"Sleep Well Beast", sétimo capítulo dos The National
Desde 2013 que os The National não tinham nada de novo e tal ressentiu-se nos últimos concertos a que assisti. O disco novo era esperado há muito e traz de volta as melodias nostálgicas e complexas a que a banda já nos habituou.
O seu regresso acontece num período politicamente conturbado lá na América e, se formos bem a ver, no resto do mundo também. E isso reflecte-se no trabalho deles. Mas como parece redutor atribuir ao disco apenas carga política, falemos da música.
O seu regresso acontece num período politicamente conturbado lá na América e, se formos bem a ver, no resto do mundo também. E isso reflecte-se no trabalho deles. Mas como parece redutor atribuir ao disco apenas carga política, falemos da música.
"Sleep Well Beast" começa «de fininho», lentamente, como se para nos ir envolvendo, com "Nobody Else Will Be There" - que é seguramente uma das minhas favoritas. É a entrada perfeita neste (novo) mundo dos The National, só nosso e deles, abrindo caminho para a bateria irreverente e enérgica de "Day I Die".
As comparações com os primeiros discos são inevitáveis. Neste, o som está mais cru, mais intenso, menos polido que em "High Violet" ou "Trouble Will Find Me". Foi o que senti ao ouvir "The System Only Dreams In Total Darkness", o primeiro avanço. Confesso que não colou à primeira, provavelmente devido àquela guitarra distorcida, mas se escutarmos com atenção, o som dos «velhos» The National está lá, na letra, na melodia, na construção. Tal como em "Turtleneck", a mais punk que lhes ouvimos nos últimos tempos. É o som de "Boxer" e "Alligator", que conquistou praticamente toda a gente, a dizer «presente».
Ainda bem.
Ainda bem.
Ao longo do disco, Matt Berninger transporta-nos para o seu universo em permanente conflito. É romântico qb, é agitado e calmo, sempre à procura do (melhor) caminho, que é longo, para manter uma relação. E a sua voz continua a envolver-nos, a embalar-nos, a levar-nos ao fundo e a trazer-nos de volta à luz, por entre melodias bem construídas, organizadas, densas.
Com o passar do tempo, e com a idade a pesar, já não se fala de conquistas. O conceito chave nisto tudo é «still together» - basta ouvir "Walk It Back", "Born To Beg" ou "Guilty Party", outra das favoritas - que se poderá aplicar tanto à banda como à sua vida familiar. Aqui, "I'll Still Destroy You" e "Carin At The Liquor Store" são os melhores exemplos desse amadurecimento.
"Sleep Well Beast" é um disco em altos e baixos, onde os temas mais enérgicos alternam com os mais calmos, tal como (n)as relações. É caos e organização, é distorção e melodia, é certeza e incerteza, qual conflito interno. O tema título, que fecha o disco, é sinónimo disso mesmo, como se fosse um espelho de tudo o que se passa à nossa volta. E, ao mesmo tempo, o ponto de partida para o que há-de vir a seguir...
E nós cá estaremos para descobrir.
«Não acho que as canções possam criar mudanças políticas; acho sim que podem mudar um pouco os nossos corações e a forma como as nossas almas se compreendem.» (Matt Berninger ao Público)
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