A (longa) primavera dos The Gift

Sim, eu gosto dos The Gift. Desde o primeiro álbum. Desde o primeiro concerto. Amo o "Vinyl", sou viciada no "Film" e no "AM-FM". E não lhes virei as costas no "Explode" e no "Primavera" porque há momentos de rara beleza musical. E claro, sempre admirei a sua carreira, desde o tempo em que faziam tudo sozinhos, até hoje, em que são embaixadores da música que se faz por cá e são capazes de encher salas em Espanha e no Brasil.

Gosto. E por isso não me fiz de difícil quando ouvi falar do concerto no Coliseu dos Recreios.

Quem já os viu, sabe que eles dão tudo em palco, e que transformam os concertos numa festa. E ontem não foi excepção. Ao longo de três horas - sim, três - levaram o Coliseu ao rubro sob a batuta do mestre Álvaro Costa - esse mesmo, da Antena 3. Como se de uma peça de teatro se tratasse.
  

Acto 1: a abertura, com a belíssima "Black", tema instrumental do "Primavera" fazia antever uma primeira parte dedicada ao último registo, que, confesso, não me desperta grandes emoções. Gosto dos arranjos, das variações da "Primavera", mas de resto, não me prende. E se não fosse a fantástica interpretação da Sónia Tavares - de vestido preto e sapatos azuis - no tema "Are You Near" (do AM-FM), teria sido uma primeira parte assim-assim. Mesmo com o cair do pano ao som de "Fácil de Entender" em versão acústica, com o Nuno Gonçalves a apresentar-se com um piano portátil. Fim da primeira parte.


Acto 2: Álvaro Costa declama a continuação da magia - os The Gift apresentam-se no camarote presidencial para o momento intimista, com canções antigas. Momento de arrepio número 1: "Five Minutes Of Everything", um dos melhores temas de "Film", apreciado do ínicio ao fim por todos nós. Mal me consigo recompor e momento de arrepio número 2: "Me, myself and I", do meu querido "Vinyl". Pelo meio, com a simpatia que os caracteriza, e a interacção do costume, Sónia teve o seu momento "Evita Péron". Fim da segunda parte.


Acto 3: De novo, Álvaro Costa, para iniciar o momento de festa. Com os temas mais conhecidos e mediáticos. Pano branco a cobrir o palco, luzes coloridas. Vem aí a explosão. Escutam-se os primeiros acordes de "Music", palmas e assobios. Num dos últimos refrães, cai o pano e o jogo de cores dos elementos da banda mostra-se ao público já rendido. Milhões de cores, milhões de sons. 


Regresso a um passado brilhante. "Front Of", "Waterskin", "1977", "Driving You Slow", "645"... Com todo o Coliseu de pé - ou quase - Sónia Tavares apresenta "RGB", seguindo-se "Made For You", "Race is Long", "Meaning of Life" e logo depois, momento de arrepio número 3: "Always Better If You Wait For The Sunrise" - o melhor tema de "Explode", o mais dark, mais carregado de emoção, ao mesmo tempo cheio de esperança e de força. Para o fim, "Singles", esse que é para mim o tema mais estranho da discografia da banda, mas que acaba por se entranhar. Uma canção a quatro tempos, quatro sons distintos. Fim da terceira parte.


Encore: Álvaro Costa em elogios rasgados aos artistas. Regresso aos palcos com um tema novo, ainda sem título definitivo. Simpático, poderoso - muito graças à voz de Sónia, com influências de "Explode". E depois, a surpresa. O tema que não pertence a nenhum dos álbuns: "In Repeat". Momento de arrepio número 4. Perfeito para encerrar uma noite de festa, um encontro entre amigos de longa data, fãs dedicados (e por vezes, demasiado entusiastas), uma despedida sentida, um até breve.

Gosto dos The Gift. Mesmo que já não seja cool. A força da voz da Sónia, a sua presença em palco cativam-me. Acho que o Nuno é um músico fantástico, está cada vez mais extrovertido, e isso fica-lhe bem, mesmo que por vezes tenha momentos goofy. Mas são esses momentos, em que são honestos, genuínos e espontâneos, em que partilham as suas estórias que fazem toda a diferença.

"Cause the beat will change your life, and the sweat will turn you on, and your veins will shine outside"

(The Gift, em "In Repeat")

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