A delicadeza brutal de "Snow", o novo de Angus & Julia Stone

Há já algum tempo que eu esperava por um álbum novo de Angus and Julia Stone, que sempre me conseguiram transmitir tanta coisa boa, desde que eu ouvi "Big Jet Plane", há 3 álbuns atrás. Afinal de contas, não é todos os dias que conseguimos encontrar alguém que consiga capturar tão bem a magia do mundo em notas de musica como os irmãos Stone.



Para quem nunca ouviu falar neles é simples: imaginem que estão na Austrália, que põem os Fleetwood Mac a tocar, e que lhe misturam algum folk, algumas notas de blues e bastantes "pózinhos de perlimpimpim", junto com guitarras que acalmam até as vesículas mais nervosas e duas vozes que, de tão antagónicas, se completam... et voilá, só falta pôr o disco a tocar, até porque o mundo fica muito mais bonito.
Snow é uma simbiose única: o contraste/complemento das vozes de Angus e Julia dão vida às maravilhosas letras e criam uma magia única que só pode acontecer com estes dois, que são daquelas bandas que me lembram que o belo pode existir por si só. 


O álbum começa com a musica que lhe dá o nome, "Snow", uma musica etérea e mágica, que nos traz um beat que não é o mais característico dos irmãos Stone, mas que, por outro lado, nos continua a fazer ter a certeza da cumplicidade única que os une. No mesmo alinhamento, "Who Do You Think You Are" traz-nos uma faceta mais electrónica e mais ritmada, com o som das teclas em contraste directo com as guitarras e o baixo, da mesma forma que as vozes de Angus e Julia criam contraste entre si. Aqui, Angus assume a liderança e a voz, o que acontece quase sempre quando a música e a própria letra são mais duras. "Who Do You Think You Are" é uma das minhas preferidas de Snow, talvez até por causa disso mesmo.


Num momento mais melancólico e mais caustico, aparece "Nothing Else", que me lembra em muitas coisas o clássico "Big Jet Plane", referencia incontornável sempre que falamos em Angus & Julia Stone.



Outro dos melhores momentos de Snow, "Chateau", cheio de influências de Bon Iver, e que, para mim é uma das musicas mais completas do álbum: a entrada é genial, o complemento dos dois é genial, a letra também e a "pausa" a meio da música cria a base para a explosão de magia. "Chateau" é uma música urgente e marcante, como acontecia com alguns dos temas do álbum anterior, de que vos falei aqui, e que me faz ter tanta afinidade com a linguagem que os irmãos Stone usam na sua música.


Outro dos meus momentos preferidos do álbum é "Bloodhound", ainda que seja algo que dificilmente associaríamos aos irmãos Stone: mais bluesy, mais melancólica, com as guitarras muito marcadas e onde Angus está irrepreensível no que diz e na forma como o faz. Acho que, em Snow, a única outra vez em que acontece uma coisa tão próxima da profundidade de "Bloodhound" é em "Make It Out Alive", que me parece a mim ser quase um momento de poesia acompanhado de música de fundo: a forma como Angus fala, o próprio sotaque e a postura dão-lhe um carácter de "happening", um momento mesmo muito especial. Julia, mais uma vez, aparece aqui como uma ninfa quase mágica, que ajuda a tornar esta música num momento de prazer auditivo inexplicável.


Acabo os meus destaques deste Snow a falar de "Baudelaire", a primeira música de que eu gostei mesmo muito do álbum inteiro: adoro a crueza da voz de Julia em contraste com a postura aqui mais doce de Angus. A conjugação da vozes com a melodia é genial e é inconfundível, tem que ser de Angus e Julia e não pode ser de mais ninguém. A própria delicadeza dos instrumentos usados aqui (o piano, os sopros e a presença de uma orquestra) dá a "Baudelaire" uma grandiosidade ímpar.

No geral, Snow, é uma bela amostra da versatilidade dos irmãos Stone: se o ouvirmos do início ao fim, passamos por várias emoções e por muitos estados de espírito, quase sempre felizes. De todas as coisas que podiam ajudar a definir o álbum, acabo sempre por ir parar ao mesmo sítio, é quase imperativo que se fale sempre de "Cumplicidade", que acaba por ser uma das coisas que melhor os caracteriza.

Também as letras continuam a ser maravilhosas, e a linguagem que eles utilizam na sua música é mais do que suficiente para eu continuar a acreditar em magia. Mais importante do que isto tudo, uma das coisas que a mim mais me agrada é que eles continuam a ser "o" Angus e "a" Julia Stone e não um organismo que se transforma em qualquer coisa aborrecida e estática. Por isso mesmo, eu espero que eles continuem a juntar-se assim e a fazer música assim tão bonita.

"... Don't go wasting your time (Don't be scared of what you don't already know)..." em Chateau.

Sem comentários:

Imagens de temas por merrymoonmary. Com tecnologia do Blogger.