza e uma elegância incontornáveis nestas novas canções. "The Sweetest Song" tem blues, o que a aproxima do que eu mais gosto. Mas não viro a cara a "The Gambler Song", a "Into The Silence", a "The Glowing Horses" e a "River of Stone". É um disco para ouvir e saborear do início ao fim, sem fazer fast forward, seguramente um dos meus preferidos do ano.
É a estreia a solo do elemento dos Linda Martini. Nem sempre me distanciei desse universo, mas este disco apresenta um André mais vulnerável, mais próximo de nós, mais emotivo. Entre canções de arranjos simples e intimistas, fica ainda mais a nu o talento de André (que sempre lhe vi). "E de Repente", o primeiro single, continua a arrepiar-me a pele sempre que toca. Ganhei um carinho especial por "Uma Casa na Praia" porque me identifico muito com a letra. "O seu melhor chapéu" e "e de tudo o que eu fugi" trazem aquela urgência roqueira que tanto (lhe) admiro. "Cajarana" é um disco de histórias com as quais é fácil identificarmo-nos, e entrou para a lista dos meus preferidos do ano.
Mais uma voz que me encanta. O disco engloba um leque de canções emotivas, intimistas, de uma simplicidade tocante e desarmante. É pop-folk no seu estado mais genuíno, sem artifícios e com um grande trunfo: a voz envolvente e reconfortante de Meadows. Destaque para "In and Out of Love", "Empty Windows", "Good Old Days" que mais me tocaram o coração. Mas todas são, como já me fartei de dizer em publicações anteriores, canções que confortam a alma.
Foram 7 anos sem novidades. O novo disco chegou finalmente em Abril e é surpreendente. Para o bem e para o mal. Há muitas influências dos anos 80 e talvez por isso me soe mais leve e descontraído. Nota muito positiva para "The Adults Are Talking", "Brooklyn Bridge to Chorus", "Bad Decisions" e "At The Door". Confesso que sinto falta das guitarras vibrantes dos primeiros tempos, mas a música não é estática e os The Strokes também não. E prova disso é também a performance de Julian Casablancas, que se mostra bastante versátil e completo a nível vocal. "The New Abnormal" é um disco, à falta de melhor expressão, «effortlessly cool» que prova que Casablanca e companhia ainda têm muito para acrescentar.
Leithauser tem uma daquelas vozes que eu acho que são «do caraças». Que conseguem transmitir todo o tipo de emoções e que nos surpreendem sempre com tamanha versatilidade. O novo disco traz histórias de pessoas comuns envoltas em melodias cheias de charme e letras que nos inspiram a ser melhores pessoas. Há algo de nostálgico, de familiar e de real neste disco. É honesto e genuíno e por isso sabe sempre bem ouvi-lo.
A Pitchfork deu-lhe 10 valores (e eles quase nunca dão 10) e foi o descalabro nas redes sociais. Eu assumo que, quando ouvi o disco pela primeira vez, não soube bem o que pensar. Adoro a Fiona, a voz dela é incrível e de uma expressividade tremenda que mexe sempre comigo. Mas tive de ouvir o disco inúmeras vezes para compreendê-lo. É visceral, directo, frontal, com as emoções à flor da pele. Às vezes demasiado. E ela apresenta-se intensa, totalmente intensa. Umas vezes vulnerável, outras urgente, por vezes sensível, outras tantas desassossegada. As melodias são fora da caixa, mudando constantemente de rumo. E ela acompanha. Ou vice-versa.
Ainda hoje não sei bem como classificar o que ouço. Ali entre o sinfónico e o experimental, está "Fetch The Bolt Cutters". Desconcertante e cativante, vulnerável e forte. E mais um para a (minha) lista de discos do ano.
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